segunda-feira, maio 31, 2010

O que atrasa o progresso da África?

O que atrasa o progresso da África?
KOFI ANNAN
O continente é muito diverso, mas suas nações estão ligadas pelos mesmos desafios, que dificultam o crescimento econômico
Este é um ano importante para a África, uma vez que a Copa do Mundo colocou o continente no centro da atenção mundial. Agora, os seus pontos fortes e as suas fragilidades estarão mais do que nunca sob o escrutínio internacional. Que história será relatada?  As nossas economias estão dando provas da sua capacidade de resistência. Após um período de enormes dificuldades na sequência da crise mundial, a recuperação econômica está em curso, em forte contraste com a falta de esperança presente no resto do mundo. 
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem taxas de crescimento de cerca de 5% do PIB até o final do ano.  Conforme salienta o Relatório do Progresso Africano de 2010, publicado em 25 de maio, a cotação da África está subindo. Mas esse relatório coloca igualmente algumas perguntas difíceis.  Considerando a riqueza do nosso continente, como é que tantas pessoas continuam ainda presas na pobreza? Por que o progresso para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) é tão lento e desigual? Por que tantas mulheres são marginalizadas e privadas de direitos? A que se deve o aumento da desigualdade? 
Ao tentar responder a essas perguntas, temos de ter cuidado com generalizações. O continente africano é profundamente diverso. As suas nações encontram-se ligadas por desafios comuns, que dificultam o desenvolvimento humano e o crescimento equitativo, tais como fraca governança e investimento insuficiente em mercadorias e também em serviços públicos.  Aprendemos muito ao longo da última década sobre as nossas necessidades. Entre os vários ingredientes necessários, um Estado de Direito e sistemas de responsabilização são essenciais para assegurar que os recursos sejam utilizados eficaz e eficientemente.
O que, então, atrasa o progresso?  A falta de conhecimento e de planos não são o cerne da questão. Agendas boas, até visionárias, foram formuladas por líderes africanos e formuladores de políticas em todas as áreas, da integração regional até a capacitação das mulheres.  A falta de fundos também não é a barreira insuperável, considerando os vastos recursos naturais e humanos do continente e o fluxo de saída da riqueza em curso, frequentemente ilícito, mesmo que sejam necessários ainda mais recursos. O problema é a vontade política, tanto internacional como na África. 
No plano internacional, isso é mais uma consequência da incapacidade de transmitir a importância de colocar as necessidades dos países subdesenvolvidos e africanos no centro das políticas globais.  É necessário intensificar e reforçar os esforços para explicar o modo como esses benefícios, quer se trate de disponibilizar políticas de comércio mais justas, quer se trate de combater a corrupção, não são apenas altruístas ou éticos, mas igualmente práticos e no melhor interesse dos países mais ricos.  Os líderes africanos são os principais responsáveis por impulsionar o crescimento equitativo e fazer os investimentos necessários para alcançar os ODM. O continente tem, hoje, líderes defensores do desenvolvimento.  Precisamos de mais. Infelizmente, seus esforços ainda são ofuscados na mídia internacional pelo comportamento autoritário e autoenriquecedor dos outros líderes. A África é uma nova fronteira econômica. A abordagem e as ações do setor privado e dos tradicionais e novos parceiros internacionais da região são cruciais para ajudar o continente a ultrapassar esses desafios. A comunidade internacional pode desempenhar um papel decisivo, assegurando que a África se encontre em campo justo e imparcial.  Mas o destino da África está, mais que tudo, nas suas próprias mãos.
KOFI ANNAN, economista ganês, é presidente do Painel para o Progresso da África. Foi secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2001.

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