quarta-feira, agosto 04, 2010

LUIZ GARCIA: Quadro eleitoral

O GLOBO

As eleições deste ano podem ser as mais limpas da história recente da República. Pelo menos, se valer o exemplo de São Paulo. Lá, ainda faltando a análise de cerca de 700 candidatos a candidaturas, a Procuradoria Eleitoral do estado já impugnou 45 candidatos, e ainda falta analisar a situação de cerca de 700.
É uma situação inédita. Ainda bem que não se deve a um surto de desonestidade na classe política do estado: trata-se de bendita consequência da Lei da Ficha Limpa, que está estreando nas eleições nacionais.
Sem surpresa para a plateia, Paulo Maluf está na lista. Foi condenado, já em segunda instância, por superfaturamento numa compra de mais de uma tonelada de frangos quando era prefeito de São Paulo, ao preço de R$ 1,39 milhão. E também responde a processo criminal em Nova York por crime financeiro. São Paulo — a propósito, por coincidência ou por ter o maior colégio eleitoral do país — é campeão em impugnações: são 45 candidatos sob risco de serem mandados para o chuveiro antes de o jogo começar.
Igualmente deixando os espectadores bocejando de tédio, o Maranhão é vicecampeão de impugnações, com um total de 42 casos. Mas a Justiça Eleitoral do estado, ignorando o que decidira o Tribunal Superior Eleitoral, preferiu ignorar os casos de candidatos condenados antes de 4 de junho deste ano. Aqui no Rio, o TRE julgou, entre 32 outros casos, a candidatura de Anthony Garotinho, e lhe deu ganho de causa, pelo menos até o julgamento definitivo pelo TSE.
Como se vê, a nova lei pode fazer muito para limpar o quadro eleitoral. Mas os partidos ainda podem fazer bastante para sujálo. E até de maneira surpreendente. Não há outro adjetivo para a história, ainda mal contada, de uma carta anônima supostamente produzida por petistas para sujar a ficha do ministro da Fazenda — e, se alguém esqueceu, também petista — Guido Mantega. No documento, uma filha do ministro é acusada do feio pecado de tentar tráfico de influência no Banco do Brasil.
Curiosamente, ninguém no PT optou pela saída de acusar a oposição pela autoria da tal carta. O presidente do partido, José Eduardo Dutra, preferiu alegar que a carta anônima não é um dossiê e não se sustenta. Tem até razão. Não deve ter sido por acaso que a oposição deu sinais claros de que não pretendia acumular capital eleitoral com o episódio. O senador Sergio Guerra, presidente do PSDB, deu o tom: “Eles são viciados em dossiês... são cheios de hábitos estranhos.” Foi apenas uma alfinetada — mas mais ferina que uma cacetada.

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