sexta-feira, setembro 10, 2010

O real forte

O real forte
Celso Ming - O Estado de S. Paulo - 09/09/2010
 A queda das cotações do dólar no câmbio interno (valorização do real) voltou a ser foco de críticas à maneira como o governo vem conduzindo a política cambial.
Às vezes, atacam até mesmo o sistema de livre flutuação, como parece ter sido o centro das acusações feitas pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra: "O câmbio no Brasil é flutuante só para baixo", disse ele durante a sabatina promovida pelo Estado, na última segunda-feira.
O conjunto de críticas de várias procedências não chega a ser coerente. Os mesmos que avisam que o câmbio baixo provoca desindustrialização, também fustigam a forte disparada das importações, como se isso não provocasse o efeito por eles pretendido, que é o aumento da procura de moeda estrangeira. Outras vezes, entendem que a compra de dólares pelo Banco Central, que já acumula reservas de US$ 262 bilhões, é insatisfatória diante das necessidades de criação de demanda para o dólar. Não lhes ocorre que o cacife em reservas é, por si só, fator de atração de dólares, uma vez que blinda a economia contra crises.
Desde dezembro de 2008, o real valorizou-se 35% diante do dólar (veja o gráfico). Não há apenas uma única explicação para isso. Em boa parte, foi o dólar que se enfraqueceu em relação às demais moedas, em consequência da deterioração das finanças públicas nos Estados Unidos. Em parte, deveu-se à manutenção de nível elevado dos juros, que atrai capitais para ganhar com a diferença do custo de dinheiro. E também é reflexo do fortalecimento da economia brasileira numa paisagem de crise internacional. Na semana passada, o Bank for International Settlements (BIS) publicou relatório que indicou o real como nova atração do mercado financeiro.
Outros críticos apontam como decisiva a existência de doença holandesa, ou seja, a crescente receita com exportação de commodities. Mas este não é fator relevante para entender a valorização do real, porque as importações avançam quase duas vezes mais do que as exportações.
O novo surto de valorização das últimas seis semanas tem a ver com a perspectiva de forte entrada de moeda estrangeira para a subscrição de capital da Petrobrás e não com a arbitragem com juros.
A proposta de volta ao câmbio fixo não faz sentido. Além de desarrumar a economia, exigiria enorme arsenal em reais que permitisse compras de moeda estrangeira pelo Banco Central, ou até mesmo pelo Tesouro, sem provocar inflação.
Mas há, sim, o que fazer dentro do atual regime de câmbio flutuante e sistema de metas de inflação para corrigir a excessiva valorização do real. Os juros precisam cair mais, não para estancar o afluxo de moeda estrangeira, e sim para ajustar o valor do real em relação a ele mesmo. Mas para que os juros caiam sem provocar inflação, será preciso conter o consumo interno causado pela disparada das despesas públicas. A queda do dólar também tem a ver com o desarranjo fiscal do País.
Em situação de normalidade não dá para esperar demais por uma virada na tendência do câmbio. Este é um país cuja dívida externa tem grau de investimento e os capitais estão agora prontos para aportar por aqui. Afora isso, é enorme a necessidade de recursos para infraestrutura, o pré-sal e a capitalização das empresas brasileiras. E isso puxa o real para cima.
CONFIRA
O segundo melhor mês A produção de veículos em agosto foi a segunda maior de todos os tempos. Foi menor apenas do que a de março deste ano, em que ainda vigorava a isenção de IPI para o setor.
Sem desindustrialização Nos 12 meses terminados em agosto, a produção cresceu 19,3%, e na acumulada do ano, 17,5%, números de produzir inveja nos países ricos onde a paradeira continua. Essa é também indicação de que não há o processo de desindustrialização tão denunciado nas últimas semanas pela liderança da Fiesp.

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