terça-feira, outubro 19, 2010

Neutra

Neutra
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
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Independência ajuda planos de Marina Silva para 2014, mas a senadora terá de se mostrar capaz de transcender os limites do discurso verde
A neutralidade do Partido Verde -ou independência, como prefere Marina Silva- era previsível. A candidata à Presidência já havia manifestado inclinação nesse sentido. Faltava-lhe apenas conter a vocação aderente de correligionários do PV. No final, por 88 votos a 4, a plenária nacional do partido ficou com ela. Os quase 20 milhões de votos amealhados podem não ter contribuído para ampliar as bancadas da agremiação, mas abrem perspectivas antes inimagináveis para a senadora e ex-ministra do governo Lula.
Enquanto seu eleitorado distribui-se, no segundo turno, entre Serra e Dilma, mais para o primeiro do que para a segunda, está claro que Marina olha para 2014. Desse ângulo, faz sentido fortalecer-se como terceira via, evitando atrelamento a um dos blocos da disputa. Além disso, nem a petista nem o tucano acataram a agenda verde com mais convicção do que se entregaram a postiças exibições de religiosidade.
A momentânea captura da discussão política pelo tema do aborto afetou a própria avaliação do tipo de voto dedicado à candidata. A chamada "onda verde" foi atribuída por não poucos analistas a uma maré conservadora. Segundo a explicação, que não resistiu a dados objetivos, os votos adicionais no PV teriam contemplado a única postulante de fé inquestionável e adversária do aborto.
Marina parece ter sido vítima de uma variante interpretativa do "preconceito de classe" de que se queixava Lula. Mulher de pele escura, ex-empregada doméstica, nascida na Amazônia, alfabetizada na adolescência e firme na crença evangélica só poderia ter crescido na preferência de eleitores incultos. Nunca, na de jovens e profissionais urbanos, de classe média ou alta, sensíveis a propostas ambientalistas e ao discurso por mais ética na política.
A mensagem da ambientalista está impregnada de abstrações e bom-mocismo, ninguém duvida. "O novo milênio que se inicia exige mais solidariedade, justiça dentro de cada sociedade e entre os países, menos desperdício e menos egoísmo", prega na carta aberta que endereçou a Dilma e Serra. Ressalte-se, também, que a faceta "século 21" da senadora destoa de posições principistas, ou mesmo retrógradas, que assumiu, quando ministra, contra células-tronco embrionárias e alimentos transgênicos.
Seria sinal de miopia, contudo, deixar de ver que na trajetória de Marina suas crenças particulares têm evoluído para se tornar mais congruentes com as políticas que advoga. O fulcro de sua proposta está em reformular o conceito de desenvolvimento, que doravante implicaria novas formas de explorar os recursos naturais. Nessa linha, formou uma equipe competente e apresentou ao menos o que se poderia chamar de um programa de governo.
Se conta com a força das ideias cujo tempo chegou, como assinala em sua carta ao citar Victor Hugo, só o próprio tempo dirá. Marina terá quatro anos pela frente para demonstrar que é capaz de transcender os limites do discurso verde e de seu partido.
Observação da autora do Blog: Marina não se declarou neutra e sim INDEPENDENTE!

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