sábado, setembro 25, 2010

O Brasil de Erenice não quer segundo turno

O Brasil de Erenice não quer segundo turno
Guilherme Fiuza – Revista Época
Desta vez, Lula tem toda a razão. A culpa é da imprensa. As obras completas de Erenice Guerra na Casa Civil tinham tudo para seguir seu tranquilo caminho subterrâneo. Como se sabe, a Polícia Federal está de férias, assim como o Ministério Público, o Judiciá­rio e o Congresso Nacional. Tudo na mais santa paz para que Erenice, seus familiares e simpatizantes continuassem tocando normalmente seus negócios particulares no seio do Estado brasileiro. Aí veio a mídia burguesa atrapalhar.
Os jornalistas deveriam recolher-se a sua insignificância. Se os homens da lei não viram nada demais na atuação do filho de Erenice, servindo de intérprete entre uma empresa de transporte aéreo e os Correios, mediante uma “taxa de sucesso”, o que a imprensa tem a ver com isso? A taxa de sucesso não é particular? Que mania os repórteres têm de se meter com a propina alheia.
Se há testemunhas de que um sócio do filho de Erenice achou R$ 200 mil em dinheiro em seu gabinete na Casa Civil, isso também é um fato da vida. Pode acontecer com qualquer um. O que os jornalistas têm é inveja, só porque nunca abriram uma gaveta na redação e deram de cara com uma montanha de dinheiro vivo. “Duzentos mil na Casa Civil” não dá manchete. No máximo, dá samba.
A imprensa andou implicando também com o marido de Erenice. Só porque a empresa da qual ele era diretor ganhou aval do governo para disputar (e ganhar) um negócio de R$ 100 milhões na telefonia celular, depois que o próprio governo já atestara que a tal empresa não tinha estrutura para o negócio. Qual é o problema? As nuvens no céu não mudam de forma? Os pareceres técnicos também podem mudar.
No caso da violação de sigilos fiscais de adversários do PT já tinha sido assim. Tudo teria acontecido normalmente se a imprensa não viesse se meter. A própria Receita Federal já estava cuidando do assunto (sentada em cima dele), e até o ministro da Fazenda afirmou que vazamentos são mais comuns do que se imagina. E, não havendo novidade, por que o assunto foi parar nas manchetes? Só pode ser perseguição.
Lula tem razão. A imprensa é movida pelo “ódio” e quer criar, às vésperas da eleição, “um clima de medo”. Pois é. Quem deveria ter medo de Erenice? Uma mãe zelosa, esposa leal, com inabalável instinto de preservação familiar, capaz de tudo por um filho, tudo mesmo. Em vez de ficar escutando as bravatas da imprensa, os brasileiros deveriam todos desejar ser filhos de Erenice – para nunca mais terem medo do futuro.
A história de Erenice mostra Dilma sem plásticas. E o povo continua disposto a eleger o avatar de Lula
Mas o discurso do presidente trouxe, nos últimos dias, uma verdade mais absoluta que todas as outras. Lula disse: “Nós somos a opinião pública!”. Ele estava num comício petista em Campinas, possesso, jurando derrotar os jornais e as revistas. “Nós” significava Lula, seus companheiros e o povo. O grande líder estava mais uma vez coberto de razão.
De fato, a opinião pública hoje é constituída, basicamente, por Lula e seus súditos. Basta olhar as pesquisas de intenção de voto. Erenice Guerra, vida e obra, é uma criação com a marca Dilma Rousseff. Dilma trouxe Erenice do nada para o topo da República em tempo recorde. Fez dela sua fiel escudeira, encarnação de seu modus operandi, como o público ficou sabendo no caso do dossiê FHC, montado por Erenice na Casa Civil de Dilma. Seria apenas uma subalterna diligente? Não. De funcionária suspeita de conspiração, virou ministra. Erenice era a continuação de Dilma.
Talvez com ciúme de uma relação tão sólida, a imprensa contou a verdadeira história de Erenice – que veio mostrar, desta vez sem plásticas biográficas, quem é Dilma. O povo viu e ouviu tudo. E continua disposto a eleger o avatar de Lula em primeiro turno.
Não restam dúvidas. Opinião pública hoje é o que Luiz Inácio grita do alto do palanque. Um dia ele disse que o Brasil ainda seria uma democracia como a Venezuela de Chávez. Apertem os cintos.
GUILHERME FIUZA é jornalista. Publicou os livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme, 3.000 dias no bunker e Amazônia, 20º andar. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA gfiuza@edglobo.com.br

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