terça-feira, outubro 19, 2010

Saída independente

Saída independente
JANIO DE FREITAS – Folha de São Paulo
A confusão entre o que foi do PV e o que foi de Marina Silva, no desempenho do 1º turno, requer ponderações
SOB A "INDEPENDÊNCIA" decidida pelo Partido Verde no segundo turno, ficou um truque para superar a situação embaraçosa que sugeria descambar para a divisão. A independência não se perderia apenas pelo apoio a um ou outro candidato. A depender de como isso se fizesse, poderia até afirmá-la. Mas entre as eminências verdes há uma corrente seduzida pelo oportunismo, no pior sentido, e as negadas conversas com José Serra ocorreram, de fato.
Neutralidade, que afinal é a posição de equidistância adotada, era pouco como bandeira para os contrários a negociações. Sempre caberia opor-lhe argumentos de pragmatismo político, o mesmo que levara a participações no governo de Lula e em outros, até no pefelista-demista de Cesar Maia. Diante disso, a palavra e o conceito de neutralidade foram sufocados. Em seu lugar foi posta a "independência" como primeira grande atração para o "projeto Marina presidente em 2014". Ficar contra "independência" e, ainda por cima, contra o projeto, era demais para os oportunistas: melhor serem oportunistas ali mesmo.
Em habilidades e ardis, os verdes parecem prontos para o salto. Mas a confusão entre o que foi seu e o que foi de Marina Silva, em pessoa, no bom desempenho de primeiro turno, precisa passar por ponderações. Para não manter a ilusão de que circunstâncias especiais de ontem são garantias de um futuro certo e fácil.
VIDAS
Ficaram amigos quando estudantes. Ao chegar à maioridade, tomaram rumos diferentes na escolha política, um como liberal de senso humanitário, outro encaminhando-se para esquerda, e logo para o PCB em período bastante radical. Mas o fizeram, coisa incomum então e por décadas adiante, sem macular a amizade e sem perder o convívio. Assim foi desde os primeiros anos 30 do século passado. Em muitas ocasiões, sob os riscos de desafiar a repressão ditatorial, fosse a de Getúlio ou a dos militares.
Já como o caçado Toledo do comando da ALN, que fundara com Marighela, Joaquim Câmara Ferreira soube que o filho atendera a todas as exigências para ver-se admitido em cargo técnico da Cesp, a energética paulista, mas tivera o acesso barrado por ser filho de quem era. Câmara telefonou para o presidente da empresa e narrou-lhe, por certo com o jeito sereno de sempre, o ocorrido ao filho.
A sequência não tardou. Lucas Nogueira Garcez telefonou para o general Médici, no auge furioso da ditadura. Não lhe tomou o tempo: "Presidente, quero avisá-lo de que estou nomeando o filho de Joaquim Câmara Ferreira. Se houver reação, eu me demito".
O episódio, que dispensa saberem-se as providências do ditador, diante da ousadia, para evitar a demissão, foi narrado por familiares de Joaquim Câmara Ferreira à margem da cerimônia com que a Câmara Municipal de São Paulo o homenageou.
Discreto e pacato, Lucas Nogueira Garcez merece ser lembrado por mais do que os altos méritos do seu governo em São Paulo. Foi, tanto quanto amigo, um homem de caráter. Ou aquilo porque isto.
A OBRA
Se era tentativa de contribuir com algum humor para a campanha tão entediosa de que é parte, o coordenador de infraestrutura de José Serra, Sergio Kobayashi, foi um fracasso. Essa de dizer que é só coincidência ser sua irmã, Arlety Kobayashi, dona da gráfica que imprime milhões de boletins contra Dilma Rousseff, e por ela e o PT considerados insultuosos, não avançou do cinismo ordinário nem para o grau de humor de esquina.
Menos mal fizeram os padres comprometidos com a sordidez: deixaram a face à mostra.

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