terça-feira, junho 01, 2010

Pesquisas complicadas

Pesquisas complicadas
Por Alon Feuerwerker

O vexame do primeiro turno nas eleições colombianas ficou reservado para dois personagens. Antanas Mockus, candidato do Partido Verde, e os institutos de pesquisa. Estes davam Mockus empatado com Juan Manuel Santos, o nome do governo, num patamar de 40%.
Abertas as urnas, Santos confirmou seus votos com sobra (ficou a menos de quatro pontos da maioria absoluta e da vitória já no primeiro turno), mas Mockus teve apenas metade do que lhe previam as sondagens.
Uma hipótese seria a fraude, mas não parece provável. Outra seria a súbita mudança do eleitorado na véspera da eleição, possibilidade não comprovável. Uma terceira seria a subestimação do voto rural, como sugeriu ontem um perplexo Mockus.
São todas variáveis a considerar na busca da explicação, mas politicamente importam pouco. Santos e Mockus vão ao segundo turno, o que era esperado, mas com o candidato da oposição em circunstâncias dificílimas, como ele mesmo admite.
Para nós, além de aguardar pelo desfecho eleitoral no complicado vizinho, talvez valha a pena refletir sobre a importância dada também aqui às pesquisas e aos institutos que as produzem. Já faz algum tempo que acompanhar eleição no Brasil resume-se a um tripé: colecionar aspas dos candidatos, aguardar pelo próximos escândalos e roer as unhas à espera dos novos levantamentos de intenção de voto.
É preciso porém fazer justiça. Até que os agora protagonistas do espetáculo andam fazendo esforço para introduzir assuntos programáticos na agenda. A falta de hábito leva a coisa a estar ainda mambembe, mas bem ou mal já compareceram ao palco itens como a autonomia do Banco Central, o papel do Mercosul, o tráfico de drogas nas fronteiras, o financiamento da saúde, as linhas gerais da política externa.
Não que nas eleições anteriores os assuntos programáticos tenham sido simplesmente excluídos. A eles costuma se reservar um acompanhamento quase cartorial, protocolar. Os candidatos produzem por meio de suas assessorias alentados calhamaços, que os jornais registram e até publicam, mas pouca ou nenhuma influência real têm no processo.
Gosto mesmo, quem desperta são as pesquisas. Elas reinam onipotentes, onipresentes e oniscientes, inclusive nos detalhes. Mesmo quando as margens de erro são absurdamente grandes. Uma coisa é a pesquisa nacional ter 2% ou 3% de erro, outra é não esclarecer ao eleitor (ou leitor) que a margem se multiplica na análise segmentada (por região, sexo, escolaridade etc.), pois a amostra fica pequena em relação ao universo pesquisado.
De positivo, apenas um detalhe comprovado pela enésima vez agora na Colômbia: as pesquisas podem até influenciar os analistas, mas o eleitor comum dá pouquíssima bola para elas. Muita saliva, papel, tinta, bit e bytes por nada. Ou por muito pouco.
Na Colômbia, como aqui, o eleitor decide em função de seus desejos, necessidades, escolhendo o líder que considera mais capaz de conduzir o país num rumo que traga benefícios reais a ele, eleitor.

Conclat
As entidades sindicais realizam sua conferência (Conclat) em ambiente eleitoral. Mas isso não deve ser usado para desqualificar o evento. Importante é que os sindicatos, federações, confederações e centrais amarrem suas reivindicações e propostas.
Seria desejável também que as entregassem a todos os candidatos, ainda que a preferência dos organizadores esteja clara, por Dilma Rousseff (PT). Isso não deveria impedir que buscassem um diálogo com pelo menos os outros três nomes mais expressivos.
A União Nacional dos Estudantes, liderada pelo PCdoB, optou por esse caminho e preservou sua unidade. O movimento sindical, diferentemente do estudantil, é pulverizado em diversas centrais, mas a Conclat reúne a esmagadora maioria.

Explosões
O trágico desfecho da tentativa de furar por via marítima o bloqueio a Gaza reforça a necessidade de negociações por uma saída definitiva para o impasse regional no Oriente Médio.
Negociações que só caminharão a partir de uma premissa: todos os povos dali têm direito a seu Estado nacional, em segurança. A paz será consequência disso.
Ou serão sempre explosões, periódicas, de violência e ódio. Como a de agora.

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