quinta-feira, junho 24, 2010

Transporte já pesa no bolso o mesmo que alimentação

Transporte já pesa no bolso o mesmo que alimentação
Renda sobe, mas 75% dos brasileiros não fecham as contas no fim do mês
Danielle Nogueira – O Globo

Os gastos com transporte cresceram e já se igualam aos de alimentação, segunda fonte de despesas no orçamento das famílias brasileiras. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009 do IBGE, o segmento de transporte respondeu por 19,6% do total das despesas com consumo, ante 18,4% em 2003. Já a fatia de gastos com alimentação foi de 19,8% em 2008/2009, menor que os 20,8% registrados seis anos atrás. Um padrão de consumo considerado incompatível com países em desenvolvimento, na opinião de especialistas.
Os caminhos contrários que as despesas com transporte e alimentação trilharam nos últimos seis anos resultam, principalmente, do aumento do poder de compra da população e da política oficial de incentivo à aquisição de veículos, cujas vendas têm batido recordes.
Compra de veículos: 43% dos gastos com transporte Das despesas com transporte em 2009, 43% estão relacionadas à aquisição de carros, segundo o IBGE. Itens como gasto com gasolina para uso próprio também têm forte peso nas despesas.
Respondem por 16,25%.
Já o uso de transporte urbano tem participação mais tímida, de 13,75%. Mesmo quando consideramos famílias com renda baixa (de até R$ 830), é possível perceber o peso dos gastos com compra de veículos (24,7%), embora menor que os gastos com transporte urbano (39%).
— Outros produtos estão ganhando espaço no padrão de consumo da sociedade brasileira.
A alimentação perdeu espaço porque em uma sociedade que progride, desembolsamos menos com os elementos básicos. E outros padrões de consumo vão surgindo, como o celular, quase universalizado, e o uso do sistema de transportes — diz Eduardo Nunes, presidente do IBGE.
O que aparentemente é uma boa notícia, contudo, esconde deficiências do transporte público, na avaliação de Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral.
— A falta de transporte coletivo de qualidade estimula o uso individual do carro. Esse padrão de consumo, com gastos de transporte se igualando às despesas com alimentos, não é compatível com a realidade de países em desenvolvimento — diz ele, acrescentando que na Índia os gastos com transporte representam cerca de 10% do orçamento das famílias e nos EUA, onde a renda per capita é bem mais alta, o índice gira em torno de 15%.
Paulo Fleury, presidente do Instituto Ilos da UFRJ, concorda.
Para ele, há uma desorganização do transporte público, que só pode ser solucionada com mais investimentos no setor, especialmente na expansão das linhas do metrô, que reduziriam os congestionamentos nas grandes cidades e as emissões de poluentes.
— Os R$ 36 bilhões que querem investir na construção do trem-bala seriam suficientes para construir 500 quilômetros de linhas de metrô.
Especialista alerta para maior emissão de poluentes Fleury lembra ainda que a aquisição de veículos dá status.
O crédito facilitado e o IPI reduzido para carros em 2009 — medida adotada pelo governo federal para frear os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira — contribuíram para saciar o desejo de consumo do brasileiro, diz.
Resende alerta, porém, para um efeito colateral desse movimento.
Com o aumento do poder aquisitivo da camada social mais baixa, muitos compraram carros de segunda mão, contribuindo para a não renovação da frota: — Isso tem consequências para o meio ambiente. Um carro velho emite 30% mais poluentes que um novo.

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