quarta-feira, agosto 11, 2010

Políticos no tempo dos militares

Políticos no tempo dos militares

Aristóteles Drummond *, Jornal do Brasil
RIO - Quando as coisas andam mal no Brasil contemporâneo, tornou-se comum – e desonesto em função da idade média da população – atribuir ao período militar (1964-1985) a culpa de tudo. A mais recente é que a qualidade de nossos políticos é ruim por causa dos militares, aproveitando-se do desconhecimento da maioria. E não divulgam os nomes daqueles que apoiaram os militares, em algum momento, entre os melhores no seu tempo.
Para começar, é impressionante a relação dos presidentes das duas casas do Congresso Nacional e dos ministérios mais importantes. Uma seleção de grandes brasileiros, respeitados, admirados e reconhecidos. Pode-se lançar um desafio de qualquer tipo de acusação ética, moral ou de competência a eles. Nada os atingirá. Só temos motivos para admirá-los e não esquecê-los.
No Senado Federal, por exemplo, a lista de presidentes ilustres é imensa. São exemplos: Gilberto Marinho, eleito duas vezes pelo Rio antes de 64; João Cleofas, anteriormente governador de Pernambuco; Petrônio Portela, antes governador do Piauí; Luiz Vianna Filho, baiano, membro da Academia Brasileira de Letras; Magalhães Pinto, antes governador de Minas e chanceler de Costa e Silva; Jarbas Passarinho, governador do Pará; Nilo Coelho, governador de Pernambuco. E exerceram mandato no período militar, mesmo que na oposição, vultos do porte e da respeitabilidade de Antonio Carlos Konder Reis, Daniel Krieger, Dinarte Mariz, Amaral Peixoto (este pela oposição e depois presidindo o PDS), Benedito Valadares, Gustavo Capanema, Itamar Franco (eleito pela oposição em 74 e, mais tarde, governador e presidente da República), Murilo Badaró, Tancredo Neves e Paulo Brossard entre outros. Além de José Sarney, senador na Arena e presidente do PDS, que também foi presidente da República e presidiu o Senado duas vezes.
Ora, na Câmara dos Deputados, a relação de ilustres que a presidiram no período militar não é inferior. Bilac Pinto, Célio Borja, Ernesto Pereira Lopes, empresário paulista e homem de muito prestígio, José Bonifácio, Geraldo Freire. Quando que o nível caiu? Foi durante ou depois do período militar? Pode responder qualquer um dos veteranos da reportagem política nacional na ativa. Estes conhecem os políticos desde os anos 50, na intimidade.
No que toca a vices, existe equilíbrio de qualidade entre os dois períodos. Quase todos foram buscar nomes acima de qualquer suspeita em Minas Gerais. José Maria Alckmin, mais de seis mandatos de deputado, ministro de JK e vice de Castello; Pedro Aleixo, da UDN, com Costa e Silva; e Aureliano Chaves, ex-governador e deputado da UDN, com João Figueiredo. Depois, Tancredo escolheu José Sarney e FHC, Marco Maciel e os mineiros Itamar Franco e José Alencar, que foram as opções de Collor e de Lula, respectivamente. Todos de excelente nível.
Mesmo não querendo ficar na monotonia de nomes, e muito menos deprimir os leitores mais velhos ou mais informados do quem é quem na República, na comparação inevitável, lembro a seleção dos ministros não políticos com mandato, pelo menos até então, que deram musculatura aos governos militares para a formidável e inegável obra: Mario Henrique Simonsen, Delfim Netto, Roberto Campos, Gouvêa de Bulhões, Mário Andreazza, Cesar Cals, Ernane Galveas, Milton Campos, Helio Beltrão, Nascimento e Silva, Dias Leite, Ibrahim Abi - Ackel (grande parlamentar também), Mario Gibson, Juraci Magalhães , Marcos Pratini e tantos e tantos nomes inatacáveis e admiráveis.
Nos 25 anos após 85, temos tido figuras notáveis nos ministérios, mas não nesta quantidade e mérito. Por isso, a culpa da baixa qualidade de nossos políticos vem da falta de interesse numa reforma eleitoral séria, democrática, contemplando valores outros que não os financeiros, na definição constitucional de que o regime é presidencialista ou parlamentarista, pela sua dubiedade legal e pragmatismo real que vivemos e que provoca tantos conflitos.
Vamos para o Ficha Limpa, sem o casuísmo de retroagir para prejudicar. Vamos manter o eleitor informado e deixar de culpar um período que já é da história – mas de muita honra e dignidade no exercício da função pública. Por estas e outras é que, embora falem aqui e mintam ali, o povo, na sua sabedoria, continua a dedicar amor, respeito e confiança a seus militares.
E antes que venham com este negócio, que, aliás, virou negócio mesmo, de violência, vamos também lembrar que mortos existiram de ambos os lados, atos indignos na violência e covardia também. Mas, aí, a culpa é do ser humano, que, tomado pelo ódio, é capaz de tudo. A paz, o perdão, entretanto, também teve origem no lado militar, no presidente João Figueiredo, aprovado pelo Congresso Nacional, já sem o AI-5.
* Jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters