segunda-feira, maio 31, 2010

Cotas para os estudantes da rede pública

Cotas para os estudantes da rede pública

Flavia Calé, Jornal do Brasil
RIO - Após alguns anos de discussão sobre cotas raciais e sociais, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das poucas instituições a debaterem o tema, se reúne, até o fim deste mês, para decidir um passo importante na vida dos universitários. Caso o conselho aprove, a UFRJ será a segunda instituição de ensino público no Rio de Janeiro a adotar o sistema de reserva de vagas em universidades públicas.
Quando a União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ) formularam essa proposta, em 2000, tinham como elemento norteador a necessidade de democratizar o acesso à universidade brasileira, conhecida por seu caráter elitista.
A UFRJ, nestes últimos anos, foi um importante cenário de reflexão sobre o papel da universidade brasileira e a necessidade de se romper com os muros que em muitos momentos nos impedem de colocar o conhecimento aqui produzido a serviço de um projeto de desenvolvimento nacional e regional. A educação e o acesso ao conhecimento são elementos decisivos para a perpetuação das mazelas sociais e profundas desigualdades em nosso país, e foi nesta casa, num profundo exercício democrático, que nos convencemos durante a elaboração do projeto do Reuni, que escancarar as portas é a melhor contribuição que podemos dar à sociedade brasileira neste momento.
No entanto, somente a ampliação de vagas não é suficiente para democratizar verdadeiramente essa instituição. As camadas mais populares ainda não estão massivamente entre nós porque mecanismos como o vestibular e redes de cursinhos pré-vestibulares de alto custo acabam por determinar quem tem mais condição de ingressar no ensino superior.
Precisamos criar pontes mais sólidas da universidade pública com a escola pública. É na escola pública que a maioria do nosso povo se encontra. É na escola pública que a juventude negra se forma. Sabemos da intrínseca relação da negritude com a condição sócioeconômica. Nosso passado escravista nos deixou como herança o preconceito racial velado e uma pobreza que tem cor.
Por isso, defendemos reserva de vagas para estudantes de escolas públicas em conjunto com as cotas raciais. Dessa maneira, aliada ao processo de expansão de vagas, que deve ser aprofundado, podemos equilibrar o ingresso na universidade entre a diversidade cultural, econômica e social do nosso povo.
Não podemos aguardar pelo menos mais uma década para chegar à meta de 30% dos jovens no ensino superior, e, talvez nem assim, conseguir incluir a juventude pobre e negra na universidade pública de qualidade. Queremos que a maioria da população esteja na universidade. Isso implica buscarmos de forma incansável essa meta de ampliação, e desfazer os nós que asseguram, atualmente, essa imensa maioria fora do ensino superior público. Somos a favor das maiorias, somos a favor das cotas!
Flavia Calé é presidente da União Estadual dos Estudantes (Rio de Janeiro).
23:21 - 23/05/2010

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