segunda-feira, junho 07, 2010

'Soy loco por ti, Hugo Chávez'

'Soy loco por ti, Hugo Chávez'

Imparcialidade, visões contraditórias? O diretor americano Oliver Stone não está nem aí para isso. Seu cinema pretende-se engajado. E se for popular e polêmico, como seus sucessos Platoon (1986), sobre a guerra do Vietnã, e JFK (1991), sobre o assassinato do presidente John Kennedy, melhor ainda. A fórmula aparece em sua versão mais bruta no longa Ao Sul da fronteira, que entrou em cartaz no fim de semana. Depois de uma carreira dedicada a assuntos e personagens americanos, como Nixon (1995) e Bush (W, 2008), Oliver Stone olha para além de suas cercanias e descobre a América Latina. A emergência de governos de esquerda pelo continente, nos últimos anos, é o tema do documentário do diretor, que viajou por sete países entrevistando seus governantes: Evo Morales (Bolívia), o casal Kirchner (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai), Lula (Brasil), Rafael Correa (Equador), Raúl Castro (Cuba) e Hugo Chávez (Venezuela), o grande protagonista do filme. 
Stone eleva Chávez quase à condição de herói da região, um novo Che Guevara, que tem a coragem de ir contra o sistema e liderar um movimento socialista, o bolivarianismo, capaz de dar, pela primeira vez, autonomia política e econômica aos países latino-americanos, historicamente coagidos pelo poder imperialista americano. Há muitos acertos. Mas que não se espere nuances. Oliver Stone está fechado com a causa. Tal como o visitante que não quer desagradar o dono da casa, o diretor evita perguntas difíceis, constrangedoras. Sempre levanta a bola. Exceto quando, talvez por um laivo de machismo, ou de reminiscências folclóricas sobre ex-primeiras-damas de países subdesenvolvidos, resolve perguntar para Cristina Kirchner quantos pares de sapatos ela tem. De pronto, a presidente argentina rebate: “Você não faria esta pergunta a um homem”. Não, Cristina não é Imelda Marcos. 
O Brasil é apresentado como o lugar onde as mudanças representadas pela ascensão da esquerda foram “mais políticas que estruturais”.
Hugo Chávez é definitivamente o mocinho. Oliver Stone passeia com o líder pelas ruas, em carro aberto, para provar sua popularidade; reconstitui sua trajetória; vai à casa de infância, onde Chávez – tal qual o personagem homófono da comédia pastelão de TV – sobe numa bicicleta e acaba quebrando o brinquedo num passeio pelo quintal; e refaz sua trajetória política. Aqui, Ao Sul da fronteira deixa a desejar, em muito, ao excelente documentário irlandês A revolução não será televisionada, que mostra, de forma bem menos tendenciosa, porém vigorosa, as entranhas do golpe de Estado que Chávez sofreu em 2002. Não que Stone devesse ser imparcial. Mas as comparações são inevitáveis e, nesse estilo, o diretor acaba por parecer um sub-Michael Moore.

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