quinta-feira, junho 24, 2010

Rotas do tráfico de drogas, o maior desafio

Rotas do tráfico de drogas, o maior desafio
Relatório divulgado pela ONU indica que países como o Brasil se consolidaram como caminho de exportação
Fábio Fabrini

BRASÍLIA. A variedade de drogas à venda no mundo só cresce, a estrutura do tráfico se complexifica e, por onde estende seus tentáculos, alimenta conflitos. Relatório apresentado ontem pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostra que, apesar dos esforços do planeta, recentes mudanças na produção, no comércio e no perfil de consumo dos entorpecentes aumentaram os desafios dos governos na área.
Enquanto a cocaína perdeu espaço nos Estados Unidos - seu principal mercado -, na Europa o número de usuários dobrou. O pó já movimenta US$34 bilhões anuais no Velho Continente, ante US$37 bilhões nos EUA. Países da África e da América do Sul, como o Brasil, se consolidaram como rota de exportação para nações como Inglaterra, Itália e Espanha, o que tem impactado as suas estatísticas de violência. Em todo o mundo, é crescente a demanda por substâncias sintéticas, como as anfetaminas e o ecstasy, de mais difícil repressão.

Combate a cartéis favoreceu os Estados Unidos
Conforme o relatório, cada vez menos adultos americanos usam cocaína. Somente entre 2007 e 2008, o número caiu de 9,6 milhões para nove milhões. Na Europa, a quantidade sofreu um salto: eles eram dois milhões em 1998 e, em 2008, passaram para 4,1 milhões.
O combate aos cartéis de droga na Colômbia, maior produtor mundial, favoreceu a reviravolta nos EUA. Contudo, obrigou o tráfico a diversificar suas rotas. Se antes a exportação era praticamente direta, pelo Pacífico ou Golfo do México, agora os chamados "países de trânsito" ganharam importância estratégica. Antes de seguirem para os EUA, o pó e sua pasta base fazem escalas no Brasil ou Venezuela. A rota europeia inclui países do Sul e do Oeste africanos.
Segundo o relatório, 51% dos carregamentos de drogas enviados da América do Sul para Europa pelo mar partem da Venezuela. O Brasil responde por 10%. Esse fluxo tem efeitos perversos para os países. Na Venezuela, as estatísticas de homicídio explodiram. Para a ONU, é preocupante a atuação de organizações semelhantes às Farc no país de Hugo Chávez, como a Frente Bolivariana de Libertação.
"Esses grupos têm sido efetivamente cooptados pelo governo, mas mantêm células armadas, inclusive ao longo das fronteiras com a Colômbia, Equador e Brasil. O governo também começou a armar e a apoiar milícias civis (a reserva nacional). Esse tipo de movimento pode abastecer o crime organizado", diz o relatório.
No México, a onda recente de violência, acrescenta o estudo, está relacionada à disputa dos cartéis por um mercado que vivia de abastecer os EUA, mas vem encolhendo.

Fronteiras com o Brasil favorecem rotas
Na África, florestas têm sido desmatadas para dar lugar ao plantio de coca. Apesar disso, a área global do cultivo encolheu 5%. Para a Polícia Federal e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o fato de o Brasil fazer fronteira com os maiores produtores de coca do mundo - Colômbia, Peru e Bolívia - e sua extensão territorial favorecem a consolidação das rotas. Porém, o número de apreensões aumentou 21% de 2007 para 2008.
- É um dado positivo e vem ocorrendo na América do Sul como um todo. Indica que a repressão está funcionando - comenta Bo Mathiasen, representante do UNODC no país.

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