terça-feira, outubro 19, 2010

Analfabetos digitais

Analfabetos digitais
PAULO CESAR COELHO - O Globo
O Brasil tem cerca de 14 milhões de analfabetos, com idade média de 54 anos, segundo o PNAD. Em outra vertente, estamos num patamar instigante em que temos acesso a redes sociais com índices de causar inveja em países de Primeiro Mundo. O país vem mudando a passos galopantes e alcançando metas avassaladoras no consumo de tecnologia e produtos digitais.
Quando focamos os analfabetos digitais, este número cresce significativamente.
Mas não existe uma estatística precisa que garanta quantos são os analfabetos digitais em solo brasileiro.
E quantos desse bolo são senhoras e senhores que representam a Terceira Idade? Sim, são esses idosos que hoje representam a maior fatia dos excluídos, os que não sabem acessar a internet e temem um computador. A verdade é que muitos cidadãos que já chegaram à casa dos 50, 60, 70 e 80 anos não sabem navegar na rede mundial de computadores e nem possuem computador em casa. Logo, temem dividir carteiras com a atual geração, dos que já nascem “dominando a tecnologia”, antes mesmo de aprender a ler e a escrever. Uma disputa, diria, desigual.
O Rio de Janeiro tem dado um passo importante na inclusão digital para a terceira idade, num modelo que tem dado certo. Tanto que vem exportando esse modelo bem-sucedido para outros estados. Abrir uma porta para esse mundo e a esse público tem causado inúmeras surpresas, todas positivas. Descobre-se nos cursos de alfabetização digital gratuitos para a terceira idade alunos até com mais de 80 anos, aplicados, curiosos e agora internautas. Afinal, inclusão digital é inclusão social e o acesso à informação, fundamental.
O Censo que está sendo concluído prova o que todos já sabemos: o Brasil é um país mais idoso. Daí, a importância da inclusão digital para o cidadão da terceira idade; inclusive, para sua potencial reinserção no mercado de trabalho. A busca pelos direitos digitais tem dado certo, e a procura, mais ainda.
Quando se vence a barreira do preconceito entre o que seria o velho e o novo, o desconhecido passa a ser um elemento agregador que une os mais idosos aos mais jovens, criando uma nova relação: a digital/social. São pessoas que agora conversam via e-mail, “viajam” sem sair de casa ou podem requerer serviços públicos com apenas um clique. O que para os jovens pode ser uma banalidade, um exercício rápido e bobo, certamente não é uma verdade absoluta para milhares de cidadãos acima dos 60 anos.
Essa faixa etária de acesso aos computadores cai mais ainda uns dez anos, se falarmos de pessoas de classes sociais mais baixas, que moram em comunidades carentes e que não têm formação qualificada. Nesses locais, no Rio de Janeiro, onde as barreiras de acesso à internet estão sendo vencidas pouco a pouco, os cursos gratuitos de inclusão digital também começam a avançar. Voltar para uma sala de aula, onde o quadro negro não existe e, sim, a tela de um computador, ainda assusta os idosos.
Mas a vontade de integrar e frequentar cursos onde eles serão donos de seus destinos vem fazendo com que essa fatia de população lote, a cada dia, no Rio de Janeiro, as salas de alfabetização digital sem medo ou vergonha de não entender como funciona o mouse, como em um clique se faz tanta coisa e como é o mundo virtual do qual as gerações mais novas tanto falam. No interior acontece a mesma coisa: muitos idosos continuam a ter medo do desconhecido.
Porém, a coragem de vencer barreiras tem sido mais forte e os cursos para esse público começam a instigar a curiosidade, principalmente em cidades pequenas onde a vida parece insistir em andar mais devagar em pleno século XXI. Para donas de casa, doceiras, bordadeiras e representantes de pequenas cooperativas, a internet pode se transformar numa alavanca econômica para o interior do nosso estado, e para todo o país. E é isso que buscamos.
Com alguns computadores, pessoas que facilitem o processo de transmissão do conhecimento e que usem uma linguagem mais acessível para todos os níveis, não tenho dúvida de que nossos idosos vão longe. E não se surpreenda quando alguém perguntar a uma senhora de uns 70 anos alguma coisa e receber dela a seguinte resposta: porque você não me manda um e-mail que eu explico?
PAULO COELHO é presidente do Proderj.

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