sábado, setembro 18, 2010

UE se rende a Sarkozy

UE se rende a Sarkozy
Após violento bate-boca sobre ciganos, líderes evitam criticar presidente e censuram comissária
O Globo – Agências internacionais
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, conversa com o presidente da Romência, Traian Basescu, em Bruxelas - AP

BRUXELAS - A polêmica sobre a política francesa em relação aos ciganos dominou ontem a reunião de cúpula da União Europeia, em Bruxelas, onde os 27 chefes de Estado dos países-membros do bloco previam inicialmente discutir a crise econômica e a aplicação de uma política externa comum.
A reunião se desenrolou num clima tenso que culminou com um bate-boca violento entre Nicolas Sarkozy e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, segundo relataram o primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, e membros de outras delegações presentes.
Sarkozy e o órgão executivo europeu estão em pé de guerra desde que a comissária europeia de Justiça e de Direitos Humanos, Viviane Reding, ameaçou, no início da semana, processar a França pela forma como os ciganos vêm sendo expulsos do país, evocando as deportações promovidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial para criticar a política de Sarkozy em relação à minoria.
Apesar das inúmeras declarações contrárias às expulsões dos ciganos proferidas recentemente por órgãos europeus e internacionais, os líderes presentes evitaram criticar Sarkozy, mas não pouparam Reding.
Para o premier Espanhol, José Luiz Rodriguez Zapatero, as declarações de Reding “pareceram fora do lugar”. A chanceler alemã, Angela Merkel, também criticou a postura da comissária.
— Achei o tom e especialmente a comparação histórica inadequados — disse Merkel.
— Espero que possamos encontrar um caminho melhor.
O premier britânico, David Cameron, defendeu o direito de expulsar imigrantes ilegais, mas disse que a etnia não pode ser levada em conta ao fazê-lo.
Durante uma sessão de trabalho, Sarkozy pediu a palavra e tentou explicar a posição do seu governo quanto à circular do Ministério do Interior, datada de 5 de agosto. O documento tratava ciganos como um grupo étnico e os colocava no topo da lista de imigrantes a serem despejados, violando a Convenção Europeia de Direitos Humanos— que proíbe qualquer distinção feita com base na etnia.
— Uma circular assinada por um funcionário em pleno mês de agosto (férias na Europa) comportava elementos passíveis de serem mal interpretados — alegou o presidente.
Sarkozy também lembrou que o documento foi invalidado antes das críticas de Viviane Reding, o que demonstraria, segundo ele, a boa fé do governo francês. Ele se esqueceu, no entanto, de dizer que a primeira circular fora vazada à imprensa e já fazia escândalo antes da comissária se pronunciar a respeito.
— As declarações (de Reding) foram um insulto, uma humilhação, uma afronta. Entendo que (Barroso) se solidarize com a comissária, mas não permitirei que meu país seja insultado — afirmou.
Sarkozy também afirmou que os acampamentos ilegais não podem ser ignorados pela Europa e reiterou que continuará a fechá-los, seja quem forem seus ocupantes.
‘Discussão masculina e viril durante almoço’
Diante das críticas de Sarkozy contra Bruxelas, Durão Barroso defendeu o papel da Comissão e disse que não se distrairia do seu trabalho por conta de querelas, segundo um diplomata.
Em coletiva de imprensa, Sarkozy reconheceu ter abordado a questão com Durão Barroso durante o almoço, mas negou ter levantado a voz contra o presidente da Comissão.
— Se alguém conservou a calma e se absteve de comentários excessivos, esse alguém sou eu - ; afirmou o chefe de Estado francês.
A versão do presidente francês, no entanto, é contestada pelo primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, que descreveu uma discussão “masculina e viril” no almoço. Juncker também não perdeu oportunidade de criticar Sarkozy — que, na véspera, sugeriu que Reding levasse os ciganos para Luxemburgo, país natal da comissária. Para o premier, as palavras do presidente francês foram inconvenientes.
Um diplomata europeu ouvido pelo “Le Monde” conta que “o tom das vozes (de Sarkozy e Durão Barrosos) era tão alto que era possível ouvi-los do outro lado do corredor”.
Já Angela Merkel, descreveu o diálogo dos dois políticos como uma discussão franca.
— Tudo correu bem no almoço, no que diz respeito à qualidade dos pratos — ironizou.
Publicamente, apenas a Itália de Silvio Berlusconi mostrou apoio incondicional à França a respeito do tratamento dado à minoria.
No final do dia, os líderes relataram que nada fora decidido sobre a questão dos ciganos na Europa, informando que tentarão encontrar uma solução numa próxima reunião.

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