sexta-feira, novembro 05, 2010

Sem limites

Sem limites
RUY CASTRO – FOLHA DE SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO - Uma amiga me envia, assustada, cópia de uma redação escolar que circula na internet. É um trabalho de sala de aula. Tem 20 linhas, foi escrito a mão e parece produzido por um aluno da 7ª ou 8ª série -13 ou 14 anos?-, não sei em que colégio ou Estado do Brasil. O tema é o homossexualismo. O garoto não se conforma com a existência de tantos "gueis e sapátas" à sua volta.
O tom da composição é de ódio e ameaça. Se, em vez de palavras, o menino usasse qualquer ferramenta, teríamos uma grave ocorrência policial. Mas a violência já está na própria linguagem com que ele se expressa. "Esses bando de filho duma éguas não tem vergonha na cara deles mesmos própios", diz. "Eles deveriam morrer para sempre da vida eterna".
"Eu não tenho nada contra nem a favor, muito pelo contrário", continua, num lampejo de culpa que logo se dissolve. "Eu fico é puto com esse negócio de cú (çanecagem) entre eles. Deixo minha indignação (tou puto mesmo) e peço os corretos que intenda minha revolta". Outros trechos da redação são marcados por "é foda", "esses viados" e "vão pra puta que pariu".
Como alguém tão pouco à vontade com a língua pode passar da 2ª ou 3ª série? Isso é o ensino no Brasil? E o que permite que um estudante brasileiro componha tal redação em aula e a entregue à professora? Onde estão os limites que deveriam balizar a postura do aluno em face da autoridade ou de uma pessoa mais velha? E se este não for um caso isolado?
A professora anotou 27 erros na redação - na verdade, são mais de 50. Deu zero ao garoto e escreveu ao pé da página que encaminharia o texto à direção do colégio. Se for uma escola pública, tudo bem. Mas, se for um colégio particular, arrisca-se a ser suspensa ou despedida por contestar a paupérrima, miserável expressão de um aluno em dia com suas mensalidades.

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