terça-feira, maio 25, 2010

A verdadeira história de Robin Hood

A verdadeira história de Robin Hood
O novo filme de Ridley Scott reacendeu o interesse pelo bandido que roubava dos ricos para das aos pobres. Mas esse personagem existiu de fato?
por Laurent Vissière
Em 1193, João Sem Terra rouba a Coroa da Inglaterra de seu irmão, o rei Ricardo Coração de Leão, que foi preso ao voltar das Cruzadas. O nobre Robin de Loxley, acusado injustamente de traição, se revolta e, assumindo o nome de Robin Hood, lidera a resistência contra o usurpador. À frente dos fora-da-lei da floresta de Sherwood, ele desafia os poderosos locais e impõe uma série de derrotas humilhantes ao xerife de Nottingham em nome dos oprimidos e da bela Marianne. Tudo parece fazer sentido, mas existiu um verdadeiro Robin Hood no século XII? Nem a época, nem o lugar e nem o próprio nome parecem corresponder aos registros históricos. 
O nome de Robin aparece pela primeira vez por volta de 1377, em um dos mais antigos clássicos da literatura inglesa, o poema #Pedro, o lavrador#, de William Langland. Um dos personagens da obra diz conhecer “muitas baladas sobre Robin Hood, mas nenhuma sobre Nosso Senhor ou a Virgem Maria”. Alguns anos depois, o autor de um tratado religioso se indignava, por sua vez, com a falta de fé do povo: “Eles preferem ir à taverna em vez de ir à Igreja, preferem escutar uma canção sobre Robin Hood ou sobre qualquer outro bandido em vez da missa”. 
Célebre desde o fim do século XIV, o personagem de Robin começa a despertar a curiosidade dos historiadores britânicos. Por volta de 1420, o cronista Andrew Wyntoun cita um certo Robin Hood e seu companheiro João Pequeno, bandidos “dignos de elogios”, que teriam atuado nas florestas de Inglewood e de Barnsdale durante a década de 1280. Outro cronista, Walter Bower, situa a ação do herói no fim da década de 1260. Em sua História da Grã-Bretanha, de 1521, John Mair apresenta uma nova versão da trajetória do personagem, afirmando que ele teria vivido na década de 1190, durante o reinado de Ricardo Coração de Leão, e descrevendo-o como um rebelde generoso, em guerra contra os ricos. Esses três autores visivelmente se inspiraram em diferentes versões de contos populares sobre um homem que, já no século XV, era mais um mito do que um personagem histórico propriamente dito. 
O personagem logo se tornou tema de um conjunto de cantigas muito populares, mas de difícil interpretação. As cinco que sobreviveram não passam de versões tardias, adaptadas e deformadas, de poemas mais antigos. Elas relatam a eterna luta entre Robin e o xerife de Nottingham, mas não dizem nada sobre as origens do herói, nem sobre como ele se tornou um fora-da-lei. A região onde ele atuou também é bastante incerta, e as referências ao período em que teria vivido são quase inexistentes, a não ser por uma exceção: Robin defende sua causa diante do “rei Eduardo”, que o perdoa e o incorpora a seu exército. Trata-se de Eduardo I (1272-1307), de Eduardo II (1307-1327) ou de Eduardo III (1327-1377)? Não se sabe.
Os feitos de um bandido tão audacioso, porém, deixaram rastros nos arquivos ingleses. O nome de “Robin Hood” de fato aparece nos registros do feudo de Wakefield, situado cerca de 40 km ao sul de Barnsdale. O personagem é descrito como um pequeno proprietário de terras na região entre 1316 e 1317, que teria se juntado à revolta de Thomas de Lancaster, primo do rei Eduardo II que se levantou contra o monarca em 1322.
Nessa época, os pequenos proprietários da região, arruinados por uma série de péssimas colheitas, pediram a ajuda do rei, que os ignorou. Com o apoio de seu senhor, Thomas de Lancaster, eles se rebelaram, mas foram massacrados pelo exército real. Os sobreviventes tornaram-se fora-da-lei e não tiveram outra opção a não ser se refugiar na floresta. 
No ano seguinte, Eduardo II percorreu as províncias do norte da Inglaterra para pacificar a região. Em Nottingham, o monarca perdoou um grupo de rebeldes, entre eles Robin Hood, que passou a lutar a serviço do rei. Essa versão da história do mítico bandido parece convincente e vários elementos contribuem para situar as aventuras de Robin nesse período: ele utiliza o famoso arco longo (longbow), que só se torna uma arma popular na virada do século XIII para o XIV, e se apresenta como o defensor dos fracos diante dos poderosos – o que se encaixa bem na péssima conjuntura econômica e social que marcou o reinado de Eduardo II. Esses elementos fornecem o contexto espacial e temporal das aventuras do herói: o norte da Inglaterra no início do século XIV. 
No entanto, é melhor evitar paralelos com épocas e situações muito precisas: os arquivos judiciários ingleses guardaram registros de inúmeros bandidos chamados Robin Hood, que atuaram em um período que vai, aproximadamente, de 1250 a 1350. O nome Robin (diminutivo de Robert) e o sobrenome Hood (capuz) foram bastante comuns na Inglaterra medieval, e “Robin Hood” se tornou uma expressão usual para designar os fora-da-lei a partir do século XIII, apesar de ninguém saber exatamente por que. Não se trata, portanto, de saber se houve um verdadeiro Robin Hood, mas sim de descobrir quantos deles existiram.

Laurent Vissière é arquivista, paleógrafo e professor da Universidade de Paris IV - Sorbonne.

FOTOS: Russel Crowe encarna o príncipe dos ladrões Brown/Universal Studios
Pequeno proprietário de terras, Robin de Loxley teria se juntado a uma revolta contra o rei Eduardo II da Inglaterra no século XIV Divulgação/Universal Studios

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