quinta-feira, outubro 14, 2010

Nhonhô e sinhá

Nhonhô e sinhá
FERNANDO RODRIGUES – Folha de São Paulo
BRASÍLIA - A regressão do debate eleitoral não ocorre só por causa do fundamentalismo religioso adotado "con gusto" pelos dois concorrentes ao Palácio do Planalto. Há também nas propagandas uma forte conotação assistencialista.
O candidato nhonhô José Serra (PSDB) promete salário mínimo de R$ 600 e um 13º aos beneficiários do Bolsa Família. A sinhá Dilma Rousseff (PT) fala em distribuição de remédios e luz de graça para pobres. Não há um trecho das propagandas eleitorais sugerindo como os brasileiros, eles próprios, têm também de participar do processo de desenvolvimento do país.
É como se só o Estado com suas tetas enormes estivesse obrigado a ser o provedor de tudo. Esse discurso glorifica e incentiva o eleitor pidão, um "não cidadão", alguém que olha o governo e só vê uma entidade abstrata, cujo dinheiro surge por geração espontânea.
Dilma e Serra falam sobre valores e desenvolvimento. Mas nenhum menciona o quanto cada eleitor terá de trabalhar para tornar realidade o Brasil mostrado no horário político pelas lentes digitais com "efeito de cinema".
É uma atitude cômoda. Dilma e Serra manipulam as crenças e a fé da massa maior de eleitores. Gente a favor de manter como crime a prática do aborto. Não fosse por Marina Silva, paradoxalmente a mais conservadora, nenhum tema relacionado ao século 21 teria aparecido na campanha.
Depois de 25 anos de democracia, faltou coragem aos candidatos a presidente com chance de vencer. Evitam tratar os eleitores como adultos. Seria ingenuidade esperar de Dilma ou de Serra uma frase igual à pronunciada por John Kennedy em 1961, ao tomar posse -"não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país".
O Brasil está a léguas desse estágio de maturidade. PT e PSDB, nesta campanha, fazem o possível para manter tudo como está.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

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