Abril.com – SP - 11/06/2010
sábado, junho 12, 2010
Endometriose: como enfrentar a principal causa da infertilidade feminina
Endometriose: como enfrentar a principal causa da infertilidade feminina
Abril.com – SP - 11/06/2010
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São Paulo, 10 (AE) - Desde pequenas, as mulheres ouvem que sentir cólicas menstruais é parte da natureza feminina. Porém, a cólica é um sinal de que algo não está indo bem e deve ser avaliada com muita atenção, porque pode ser um sintoma de endometriose, uma doença que afeta uma em cada dez mulheres em idade fértil, ou seja, cerca de seis milhões de brasileiras, segundo o IBGE. Mas o que é exatamente essa doença, considerada por muitos a principal causa de infertilidade feminina?
O útero de toda mulher é revestido, internamente, por uma camada de tecido chamado endométrio, local onde o óvulo, quando fecundado, aloja-se para iniciar a gravidez. Caso a gravidez não ocorra, o endométrio é expelido durante a menstruação. Em algumas mulheres, as células do endométrio podem aparecer e crescer fora do útero, estabelecendo assim a endometriose. De uma forma simples, podemos dizer que é a presença de endométrio, tecido que reveste a cavidade uterina e que é expelido durante a menstruação, fora do útero.
As causas da endometriose ainda não são totalmente conhecidas, mas as mais prováveis são a genética, o fluxo menstrual retrógrado (saída de uma pequena quantidade de sangue menstrual pelas trompas uterinas), a imunidade e o estresse. Alguns indícios sugerem que mulheres ansiosas, com alto grau de estresse estão mais propensas a desenvolver a doença. Porém, a principal característica comportamental que predispõe à doença é, sem dúvida, a postergação, cada vez mais frequente, da maternidade. Hoje em dia, uma mulher tem 400 menstruações ao longo de sua idade fértil, contra 40, no início do século XX. Antes, as mulheres tinham mais gestações, ou seja, tinham menos endométrio disponível e, consequentemente, menos incidência de endometriose. Por tudo isso, a endometriose é caracterizada como o mal da mulher moderna.
Cólicas menstruais intensas, sangramento abundante ou irregular, ou outros sintomas durante as menstruações como náuseas, diarreia, dificuldade de evacuar, ou urinar são alguns dos sinais da endometriose. Mas os principais sintomas da doença são a dor durante a menstruação e no ato sexual. A endometriose é bastante sintomática. Entretanto, apenas o fato de não conseguir engravidar gera a suspeita de que essa mulher pode ter endometriose. Apenas cerca de 10% das mulheres não têm sintomas, o que pode fazer com que a doença evolua e aumente as chances de prejuízo à fertilidade da mulher.
Antes de descobrir que têm endometriose, é muito comum que as mulheres passem por um longo período de sofrimento, que pode ter graves consequências. Infelizmente, o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença é de mais de sete anos, por isso é fundamental aumentar o conhecimento das mulheres a respeito da doença. Dessa forma, evitamos consequências mais graves, como a infertilidade, causada pelo diagnóstico tardio, em muitos casos. Estudos indicam que 50% das mulheres que têm endometriose não conseguem engravidar e, só quando buscam ajuda médica para ter filhos, descobrem que são portadoras da doença.
A melhor prevenção é a mulher ficar atenta à dor, seja durante a menstruação ou nas relações sexuais, e procurar um médico ginecologista o mais rápido possível, pois quanto mais cedo se detecta a doença, mais rápido um tratamento adequado poderá ser iniciado. Vale reforçar que a endometriose pode surgir já na adolescência. Por isso, cólicas intensas devem ser acompanhadas e podem ser um indício importante da doença.
O diagnóstico da doença é clínico, complementado por exames por imagem, como ultrassom, ressonância ou ecoendoscopia. O Brasil é considerado uma referência em diagnóstico da endometriose. Aqui, foram desenvolvidos métodos de utilizar o ultrassom para diagnosticar uma forma mais agressiva da doença, que tem sido muito aceito no mundo inteiro e tem ajudado os médicos a definir a estratégia terapêutica, com grande benefício para as pacientes.
Hoje, a endometriose pode ser tratada de duas formas: cirurgicamente, por meio de laparoscopia, ou por meio de medicações, que bloqueiam a produção dos hormônios femininos, responsáveis pelo ciclo menstrual.
Os custos diretos e indiretos da doença são altos. Não existem dados precisos no Brasil, mas tomando o exemplo dos Estados Unidos, os gastos com a endometriose superam os da enxaqueca e da doença de Chron. O impacto econômico, sem dúvida, é grande e serve de alerta às autoridades, mas o principal fator que deve ser levado em conta é a garantia de bem-estar e a preservação da fertilidade da mulher.
* Dr. Maurício Simões Abrão é médico responsável pelo Setor de Endometriose da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e, atualmente, é Presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva. É membro do Conselho da Sociedade Mundial de Endometriose (WES) e da Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica (AAGL). Também é autor de vários livros, entre eles "Endometriose: uma Visão Contemporânea" (Editora Revinter).
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