segunda-feira, outubro 11, 2010

Não é trivial

Não é trivial
Alon Feuerwerker – Correio Brziliense
Construir o monopólio do poder a partir de uma situação em que as massas estejam satisfeitas com a vida material, reduzindo a política a atividade apenas de alguns políticos: eis o sonho de todo candidato a líder inconteste. Ou déspota, conforme o ângulo de visão
O militante oposicionista chinês Liu Xiaobo foi premiado com o Nobel da Paz. O noticiário carimba-o como “dissidente”. A escolha das palavras é uma atividade fascinante. Por que “dissidente”, e não “oposicionista”?
Talvez considerem que em determinadas situações dissentir seja a versão mais radical da atitude corriqueira de oposição. Ou é o verbo adequado a situações em que se opor vira tarefa perigosa para além da rotina. Vai saber.
De todo modo, a premiação de Xiaobo abre um debate sobre as características do socialismo chinês, sobre os limites da fórmula prosperidade+controle.
A China vem exibindo ao mundo nas últimas três décadas belíssimas curvas de crescimento econômico e inclusão social. Pelas leis da inércia, bastará àquela grande nação esperar com calma o dia de liderar o planeta, econômica e militarmente. Seria questão apenas de calendário.
É espantoso que um país de tais dimensões geopolíticas e com esse brilhante futuro projetado não consiga conviver com uma oposição política pacífica, só por ela transbordar os limites do Partido Comunista.
A China tem lá seus motivos para enxergar-se pressionada do exterior. Especialmente quando entra em pauta a integridade territorial do país. Há a divergência sobre Taiwan e as pressões independentistas, no Tibet e em áreas de forte presença muçulmana. Todos problemas reais.
Mas a encrenca maior é outra.
Para inocular prosperidade social numa sociedade atrasada, a elite dirigente do país vem há mais de trinta anos abrindo a economia a investimentos de fora e também incentivando internamente a atividade econômica privada.
Por não haver almoço grátis, essa nova sociedade civil, urbana e próspera, entra em contradição com o monopólio do poder pelo Partido Comunista, ainda que o PCC tenha absorvido, no período recente, mecanismos internos de alternância não traumáticos.
O mesmo temor bloqueia maiores atrevimentos democráticos na cúpula cubana. Também vem daí o impasse aparentemente eterno na Coreia do Norte.
Ao menos nos países em que até agora se tentou implantá-lo, o socialismo parece precisar bastante de capitalismo para sobreviver, ou para fazer sobreviver politicamente o grupo dirigente.
Mas a prosperidade trazida pelo uso intensivo do capitalismo produz novos e mais fortes atores, e eles entram em contradição com o desenho político que luta para persistir.
É o nó chinês. Observado com atenção e curiosidade no mundo todo.
Construir o monopólio do poder a partir de uma situação em que as massas estejam satisfeitas com a vida material, reduzindo a política a atividade apenas de alguns políticos: eis o sonho de todo candidato a líder inconteste. Ou déspota, conforme o ângulo de visão.
Mas congelar a História nunca é trivial.
Tarso
Números tomados por si podem ser a origem dos mais terríveis enganos. O que os 46% e os 48% de Luiz Inácio Lula da Silva nos primeiros turnos de 2002 e 2006 têm a ver entre si e com os 46% de Dilma Rousseff em 2010?
Pouquíssimo. A proximidade numérica apenas mascara a mudança de perfil. O PT desloca-se para as profundezas do Brasil, enquanto os adversários do PT consolidam posições no pedaço mais moderno e economicamente dinâmico.
Resumindo, os votos do PT em 2002 eram para o partido. Em 2010 estão misturados aos votos do governo. Votos que costumam ser oferecidos a qualquer governo.
O mapa eleitoral mostra a dificuldade de o PT estabelecer ou retomar a hegemonia nas regiões mais prósperas do Sul/Sudeste/Centro-Oeste. Quanto mais forte e expressiva a classe média, maiores as dificuldades relativas do petismo.
Talvez este fim de coluna tenha a ver com o começo dela.
E o Rio Grande do Sul? Parece que ali o PT conseguiu reeencontrar alguns elos que o ligam ao Brasil moderno.
Por quê? Houve o caos político dos últimos quatro anos. E há também certos traços favoráveis da personalidade política de Tarso Genro.

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