sábado, setembro 25, 2010
As palavras e as coisas
As palavras e as coisas
Fernando de Barros e Silva - FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - "As atitudes de Lula são de um fascista, do verdadeiro autoritarismo"; "Lula age como um fascista". São frases que soam mal, sobretudo na boca de dois ex-ministros da Justiça, advogados ilustres com trajetória no campo democrático. José Carlos Dias e Miguel Reale Jr. conhecem as palavras. Banalizando o mal, terão de inventar uma nova língua quando quiserem nomear o fascismo de verdade.
O "Manifesto em Defesa da Democracia", lançado quarta-feira no largo São Francisco, reuniu figuras respeitáveis da antiga sociedade civil, várias delas entusiastas do que Lula representava na época da fundação do PT. Mudaram todos -não necessariamente para melhor.
Retomo a pergunta que fez Janio de Freitas anteontem, num grande artigo: haverá, no país, "marcha para o autoritarismo pelo fato de que Lula, nos estertores do seu mandato, rebaixa a função presidencial à de marqueteiro e cabo eleitoral?". É óbvio, diz Janio, "que o papel assumido por Lula macula a disputa. Mas o que mais suscita reação, parece claro, não é o papel em si, que a lei nem cuidou de restringir: é que Lula o assume do alto de uma popularidade devastadora, que cai sobre os adversários".
Há um paradoxo na ação de Lula: seu governo expandiu direitos no país, mas o presidente não perde a chance de avacalhar a democracia, com atitudes que vão da desconsideração jocosa pela liturgia do cargo até a fronteira da boçalidade -por exemplo, ao defender que um partido seja extirpado.
Que diferença, de resto, há entre as velhas carcaças do DEM e o clã Sarney, a não ser o fato de que este virou cupincha de luxo do lulismo?
Porém, para não vestir a fantasia de udenistas de segunda mão, os democratas da oposição precisam discernir entre o acaudilhamento da Presidência e as "atitudes de um fascista", coisa que Lula nunca foi. Isso vale inclusive para desmistificar os anões fascistóides que se servem da força de Lula para pregar contra a imprensa livre no país.
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