sexta-feira, novembro 12, 2010

Dilma acena com medidas no câmbio

Dilma acena com medidas no câmbio
João Domingos - O ESTADO DE SÃO PAULO
Presidente eleita diz que é ruim para o Brasil ter a moeda mais valorizada do G-20 e fala em ‘tomar todas as medidas possíveis’
SEUL, Coreia do Sul - A presidente eleita Dilma Rousseff disse que considera ruim para o Brasil o fato de o País estar na reunião do G-20, em Seul, com o título de detentor da moeda mais valorizada do grupo dos países mais ricos. "Isso não é bom para o Brasil. Vamos ter de olhar cuidadosamente, tomar todas as medidas possíveis", afirmou ela. Mas Dilma não quis adiantar quais medidas tomará.
"Se eu tivesse as medidas, não diria aqui", afirmou a presidente eleita, durante entrevista coletiva no hotel em que está, em Seul, cerca de duas horas depois de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual voltará sábado ao Brasil, no avião presidencial.
Dilma revelou que, ao contrário do presidente Lula, que foi à reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, assim que tomou posse, em 2003, ela não irá à próxima reunião do fórum, prevista para janeiro.
A presidente eleita disse também que não pretende fazer um giro internacional, para se apresentar. Talvez, vá a um ou outro lugar, afirmou, Dilma comentou ainda o fato de ter sido eleita pela revista Forbes a 16.ª pessoa mais importante do mundo, recusando o título de atração do G-20. "Olha, eu acho que atração é presidente no exercício do cargo. Presidente eleita não é atração, é notícia só."
Problema grave
Dilma disse que o problema do dólar fraco é grave. Mas não adiantou nada que possa fazer para tentar enfrentar a situação além das medidas que já vêm sendo tomadas pelo governo brasileiro, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para as aplicações no País provenientes do exterior.
"Acho que há uma questão que é grave para o mundo inteiro. Até o Alan Greenspan (ex-presidente do Banco Central americano, o Federal Reserve) está falando isso. Mas essa á uma questão que sempre causou problema, porque a política do dólar fraco faz com que o ajuste americano fique na conta das outras economias."
Em seguida, ela disse que terá uma posição similar à que está sendo defendida agora pelo governo do Brasil, que acusa os Estados Unidos de promoveram uma guerra cambial.
Para Dilma, a desvalorização do dólar gera um protecionismo camuflado. Quanto à sugestão encampada pelo Brasil, de substituir o dólar por uma cesta de outras moedas, Dilma disse que é mais uma posição entre as várias que surgiram sobre o assunto. O melhor, para ela, seria não haver desvalorização do dólar. "Essa seria a solução. Mas nós não controlamos o Federal Reserve."
A presidente eleita lembrou ainda que a moeda chinesa está muito desvalorizada porque está atrelada ao dólar.
Dilma reforça sinais de que vai manter Mantega no comando da Fazenda
Transição. Nos quatro dias que passaram juntos, desde a viagem do Brasil, o ministro deixou claro, segundo um interlocutor, que domina todas as informações de sua área e que apoia, como a presidente, um forte papel do Estado na indução do crescimento.
João Domingos ENVIADO ESPECIAL SEUL - O Estado de S.Paulo
A presidente eleita, Dilma Rousseff, tem dado todos os sinais de que manterá Guido Mantega no Ministério da Fazenda, como lhe sugeriu Luiz Inácio Lula da Silva. É a mostra de que pretende dar continuidade à política econômica de metas de inflação e câmbio flutuante, mas com a exigência de que os juros caiam progressivamente, para que cheguem a 2% até 2014.
Na convivência diária que teve com Mantega desde segunda-feira, quando viajaram juntos para Seul, Dilma se convenceu, segundo um interlocutor de ambos, de que o ministro tem o controle das informações sobre a economia e de que ele está no rumo da política que deseja imprimir ao setor, com o Estado fazendo o papel de indutor do crescimento econômico.
Nos últimos quatro dias, Dilma não deu um passo sem que Mantega estivesse ao seu lado. O ministro a pôs ao par de tudo o que estava ocorrendo no G-20, a reunião de cúpula dos países mais ricos, que termina hoje em Seul. Explicou-lhe que a posição brasileira é a de negociar com os Estados Unidos - e não só combater - na busca de uma forma que reduza a guerra cambial que está no auge, motivada pela decisão do governo norte-americano de emitir U$ 600 bilhões.
Ao se encontrarcom Dilma ontem, Lula, procedente de Moçambique, pôde perceber na presidente eleita a disposição de manter o ministro da Fazenda - o que para ele gerou certo alívio, visto que havia feito a sugestão e considera que Mantega é um ministro que dificilmente dá problemas.
Brincadeiras. Os três tiveram uma reunião a sós antes da entrevista na qual Lula falou a respeito das negociações no G-20. Mantega participou dessa coletiva e foi alvo de muitas brincadeiras de Lula, pois havia tomado quase a metade do tempo da entrevista para explicar o que o Brasil achava da situação e como deveria se comportar - já no governo de Dilma. Lula ficou ao lado, olhando-o com carinho e gesticulando.
Antes, indagada se já se havia decidido pelo nome de Guido Mantega, a presidente eleita afirmou, simplesmente, que ainda não começou a montagem do ministério. Mas, perguntada se deixara de fazer o convite porque a privacidade dos dois fora quebrada durante o voo entre São Paulo e Frankfurt, na segunda-feira, devido à presença de uma jornalista na cabine da primeira classe, a presidente eleita respondeu: "Ah, não. Tive todo o tempo do mundo para isso."
A manutenção de Mantega, no entanto, não garante a permanência de um de seus principais auxiliares, o titular da Receita Federal. Desgastado com a quebra de sigilo fiscal de familiares do ex-governador José Serra e do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, Otacílio Cartaxo não deve ser mantido. 

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