Há vários anos, um pesquisador de casamentos – Robert W. Levenson, diretor do laboratório de psicofisiologia da Universidade da Califórnia, Berkeley – e seus colegas produziram um vídeo de 10 casais conversando e discutindo. Levenson sabia na época que cinco dos casais haviam tido relacionamentos problemáticos e acabaram se divorciando. Ele mostrou o vídeo para 200 pessoas, incluindo pastores, terapeutas de casais e cientistas de relacionamentos, e pediu que eles identificassem os casamentos fadados ao fracasso. Eles erraram na metade das vezes. De fora, as pessoas não sabem dizer como os casamentos de fato estão funcionando”, diz ele. Mesmo assim, os pesquisadores ficaram cada vez mais fascinados com o funcionamento dos casamentos de longa data, e submeteram os casais a uma bateria de testes de laboratório e até a ressonâncias magnéticas do cérebro para desvendar o mistério do amor duradouro.
Bianca Acevedo, uma pesquisadora de pós-doutorado da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, estuda a neurociência dos relacionamentos e começou a pesquisar casais que estão juntos há muito tempo e que continuam loucamente apaixonados. Através de uma enquete por telefone, ela coletou dados sobre 274 homens e mulheres que estão em relacionamentos sérios, e usaram escalas de relacionamento para medir a felicidade conjugal e o amor apaixonado.
Acevedo imaginava que descobriria apenas uma pequena porcentagem de casais que ainda permaneciam apaixonados. Para sua surpresa, cerca de 40% deles continuaram a registrar um nível alto na escala de romance. Os 60% restantes não estavam necessariamente infelizes. Muitos tinham níveis altos de satisfação no relacionamento e ainda se amavam, só que com menos intensidade.
Num estudo diferente, 17 homens e mulheres que estavam apaixonados concordaram em passar por exames para determinar como o amor romântico duradouro se manifesta no cérebro. Os sujeitos, que na média estavam casados há 21 anos, olhavam para um foto de seu cônjuge. Para controle, eles também viam fotos de dois amigos. Comparado à reação que tinham quando olhavam para os outros, ver a foto do cônjuge ativava partes do cérebro associadas com o amor romântico, da mesma forma que aconteceu quando casais que haviam acabado de se apaixonar faziam o mesmo teste. Mas nos casais mais velhos, os pesquisadores descobriram algo mais: as partes do cérebro associadas à ligação profunda também eram ativadas, sugerindo que o contentamento no casamento e a paixão no casamento não são excludentes.
“Eles tem sensações de euforia, mas também sentimentos de calma e segurança que sentimos quando somos ligados a alguém”, diz Acevedo. “Acho que isso é uma ótima notícia.” Então como é que esses casais mais velhos mantém o fogo aceso? Fora dos testes cerebrais, ficou claro que essas pessoas continuavam ativas na vida da outra. “Eles ainda estavam apaixonados e dedicados ao relacionamento”, diz Acevedo. “Isso é algo que parece diferente do casal Gore: eles disseram que estavam se distanciando.”
De fato, se há uma lição na separação dos Gore, é de que o casamento é um trabalho sem fim.
“Não quer dizer que você precisa estar o tempo todo temendo pelo seu relacionamento, mas você precisa renová-lo”, diz Stephanie Coontz, historiadora do casamento no Evergreen State College em Olympia, Washington. “Acho que o conselho que devemos tirar disso não é que os casamentos estão fadados ao fracasso, mas que você não pode deixá-lo de lado indefinidamente e fazer coisas diferentes sem prestar atenção ao próprio casamento.”
Uma pesquisa da Stony Brook University em Nova York sugere que os casais que fazem coisas novas e diferentes, juntos e com regularidade, são mais felizes dos que os que repetem os mesmos velhos hábitos. A teoria é que as experiências novas ativam o sistema de dopamina e imitam a química cerebral do amor no começo do relacionamento. Num novo estudo, os cientistas da Stony Brook farão com que casais joguem um videogame comum ou interessante juntos enquanto seus cérebros são analisados. O objetivo é ver como o fato de compartilhar uma experiência nova e desafiadora com o parceiro muda a ativação neurológica do cérebro.
Mas para aqueles de nós que não têm uma máquina para escanear o cérebro, há jeitos mais simples de descobrir se o relacionamento está crescendo ou está frustrado com o tédio. Entre as questões que você pode se perguntar estão: o quanto o seu parceiro é uma fonte de experiências interessantes? O quanto o fato de conhecer o seu parceiro o transformou numa pessoa melhor? No mês passado, com que frequência você sentiu que o seu casamento estava estagnado?
Se as respostas não forem exatamente as que você estava esperando, tome coragem. Do ponto de vista estatístico, o risco de divórcio diminui uma vez que você tenha passado da marca dos dez anos. De acordo com Betsey Stevenson, uma economista da Wharton School na Universidade da Pensilvânia, dados recentes do censo mostram que cerca de apenas 4% dos casamentos recém-terminados eram de casais que já tinham 40 anos ou mais de vida conjunta.
E vale a pena observar que os Gore se casaram nos anos 70, no começo de uma geração de casais que têm demonstrado mais problemas com casamentos do que qualquer outro grupo. Stevenson os chama de “maior geração de divórcios”. Escondido na discussão sobre o divórcio dos Gore está o otimismo inerente que a decisão representa. Coontz lembra de quando morava ao lado de um casal de 70 anos que se detestava tanto que, durante o verão, eles se sentavam no gramado ao ar livre, em lados opostos da casa. “Acho que é bom que as pessoas possam ir adiante e começar de novo antes que cheguem a esse nível de raiva e hostilidade”, diz ela.
Stevenson chamou a separação dos Gore de “a história do copo meio vazio”.
“Eles tiveram 40 anos de casamento, e tiveram o que, sob muitos aspectos, deveria ser considerado um casamento de sucesso”, diz ela. “O fato de que ambos possam olhar para a frente e ver um futuro promissor sem estarem juntos – é uma pena que a resposta seja 'sim', mas também é uma celebração de quanto otimismo eles têm para o resto de suas vidas.”
*Tara Parker-Pope escreve a coluna “Well” para o “The New York Times” é é autora de “For Better: The Science of a Good Marriage” [Algo como “Para o melhor: A Ciência do Bom Casamento”], que foi lançado no mês passado pela editora Dutton.
Tradução: Eloise De Vylder
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