quinta-feira, outubro 21, 2010

Padilha não assinou manifesto pró-Dilma

Padilha não assinou manifesto pró-Dilma
Fabio Brisolla e Adauri Antunes Barbosa - O GLOBO
Diretor de "Tropa de elite 2", José Padilha negou estar apoiando Dilma Rousseff - embora tenha sido incluído no manifesto de artistas a favor dela. Em nota, o cineasta disse que "a falta de crítica e de compromisso com a verdade" marca os dois candidatos. O sociólogo Emir Sader, que redigiu o manifesto, disse ter sido informado do apoio de Padilha. A CUT admitiu o erro.
Diretor de "Tropa" não aderiu a manifesto
Padilha diz que não apoia candidatura de Dilma, como fora divulgado pela campanha
RIO, SÃO PAULO E GOIÂNIA. O encontro da candidata do PT, Dilma Rousseff, com artistas e intelectuais renovou o ânimo de parte da militância do partido, mas resultou em irritação no caso do cineasta José Padilha, diretor do blockbuster Tropa de Elite 2. O nome de Padilha acabou incluído indevidamente no manifesto de pessoas a favor da candidatura de Dilma, divulgado na noite de segunda-feira durante a evento promovido no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon.
Ontem à tarde, Padilha publicou uma nota no site oficial do filme “Tropa de Elite 2”, onde negou seu apoio à candidatura de Dilma.
No texto, o diretor criticou a postura adotada pelas duas campanhas que disputam a eleição presidencial.
E frisou: “Não pertenço a nenhum partido político, agremiação, sindicato ou lista de apoio a candidatos, na qual eu não tenha me inscrito voluntariamente”.
Ele prosseguiu esclarecendo que, diferentemente das informações divulgadas em sites e pelo Twitter, não aderiu “a candidato algum nesta eleição pelos motivos explícitos em Tropa de Elite 2.” E encerrou a nota com um desabafo: “É uma pena que a falta de crítica e de compromisso com a verdade esteja sendo a principal marca dos dois lados desta campanha presidencial. Um desrespeito ao eleitor brasileiro.” O manifesto de artistas e intelectuais a favor da candidatura de Dilma foi redigido pelo sociólogo Emir Sader, com a participação do escritor e jornalista Eric Nepomuceno e do teólogo Leonardo Boff, os três principais articuladores do encontro realizado no Rio. A maioria dos nomes listados no documento impresso em quatro páginas, que trazia uma foto de Dilma na capa, foi confirmada por mensagens de e-mail.
Ao tentar explicar a inclusão de Padilha no manifesto, Sader preferiu não se estender sobre o assunto.
— Eu recebi a informação com a confirmação de Padilha. Mas se ele diz que não, então tudo bem — explicou o sociólogo, que não lembrou quem havia encaminhado a confirmação de Padilha.
O documento impresso distribuído pelos organizadores do encontro com artistas e intelectuais tinha aproximadamente 5 mil assinaturas.
Porém, já na segunda-feira, Sader informou que o número de confirmações no manifesto através da internet já ultrapassava a marca de 10 mil nomes. A lista reúne centenas de acadêmicos ligados a universidades de todo o país, além de músicos, atores e muitos profissionais ligados ao cinema.

