sábado, setembro 25, 2010
O que o futuro reserva para as Farc
O que o futuro reserva para as Farc
León Valencia – O Globo
Em 1999, um ano antes do encerramento das negociações de paz de Caguán, Alfonso Cano, líder das Farc, saiu da região e se foi para a Cordilheira Central. Havia chegado à conclusão que as negociações terminariam num acordo de paz.
Cano não teve o papel principal nas conversas. Mono Jojoy era o protagonista. As grandes vitórias do grupo sobre as forças de segurança em meados das décadas de noventa o colocavam como o homem-chave da guerrilha.
Isso não era gratuito. Parte do grupo, sob seu comando, havia instalado 10 frentes de guerrilha.
Os golpes contra a polícia e sequestros frequentes ao redor da capital geraram temor no governo e projetaram a imagem de uma guerrilha que podia ameaçar o poder do Estado.
Jojoy sabia disso, e nas negociações de Caguán falava com segurança e arrogância. Tinha grandes exigências para chegar à paz, o que levou ao fracasso das negociações.
Desde então, Cano consolidou o comando da guerrilha e criou novos cenários de guerra. Essas forças já não operam como nos anos noventa. Já não podem realizar grandes ataques.
Seguem produzindo baixas nas forças de segurança e pressionando o Estado e a sociedade, mas perderam toda a possibilidade de chegar ao poder.
Cano demonstrou saber disso em suas últimas comunicações.
Suas exigências para chegar à paz são muito distintas das de Caguán.
Já não insiste “num governo de ampla participação”, a agenda é limitada. A proposta reflete realismo em sua fraqueza.
O governo de Juan Manuel Santos tem isso claro e, por isso, ao mesmo tempo em que continua a ofensiva militar, oferece possibilidades de negociação, fazendo exigências às Farc. Talvez a morte de Jojoy seja o presságio de um destino de reconciliação com o país.
Segundo especialistas, quatro são os fatores que permitiram o Estado colombiano a inclinar a balança a seu favor nos últimos anos.
Decisão política, apoio cidadão, investimento na inteligência e recursos econômicos foram fatores determinantes nos triunfos obtidos pelo Estado sobre a guerrilha.
Nos últimos anos, houve decisão política de enfrentar a guerrilha por parte de todas as autoridades.
Para o general Manuel J. Bonett, ex-assessor presidencial de José Obdulio Gaviria, a balança se inclinou quando foi determinado que o problema devia ser tratado como um assunto de segurança, e não como um conflito político interno.
O apoio da sociedade aos militares foi um fator chave, não somente pelo apoio moral, mas também pelas informações fornecidas.
— As pessoas, ao começarem a rodear as Forças Armadas, deram legitimidade a elas, que se sentiram respaldadas — disse Jairo Libreros, analista político da Universidade Externado.
Os últimos golpes certeiros à guerrilha foram possíveis graças a trabalhos de inteligência humana e técnica. Nesse último aspecto, avançamos de maneira significativa nos últimos anos. O analista de segurança Alfredo Rangel destaca a importância da informação via satélite e, especialmente, da interceptação das comunicações. O trabalho de desmobilização foi significativo.
E as recompensas também tiveram um papel definitivo.
A modernização da aviação militar teve uma importância estratégica para golpear a guerrilha. O general Manuel José Bonett destaca o uso dos aviões Supertucano, que são muito efetivos no combate, e também o desenvolvimento de tecnologias que podem ser usadas na luta contra a insurgência.
Outros avanços são as bombas inteligentes, que permitem o bombardeio a grande distância do objetivo, devido a sensores que as guiam ao ponto exato onde devem cair. A isso se soma o incremento de militares em todas as forças da Colômbia.
LEÓN VALENCIA é colunista do “El Tiempo”
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