quinta-feira, outubro 21, 2010

O Brasil é grande

O Brasil é grande
Zelito Viana - O GLOBO
Uma das muitas previsões do profeta Karl Marx que vieram a se comprovar verdadeiras era de que a Rússia seria o último país do mundo a se tornar comunista. Quis a fatalidade histórica que fosse o primeiro a se tornar “socialista” — as aspas vão por conta do fracasso que se tornou a experiência russa. Ser de esquerda naqueles tempos do preto e branco significava um apoio praticamente incondicional à União Soviética, e era de direita qualquer crítica ao regime que se formava naquele país.
Tínhamos explicações e respostas para tudo e acreditávamos saber com absoluta clareza o que era certo (esquerda) e o que era errado (direita).
Com o passar do tempo constatou-se que não era bem assim. Entre o preto e o branco havia muitos tons de cinza.
A queda do Muro de Berlim foi a gota d’água para que os conceitos de esquerda e direita se tornassem cada vez mais complexos e difusos.
No segundo turno das eleições esta velha discussão volta à tona. Os eleitores de Dilma insistem que ela é de esquerda e que votar em Serra é votar na direita.
Desde quando Henrique Meirelles é de esquerda? Ser a favor da transposição do agonizante Rio São Francisco ou da construção da barragem de Belo Monte é ser de esquerda? Desrespeitar instituições democráticas como a imprensa, o Congresso e o Poder Judiciário, de forma sistemática, é ser de esquerda? Desde quando? Será que me enganaram de novo todo este tempo sem eu saber? Pagar as maiores taxas de juros do planeta propiciando aos bancos lucros astronômicos é fazer uma política econômica de esquerda? Apoiar um desvairado e sanguinário Ahmadinejad é fazer uma política externa de esquerda? Ser contra a legalização do aborto e da união estável entre pessoas do mesmo sexo é ser de esquerda? Desviar dinheiro do Tesouro Nacional — dinheiro meu, seu... nosso — para cobrir rombo de caixa da Petrobras é ser de esquerda? Que conversa é essa? Vamos deixar de hipocrisia e dizer que votamos por qualquer outra coisa, menos por defender a esquerda.
Por favor. A esquerda, apesar de se encontrar bastante acuada no momento, pela sua história e pelo respeito a milhões de pessoas que deram sua vida para a construção de uma sociedade mais justa, não merece ser tão vilipendiada. Sem desfazer do voto de ninguém, vamos arranjar argumentos mais sólidos para escolher nosso candidato. Que tal biografia? Que tal vivência política? Que tal competência? Que tal conhecimento da realidade do país? Que tal coerência na vida partidária? Vamos comparar os dois candidatos e escolher com a consciência tranquila, sem essa patrulha idiota e anacrônica de rotular “a” ou “b” de esquerda ou de direita. Como disse Marcelo Cerqueira, o Brasil é grande e nele cabemos todos nós.

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