segunda-feira, junho 07, 2010

Mais do mesmo em Israel

Mais do mesmo em Israel

Acompanhei o desenrolar da viagem do MV Raquel Corrie, integrante da flotilha da paz, a Gaza. Como era de se esperar, o navio batizado em homenagem a uma pacifista americana atropelada propositadamente e morta por um buldozer do exército israelense não pode chegar ao seu destino. Ainda em águas internacionais, foi abordado por soldados de Israel, que invadiram a embarcação, detiveram seus tripulantes e apresaram o barco, repetindo o ato de pirataria na semana passada, levando- ao porto de Ashdod. Lá, a carga com ajuda humanitária foi desembarcada, analisada e apreendida. O regime de Netaniyahu e Liberman quer impedir que o Hamas tire proveito dessa ajuda humanitária - e é ingenuidade achar que a organização árabe não usa essa tática. Os dois antagonistas se equivalem pelo aspecto moral. Um pelo método, outro pelo princípio.

Hoje li que Netanyahu rejeitou o pedido de uma investigação internacional a respeito dos incidentes que culminaram com a morte de 9 tripulantes turcos e o desaparecimento de outros seis, todos do MV Marmara, que também integravam a flotilha da paz. Iara Lee, a cineasta brasileira que integrava a tripulação de "terroristas", como o racista Liberman classificou todos a bordo, contou que os militares israelenses que invadiram seu navio atiraram em ativistas feridos. Ouvi isso em seu depoimento à Globo, mas não vi repercussão dessa acusação. Também não se falou muito desses que desapareceram. É uma pena, porque isso torna ainda mais grave tanto o episódio sob o ponto de vista do direito internacional quanto da sua aplicação penal.
Os piratas fardados da IDF mereciam estar no banco dos réus no Tribunal Penal Internacional, fazendo companhia ao pirata somali capturado pelos americanos em uma operação de resgate no Chifre da África. O fato de o regime de Israel rejeitar uma investigação independente, que seria conduzida por um perito irlandês em direito marítimo, é a melhor atribuição de culpa para a formação das responsabilidades. Quem não deve, não precisa temer, mas nesse caso, as autoridades israelenses assinaram uma confissão de culpa, contrariando todo o esforço de relações públicas e defesa conduzido na semana passada. 
Eu mesmo recebi, de diferentes fontes e várias vezes por dia, emails para ajudar a "explicar" os incidentes sob a ótica de quem cometeu o delito. Um deles, inclusive, rogava para que judeus de todas as listas dessem page views a vídeos oficiais postados no YouTube, já que o site iria retirar do ar, "por falta de acessos", as imagens que traduziam a versão de Israel. Se ninguém queria ver tais imagens, é porque elas não acrescentariam credibilidade à explicação para a selvageria. 
O direito de defesa é importante, devo ressaltar. E justamente dado o esforço das embaixadas, federações, de certos blogueiros engajados, deveria conduzir à formação de provas para que os israelenses chegassem à essa investigação de forma a poderem sustentar a sua versão. Como os EUA estariam na comissão também, Israel já saberia de antemão que nenhuma medida mais concreta de reprovação sairia desse inquérito. No máximo, os militares envolvidos seriam acusados e encaminhados a uma corte interna para julgamento.
Ainda acho que a repulsa dentro de Israel ao que aconteceu acabará funcionando para ajudar a reprimir a fúria corsária do governo mais truculento, inábil, racista e inconsequente que o Knesset já formou. Rogo para que os israelenses que protestaram veementemente - vi a capa do Haaretz nos dias seguintes ao ataque - continuem a exercer tal pressão. É preciso expurgar o país dos Netanyahus, Baraks, Olmerts e Libermans da vida.

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