quarta-feira, julho 28, 2010

Vitória conturbada para Obama

Vitória conturbada para Obama
Congresso aprova US$ 37 bi para guerra no Afeganistão, mas racha Partido Democrata
Fernando Eichenberg Correspondente • WASHINGTON

Apesar dos danos causados pelo vazamento dos cerca de 90 mil documentos militares divulgados pelo site Wikileaks, a Casa Branca conquistou ontem uma importante vitória no Congresso, com a aprovação de um orçamento emergencial de US$ 37 bilhões para financiar o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão e possibilitar a nova estratégia americana no país — mesmo diante de renovados e acalorados debates sobre os rumos do conflito, além do descontentamento crescente da opinião pública.
Os recursos para a guerra incluem uma ajuda de US$ 4 bilhões ao Paquistão e são parte de um orçamento total de US$ 59 bilhões, destinados a vários projetos do governo americano. O pacote foi aprovado por 308 votos a favor e 114 contra.
E numa prova de que o presidente Barack Obama terá que trabalhar duro para reconquistar o apoio de seus próprios partidários — às vésperas das eleições legislativas, marcadas para novembro — o resultado traz ainda um dado revelador: o apoio ao projeto foi maior entre os republicanos.
Divididos sobre a condução da guerra, pelo menos 100 deputados democratas votaram contra os novos gastos militares.
Mais cedo, nos jardins da Casa Branca, Obama fez seus primeiros comentários públicos sobre o vazamento dos relatórios. Tentando minimizar o episódio, ele alegou que nenhuma das informações renova os dados já discutidos e analisados pelo governo. O presidente tentou ainda reverter a crise a seu favor e garantiu que o conhecimento dos fracassos é, na verdade, o motivo da mudança da estratégia — e do envio de mais 30 mil soldados ao front.
— Falhamos em implementar uma estratégia para a região. É por isso que aumentamos nosso comprometimento e desenvolvemos uma nova estratégia — justificou Obama.
Entre os parlamentares de seu partido — e mesmo na oposição — o presidente parece ter conseguido impedir maiores estragos a seu governo.
A maioria optou por acusar de irresponsável o vazamento e defender a segurança dos soldados no Afeganistão, sem questionar a continuidade da guerra, que já custou mais de U$ 300 bilhões ao cofres do país.
Para o senador republicano John McCain, os documentos da Wikileaks atestam por que a oposição apoiou a recente mudança de estratégia militar no Afeganistão.
— O cenário surgido desse vazamento acrescenta muito pouco ao que já sabíamos: que a guerra no Afeganistão estava se deteriorando nos últimos anos, e que nós não estávamos vencendo — disse McCain.
A deputada democrata Jane Harman, da Comissão de Inteligência do Congresso, preferiu destacar o papel do Paquistão na guerra — acusado de apoiar os rebeldes talibãs.
— É preciso que os EUA mostrem ao Paquistão que não tolerarão ameaças por parte da Índia, seu principal temor, e que podem contar com a colaboração e a parceria confiável dos americanos — avaliou.
Ontem, o Pentágono abriu inquérito oficial para caçar o responsável pelo vazamento de informações. Entre os suspeitos está o soldado Bradley Manning, de 22 anos, um analista de inteligência atualmente detido numa prisão militar no Kuwait, acusado de passar vídeos de operações de guerra no Iraque ao Wikileaks.
Em comunicado, o Conselho de Segurança Nacional afegão não hesitou em lançar pesadas críticas contra os EUA, a que acusa de omissão em combater “os patrões das milícias”, em alusão ao Paquistão. Em Cabul, o presidente do conselho, Rangeen Dadfar Spanta, chegou a questionar a ajuda de Washington a Islamabad nos últimos anos.
— É realmente injustificável para o povo afegão.
Como se pode dar a um país US$ 11 bilhões ou mais para ajudar a reforçar suas defesas, e do outro lado, essas forças treinam o terrorismo? Quem apoia militantes deve ser punido, e não tratado como um aliado — indignou-se Spanta.
Além de abrandar os ânimos de aliados políticos em Cabul, Islamabad e Washington, Obama terá ainda a missão de acalmar — e convencer — o público americano. Uma pesquisa de opinião Reuters/Ipsos divulgada ontem mostra que 46% dos eleitores pretendem votar nos republicanos no próximo pleito, contra 44% nos democratas.

Em outro dado alarmante para o governo, 72% dos republicanos disseram que comparecerão às urnas, contra apenas 49% entre os democratas.
O índice de aprovação do governo também caiu a 48% — abaixo dos 50% registrados em junho.
Para a opinião pública, o principal problema a ser enfrentado é a economia: 66% dos entrevistados acreditam que o presidente deixou em segundo plano a criação de empregos, e quase a metade se disse descontente com a forma como está sendo conduzida a política econômica.

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