quinta-feira, junho 03, 2010

Função e poder das pesquisas

Função e poder das pesquisas
Jornal do Brasil
O resultado do primeiro turno das eleições na Colômbia surpreendeu pela expressiva diferença entre as previsões feitas pelos institutos de pesquisas do país e a contagem oficial dos votos. O candidato governista, Juan Manuel Santos, aliado do presidente Álvaro Uribe, venceu o turno com 46,58%, mais do que o dobro da votação de seu maior adversário, Antanas Mockus, do Partido Verde, que amealhou 21,58% dos sufrágios. Nada mais distante dos prognósticos: os institutos colombianos indicavam um empate técnico entre os dois concorrentes, que disputarão o segundo turno, em 20 de junho. A discrepância surpreendente foi alvo de controvérsias e, em qualquer lugar do mundo, os eleitores desconfiariam de manipulação dos números, o que, até prova contrária, não ocorreu.
A explicação mais plausível é prosaica e não provém de teorias conspiratórias. Os institutos colombianos erraram pelo mesmo motivo que, tradicionalmente, erram os institutos de outros países vizinhos, como Peru, Bolívia e Equador: pela dificuldade de se auferir a preferência de cidadãos em várias regiões remotas do país, o que causa distorção, com a falta de representatividade da amostra.
A existência de institutos de pesquisas confiáveis é uma condição primordial para o exercício da democracia. Neste sentido, deve ser ressaltado o trabalho dos institutos brasileiros que, ao lado dos chilenos, são aqueles cujas previsões têm se mostrado, ao longo dos anos, as mais acertadas da região.
As pesquisas de opinião pública se transformaram em peça-chave na engrenagem das modernas democracias e um de seus elementos definidores, de acordo com estudiosos, entre eles o cientista político francês Bernard Manin, criador da expressão “democracia de público”.
São várias as funções das pesquisas. E elas vão muito além da previsão dos resultados das urnas, última etapa do processo eleitoral. Muito antes, servem para perscrutar as demandas da população em relação a políticas públicas, ajudam os candidatos a construírem seu discurso, enfim, funcionam como uma poderosa bússola para a classe política reduzir o clima de incerteza e se movimentar. Com elas é possível ativar temas de campanha até então insuspeitos. Com elas tem-se um instrumento para a formação de alianças, que tanto pode ser uma arma para barganha política quanto a prova dos nove para a resolução de conflitos.
É o que está ocorrendo agora, por exemplo, no arrastado impasse entre o PT e o PMDB, em Minas Gerais. A aliança nacional entre os dois partidos está em compasso de espera, aguardando a definição do cabo de guerra no estado. O PT regional quer que a cabeça de chapa ao governo seja ocupada pelo ex-prefeito de BH, Fernando Pimentel. O PMDB quer garantir a vaga para o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa. Na falta de acordo, combinou-se que as pesquisas indicariam o escolhido. Pimentel levou vantagem. Mas dentro da margem de erro. Para desempatar, o petista quer que a taxa de rejeição, que lhe é favorável, seja o critério. O PMDB recusa. A disputa continua. Não por culpa das pesquisas.

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