quarta-feira, agosto 04, 2010

Uma aula imperdível por trás dos monumentos históricos

Uma aula imperdível por trás dos monumentos históricos

“Eu os levei, cabe a mim trazê-los de volta”. Foi com esse sentimento nacionalista que o Marechal Mascarenhas de Moraes teve a ideia de criar o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, como homenagem aos combatentes brasileiros que deram a vida no conflito e que estavam enterrados no cemitério de Pistóia, na Itália. Conhecida também por “Monumento aos Pracinhas”, a obra completa 50 anos em 2010.
Assim como este monumento, várias outras estátuas, construções, locais históricos, centros culturais e museus guardam capítulos dos mais importantes da formação política, econômica e social do Brasil. São espaços que, quando trabalhados com a orientação adequada, podem propiciar ao estudante conhecer muito mais do que os fatos retratados nos livros escolares. A forma como foram construídos, os conceitos empregados pelos autores e todo o simbolismo pelos quais são envolvidos proporcionam verdadeiras aulas, não só de História, mas, sobretudo, de formação para a Cidadania, que podem ser até mais atraentes que as ministradas em muitas salas pelo país.
Mas, ao que parece, as escolas não têm aproveitado nossos espaços históricos como recursos para tornar o aprendizado mais interessante. No caso do Monumento aos Pracinhas, isto é bastante visível. Dos cerca de 1.500 visitantes que a construção recebe por mês, a maior parte é formada por turistas estrangeiros ou que vêm de outros estados. “Percebo que a visitação pelo próprio carioca é muito pequena, exceto quando há um grupo de estudantes vindo com as escolas”, comentou o diretor do Monumento, tenente-coronel Sérgio Henrique Cunha Freire.
No caso do Monumento aos Pracinhas, os professores poderiam utilizá-lo, por exemplo, para inspirar uma aula sobre Segunda Guerra Mundial, na parte de História do Brasil. Por sinal, a construção tem justamente o objetivo de divulgar e relembrar a participação brasileira no conflito, como salienta o historiador do Exército, o 1° tenente Edgley Pereira de Paula. Segundo ele, uma das vantagens de uma aula no local é a possibilidade de acesso a recursos e informações que boa parte das escolas não têm.
“Há painéis explicativos, objetos ligados à participação brasileira no conflito. A documentação toda desse período está no monumento, como os decretos, as plantas originais do local, arquivos da FEB”, cita o historiador, que também salienta as possibilidades do local como fonte de pesquisa para estudiosos. “Há uma bibliografia específica, memórias dos generais que estiveram à frente dos combates, comentários de historiadores, entre outras informações.”
Edgley ratifica a importância da visita a pontos histórico-culturais, como o Monumento. Segundo ele, seria importante se esta prática fosse mais comum nas escolas, pois acrescentaria qualidade ao ensino. Além disto, destaca o historiador, os professores poderiam ir além das aulas expositivas, associando a teoria à prática.
“Na Era Vargas, por exemplo, um fato muito importante foi a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. É muito mais interessante e vai agregar muito mais conhecimento ao estudante se a aula for dada no próprio Monumento. Com o agendamento da visita, os alunos terão o acompanhamento de uma museóloga, que poderia dar informações sobre alguns itens do acervo e de fatos ocorridos na Guerra. Isso iria enriquecer a visita”, garante o historiador.
De acordo com o tenente-coronel Freire, o Monumento dispõe de um auditório para cerca de 50 pessoas, material audiovisual e todo o acervo do museu, disponíveis para as escolas que visitarem o local. Para ele, deveria ser uma constante no sistema educacional brasileiro, principalmente na disciplina de História, que fosse estimulada a visita a locais histórico-culturais.
“A exploração desses espaços seria uma maneira didática e complementar a esse ensino, um conhecimento que ficaria gravado na mente dos alunos para o resto da vida. Ouvir a história dos franceses na Baía de Guanabara, da fundação da cidade do Rio de Janeiro, do Mem de Sá, dentro de uma sala de aula e aqui no Monumento, olhando para onde tudo aconteceu, não tem como se comparar”, afirma o tenente-coronel Freire.
Construções como o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra podem contribuir para o trabalho pedagógico sobre vários outros temas, não necessariamente de História. Um dado possivelmente pouco retratado nos livros da disciplina, até por não ser uma informação essencialmente histórica, era o caráter multirracial do grupo de militares brasileiros. Uma característica que, segundo o também historiador do Exército, o major Raphael Laurino, reflete o processo de formação étnica e cultural do Brasil. Segundo ele, todos os outros países contavam com tropas nas quais as unidades eram compostas por pessoas de um determinado grupo étnico.
“Os americanos tinham uma divisão da infantaria, que era só de negros. No exército inglês, havia a divisão indiana. Os franceses contavam com unidades de marroquinos, argelinos. Todas com integrantes da mesma etnia. Até na prisão, havia essa separação. Nós participamos da guerra, mas não admitíamos essa divisão racial e étnica. Isso não faz parte da nossa cultura. Além dos fatores econômicos, havia a questão racial”, lembra o major Raphael Laurino, ao comentar sobre uma guerra em que os alemães pregavam a existência de uma raça pura, a ariana, ideal rejeitado pelos brasileiros, não só ideologicamente, mas, na frente de combate. Mais uma de muitas histórias que existem por trás dos nossos monumentos.

Saiba mais sobre o Monumento aos Pracinhas
A Segunda Guerra Mundial ocorreu de 1939 a 1945. Assim como vários países, o Brasil enviou tropas para enfrentar as forças do Eixo, formadas, principalmente, por militares da Alemanha, Itália e Japão. Os brasileiros chegaram para o combate na Europa em 1944 e retornaram no mesmo ano em que acabou o conflito.
Porém, a construção do Monumento só foi iniciada em 1957, após o reconhecimento das autoridades da época e a aquisição dos recursos necessários para viabilizar o projeto, de autoria dos arquitetos Marcos Konder Netto e Hélio Ribas, com obras dos escultores Júlio Catelli Filho e Alfredo Cheschiati, e do pintor Araújo Madeiros. Estava prevista uma área total de 10 mil m², dos quais 6.900 m² de área construída.
Com a presença do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, o “Monumento aos Pracinhas” foi inaugurado no dia 5 de agosto de 1960, e passaria a constituir um patrimônio das Forças Armadas. “No dia 22 de dezembro, chegavam ao Brasil os restos mortais dos brasileiros mortos na guerra, que foram transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB). Houve um cortejo do Palácio Duque de Caxias, no Centro, até o Monumento, localizado no bairro da Glória. Temos uma farta documentação e coleção fotográfica desse evento. O Monumento tem como missão guardar os restos mortais dos combatentes e preservar a memória da participação do Brasil na Segunda Guerra”, conta o tenente-coronel Freire.
O Monumento é composto por um museu, uma plataforma e um mausoléu. A visitação está aberta de terça a domingo, das 10 às 16 horas. As segundas-feiras são reservadas à manutenção e, por isto, não ocorrem visitas. O espaço cultural conta com objetos pessoais dos pracinhas, armaria empregada durante a guerra e um acervo histórico, composto por quadros, pinturas, gravuras, mapas, cartas militares e documentos, entre outros objetos.

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