quinta-feira, junho 24, 2010

TRAGÉDIA: Cães farejadores utilizados no Haiti serão enviados a Pernambuco para localizar corpos das vítimas

TRAGÉDIA: Cães farejadores utilizados no Haiti serão enviados a Pernambuco para localizar corpos das vítimas
Saques, o novo temor nas cidades alagadas
Letícia Lins e Odilon Rios*

RECIFE e UNIÃO DOS PALMARES (AL). Os saques são o novo temor provocado pelas chuvas em Pernambuco, onde, além das mortes, foram destruídas 11.407 casas, 79 pontes e mais de mil pequenos açudes, e danificados 2.103 quilômetros de estradas asfaltadas e dez mil quilômetros de estradas vicinais. A população de cidades como Barreiros e Palmares reclama de ataques a lojas e mercados.
- Em Palmares, os comerciantes estão dormindo em suas lojas, no escuro e sem água, para tomar conta das mercadorias que restaram. Houve saques no mercado público, em mercadinhos, em lojas de sapatos e de eletrodomésticos - contou Maria Cláudia Oliveira da Silva, comerciante e dona de uma gráfica, acrescentando que foram saqueados um carregamento de de água mineral e uma carreta de frango congelado.
Em Barreiros, a 110 quilômetros da capital, moradores informaram que os comerciantes também estão dormindo nas lojas. A cidade permanece sem água, porque não há luz na estação de bombeamento. Nos dois municípios, que estão entre os nove em estado de calamidade pública no estado, mulheres tentaram ontem resgatar comida de supermercados que foram inundados. Na praça de Barreiros, até sacos de pipoca e bombons eram tirados da lama.
Em Barreiros, onde o hospital municipal foi derrubado, chegou ontem um hospital de campanha da Aeronáutica, com capacidade para 400 atendimentos diários. O governo federal prometeu enviar outro a Palmares, a 125 quilômetros da capital.
Ontem, os ministros da Integração Nacional e da Defesa, João Santana e Nelson Jobim, sobrevoaram a região atingida com o governador Eduardo Campos (PSB). Santana informou que cães farejadores que foram usados no Haiti serão enviados a Pernambuco para localizar corpos. Mas não havia ontem reclamações de desaparecidos no estado.

Governo de PE pede ajuda a transportadoras
Ontem à noite, o governo estadual fez um apelo para que empresas transportadoras cedam caminhões para levar alimentos até as vítimas da enchente. As doações estão chegando em grandes quantidades, mas não há transporte para levá-las. A Comissão de Defesa Civil de Pernambuco informou que já distribuiu mais de 266 toneladas de donativos para as cidades atingidas e que 15 caminhões estão saindo diariamente do Recife para o interior. Quase 191 toneladas de alimentos e 60 toneladas de água foram entregues.
Na tarde de ontem, em União dos Palmares, em Alagoas, moradores aguardavam o resultado do trabalho de uma máquina retroescavadeira que revolvia a terra atrás de corpos, a poucos metros do rio Mundaú. Ao lado do rio, em uma das cabeceiras da ponte, o dono de um mercadinho e o filho haviam tentado salvar as mercadorias para o primeiro andar do local, mas toda a estrutura fora arrastada pela força da água. O corpo do proprietário foi encontrado há dois dias, debaixo dos escombros de uma escola estadual; o do filho está desaparecido. A mãe está internada em um hospital de Maceió, sob efeito de sedativos.
Em União, a chuva destruiu ruas onde moravam três mil pessoas em 500 casas, segundo sobreviventes. Bombeiros reclamavam do cansaço nos trabalhos. José de Araújo Batista, de 69 anos, um dos 50 empregados de uma fábrica de leite destruída, não acreditava que voltaria a trabalhar.
- Acabou-se tudo, não posso ficar desempregado. O pessoal precisa trabalhar lá - disse.
Na estrada, máscaras contra o cheiro de decomposição
A estrada de asfalto às margens do rio Mundaú ligando o município a outra cidade atingida, Santana do Mundaú, tornou-se uma via de lama. Guardas de trânsito tentaram organizar o caos de carros. Pessoas andavam com máscaras no rosto por causa do cheiro de decomposição no ar.
Em Rio Largo, depois da enxurrada que contorceu os trilhos do trem e arrastou dormentes pesando 500 quilos, o dia era de sol e reconstrução. Em Branquinha, onde trilhos também foram retorcidos, a prefeita Ana Renata Freitas Lopes quer pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega a Alagoas nesta quinta-feira, a mudança dos limites geográficos da cidade, completamente destruída. Ana Renata quer que Branquinha possa se afastar do rio Mundaú.
* Especial para O GLOBO

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