Ruy Guerra, Murilo Salles, Eryk Rocha, Roberto Berliner e Mariza Leão estão entre os cineastas presentes. Todos os citados acima, no entanto, confirmaram o apoio à candidata do PT.
O encontro no Teatro Oi Casagrande contou ainda com uma presença inesperada, a cantora Elba Ramalho. Ela votou em Marina Silva no primeiro turno e, em entrevista ao GLOBO, logo no começo do segundo turno, disse que agora pretendia votar em Serra.
— Nunca declarei oficialmente que ia votar no Serra. Passei a acompanhar os debates e gostei da Dilma — disse Elba anteontem, apesar de ter dito, sim, que votaria em Serra.
O suposto apoio de José Padilha ao PT causou repercussão até mesmo na Central Única dos Trabalhadores (CUT). O presidente da entidade, Artur Henrique, chegou a postar a seguinte mensagem na internet: “Diretor de Tropa de Elite, Chico Buarque, Zeca Pagodinho e muitos outros estão com Dilma. E você?”.
Posteriormente, o dirigente da CUT disse que cometeu um equívoco ao anunciar em seu blog e no Twitter que Padilha estaria apoiando a candidatura de Dilma. Ele disse que incluiu a informação no blog baseado na lista divulgada no Rio.
Em Goiânia, questionada sobre nota de Padilha, a candidata do PT disse que desconhecia o assunto.
— Eu não sei. Eu não pedi o apoio de ninguém. Agora, se ele (Padilha) não quer assinar, perfeitamente, ele tem todo o direito de não assinar — limitou-se a dizer Dilma, antes de seguir para o comício ao lado do presidente Lula.
José Padilha: 'Houve uma blitz de um grupo que apoia a Dilma'
O GLOBO - Entrevista feita por Luiz Antônio Novaes
Ao ficar sabendo que seu nome tinha sido indevidamente incluído na lista de apoiadores de Dilma, o cineasta José Padilha levou um susto e não quis acreditar.
Até então, não deixara qualquer dúvida, a todos que o pressionaram a assinar o manifesto, de que não iria associar o seu nome à campanha. Atordoado, ligou para amigos, buscando conselhos sobre o que fazer. Chegou a pensar em processar o PT, mas desistiu. Preferiu, na manhã seguinte (ontem), divulgar uma nota pelo blog, aberta com uma citação do escritor e filósofo americano Henry David Thoreau, autor do célebre ensaio “Desobediência civil”.
O GLOBO: Se você não assinou o manifesto, como seu nome foi parar na lista anunciada ontem (segundafeira) à noite?
JOSÉ PADILHA: Não sei. É o que eu quero descobrir. Ou é coisa de má-fé ou babaquice
Mas alguém o procurou para tentar convencê-lo a assinar?
PADILHA: Sim. Recebi um e-mail de um amigo, cujo nome prefiro não dizer, perguntando se eu queria assinar. Eu fui claro e direto: “Não, muito obrigado. Eu não quero politizar o meu filme. Os dois partidos, nestas eleições, não têm política de segurança pública”.
E como ficou sabendo que estava na lista?
PADILHA: Fui avisado por alguém que foi ao ato. Liguei imediatamente para o meu amigo, que, para provar que não tinha me incluído indevidamente, me mandou a lista original, com mais de cinco mil nomes. Eu, de fato, não estava lá. Ou seja: meu nome só entrou na última hora, numa lista que fizeram à parte, com os que consideraram mais destacados apoiadores da Dilma. Algum zé-mané fez isso.
Não houve outro tipo de pressão para você assinar? Ninguém do governo ou do comando da campanha o procurou?
PADILHA: O que houve, nos últimos dias, foi uma blitz de um grupo que apoia a Dilma. Recebi apelos de umas 200 pessoas...
Todos artistas?
PADILHA: Sim, do meio. Para todas elas, eu disse o mesmo: esta é uma campanha marcada pela falta de ética e pela mentira dos dois lados. A Dilma mente quando diz que é contra o aborto, e o Serra mente quando fala que acredita em Deus. Eu, pelo menos, não acredito em nenhum dos dois.
E em nenhuma conversa chegaram a dizer abertamente ou a insinuar que, caso não assinasse, você ou o setor de cinema poderia enfrentar problemas com o governo, problemas de verba, de financiamento de filmes?
PADILHA: Não, se fizessem isso seria inútil. Sabiam que eu não cederia.
Se todos conheciam a sua posição, o que pode ter pensado quem incluiu seu nome na lista? Que, no fundo, você iria se calar com medo de represálias?
PADILHA: Não sei se pensou assim. E não quero pensar isso, pois estaria pensando como eles. Sinceramente, não sei.
Se fizeram isso com você, um cineasta em total evidência, num ponto alto da carreira, o que podem ter feito com outros artistas não tão fortes assim?
PADILHA: Não sei. Vamos ter de descobrir o que houve.

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