quinta-feira, outubro 14, 2010

Adeus, mundo cruel

Adeus, mundo cruel
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
AS CONSTANTES PRESSÕES e mudanças da sociedade contemporânea fazem com que muitos se questionem até que ponto serão capazes de aguentar. Pouco importa.
Surda a qualquer apelo, a evolução tecnológica continua a progredir em um ritmo exponencial, transformando as formas de pensar, comunicar e interagir em uma velocidade sem precedentes.
Mas a capacidade de adaptação humana começa a dar sinais de esgotamento. Já faz algum tempo, por exemplo, que a depressão se tornou uma pandemia no mundo ocidental. O número de casos diagnosticados vem crescendo em todas as faixas etárias, e são poucos os especialistas que duvidam que ela se torne uma das maiores doenças do mundo.
É assustador o Admirável Mundo Novo. Intimidados com a violência mostrada pela mídia e amplificada pelo fetiche masoquista da internet, muitos acreditam que a realidade é muito mais selvagem do que, de fato, é. O estresse cotidiano, o trabalho sem sentido e a infraestrutura precária das grandes cidades só reforçam esse quadro.
Os valores de uma cultura são definidos por quem conta suas histórias. Antigamente essa função era dividida entre o Estado, a Igreja, a Família e a Escola. A falência progressiva dessas instituições que, pragmáticas, se rendem aos desejos de consumo de seus membros, faz com que boa parte dos ideais seja hoje definida por grandes corporações, mais preocupadas em vender coisas do que em criar relações.
À medida que boa parte da interação social pode ser feita sem contato físico, a paranoia e a frustração com o estado das coisas criam em muitos um desejo de isolamento e de controle das relações sem precedentes, com resultados assustadores. Até a publicidade, que sempre explorou consumidores intimidados e desprotegidos, parece perdida em um ambiente social cada vez mais infantilizado, mimado e dependente.
Quando um indivíduo fragilizado a esse ponto é contrariado, ele se fecha para o mundo. No Japão, os reclusos são tantos que têm até nome: são os Hikikomori, confinados por si próprios a um regime de isolamento de impressionar presidiários. Alguns fugiram de escolas rígidas; outros se frustraram com um trabalho sem horizontes; outros se desiludiram com amigos ou amores. Praticamente nenhum deles teve disposição para enfrentar a situação.

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