quarta-feira, agosto 11, 2010

Em contexto: Israel e os imigrantes não judeus

Em contexto: Israel e os imigrantes não judeus
Para enxergar além dos fatos
Juliano Machado - época
PROTESTO
Em Tel Aviv, famílias de trabalhadores estrangeiros exibem cartazes contra o plano do governo de deportar pais e filhos ilegais

Até o fim do mês, o destino de centenas de famílias de trabalhadores estrangeiros ilegais, incluindo até mesmo as crianças nascidas em Israel, pode ser a terra de origem. O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que, em até 30 dias, deportará, com seus pais ou mães estrangeiros, as crianças e os adolescentes que não se encaixarem numa lista de critérios. Entre os requisitos, eles têm de estar matriculados na rede de ensino israelense; saber falar hebraico; estar morando ao menos cinco anos consecutivos em Israel; ainda não ter concluído o ensino médio. A estimativa é que ao menos 400 crianças estariam sujeitas à deportação. Por que Israel expulsaria quem não tem nenhum elo com a terra dos pais e, naturalmente, preferiria permanecer no país onde nasceu ou está crescendo?
Israel tem hoje 7,6 milhões de habitantes. De acordo com a classificação oficial adotada pelo governo israelense, três quartos deles são judeus, e os demais são, em sua maioria, árabes com cidadania israelense. Os imigrantes que vêm trabalhar ilegalmente no país começam a engrossar as estatísticas – são 255 mil, dos quais 125 mil ilegais, segundo o governo. Deportar as famílias seria uma forma de desestimular a entrada de mais clandestinos.
Há, porém, outro fator em jogo. A população judaica em Israel já foi, proporcionalmente, bem maior (leia o quadro abaixo). Essa queda, acentuada nos anos 90, tem tornado a questão demográfica um tema explosivo na política interna israelense. Ao anunciar a medida, o próprio Netanyahu citou “considerações sionistas” e a preocupação de “assegurar o caráter judaico do Estado de Israel”. A coalizão de Netanyahu inclui partidos da ultradireita, como o Shas, que consideram os imigrantes não judeus uma ameaça ao ideal de Israel como pátria judaica – o princípio do movimento sionista, fundado por Theodor Herzl (1860-1904). É do Shas o ministro do Interior, Eli Yishai, responsável por assuntos imigratórios. Numa tirada preconceituosa, ele já se referiu aos imigrantes como “fonte de uma profusão de doenças e vícios”.
A maioria das famílias sob risco de deportação veio de países pobres do Leste Europeu, do Sudeste Asiático e da África. Elas chegaram a Israel a partir dos anos 90. Na época, a primeira intifada, o levante dos palestinos contra a ocupação israelense de Gaza e Cisjordânia, reduziu a oferta de palestinos que saíam desses territórios para trabalhar em Israel. A solução adotada pelo governo israelense foi preencher esse mercado com imigrantes filipinos, tailandeses, etíopes, moldávios. Eles receberam vistos de trabalho de até cinco anos, mas a maioria se fixou no país depois que o prazo expirou.
Enquanto as famílias ilegais devem sair do país, outros 30 mil estrangeiros entraram legalmente em Israel no ano passado. Para que eles não venham a ser deportados daqui a alguns anos, Israel precisa achar uma saída melhor para o dilema entre precisar de mão de obra e coibir a clandestinidade. Nas palavras de John Gal, professor de políticas sociais da Universidade Hebraica, em Jerusalém: “Deportar crianças não vai resolver nada enquanto não tivermos uma política de imigração clara para não judeus”. 

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