quinta-feira, agosto 05, 2010

Crianças nas manchetes

Crianças nas manchetes
FABIO BARBIRATO - Publicada em 04/08/2010 às 16h11m – O Globo
Observando cuidadosamente, o noticiário atual chama a atenção pela quantidade de assuntos envolvendo crianças. Num dos casos mais assustadores dos últimos tempos, a procuradora de Justiça que praticou violência física contra uma criança de apenas dois anos foi condenada por tortura. O tempo da pena é, seguramente, muito inferior ao que a vítima precisará para se recuperar dos danos psicológicos causados pela agressora. Na realidade, talvez nunca os supere: pesquisas mostram que 90% das crianças vítimas de agressão sofrem forte impacto na sua autoestima e desenvolvimento e os carregam ao longo da vida.
Também causa assombro a disputa dos avós maternos pela guarda do bebê de quatro meses do goleiro Bruno, do Flamengo, acusado de ser o mandante do assassinato de sua amante. A situação do bebê não é das mais animadoras: sua guarda está em disputa pelo avô, que responde a processo por estupro de uma criança de 10 anos, e pela avó, que abandonou a própria filha, há anos. Que referência de instituição familiar essa criança terá?
Um adulto agressor de menores o faz, provavelmente, por reprodução de uma conduta vivenciada em sua própria infância. Com isso está criado um ciclo vicioso cruel, que precisa ser interrompido. As duas notícias colocam no centro do debate a preservação da saúde mental dos menores e a cabível responsabilidade dos pais.
Por incrível que pareça, a boa notícia vem do Senado, que decidiu aprovar um projeto de lei que pune pais ou mães separados que tentam colocar os filhos contra o ex-parceiro. É frequente vermos em consultórios psiquiátricos crianças abaladas com o divórcio dos pais. Nem tanto pela separação do casal, mas pela maneira cruel com que os pais jogam com o quadro emocional dos menores, por vaidade ou por dinheiro, mas nunca em função do melhor para a criança. Divórcio é um momento de separação dos cônjuges, mas que exige que os pais fortaleçam ainda mais os laços com os filhos.
Por muito tempo, as crianças foram vistas socialmente de forma inferior. O surgimento da psicanálise e o avanço da neurociência nas últimas décadas reverteram esse quadro. Hoje é sabido que o cérebro infantil é uma esponja que absorve e retém todo tipo de influência, boas ou ruins. Com isso, a educação de crianças ganhou outra dimensão e importância. Mais que exemplos, as crianças precisam de estímulos saudáveis. E, infelizmente, não é isso que os jornais têm nos mostrado como prática frequente na sociedade contemporânea.
FABIO BARBIRATO é psiquiatra infantil.

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