domingo, outubro 17, 2010

Capitalização: minoritários pagam a conta

Capitalização: minoritários pagam a conta
Humberto Viana Guimarães – Jornal do Brasil
 A emissão de ações pela Petrobras, no dia 24 de setembro, fez com que o valor de mercado da companhia subisse para US$ 220 bilhões, e é a maior capitalização já feita na história do capitalismo, declarou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ou, como disse o presidente Lula: Nunca antes na história da humanidade.. De fato, é um acontecimento alvissareiro, visto que a empresa anunciou ter levantado R$ 120,36 bilhões, algo em torno de US$ 70,30 bilhões (BC, 24/09, venda: 1 US$ = R$ 1,7120).
Gostem ou não alguns reticentes, esse sucesso deve-se à Lei nº 9.478 de 06/08/1997 (Lei do Petróleo), que fez com que a Petrobras desse um salto. Quando da comemoração dos dez anos da citada lei, realizada na Firjan, assim declarou, com a sinceridade que lhe é peculiar, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli: A lei foi muito boa para os concorrentes da Petrobras, mas também foi boa para a Petrobras porque a expôs a um ambiente de competição, que a forçou a enfrentar um mundo de disputas.
O presidente Lula, quando do lançamento da plataforma P-57, no dia 7 de outubro, em Angra dos Reis, declarou: Na hora em que a Petrobras resolveu acreditar e ousar, deu um salto de décadas. E tem razão o senhor presidente da República: a Petrobras, com as vantagens da Lei do Petróleo, acreditou nos benefícios da mesma e, quando o fez, deu um grande salto, e que salto! Bem, passada a euforia, é hora de analisar objetivamente os números apresentados. Primeiramente, temos que observar o que realmente entrou como dinheiro vivo, ou seja, cash, pois é com ele que a Petrobras poderá contar efetivamente. Como sabemos, a capitalização foi dividida em duas classes de investidores, ou seja, de um lado a União, com a cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal (da Bacia de Santos), e do outro os investidores minoritários (brasileiros e estrangeiros).
Analisemos o investimento que corresponde à União. Como é sabido, foi fixado o valor de US$ 8,51 para o preço do barril da cessão onerosa. Assim, multiplicando 5 bilhões de barris pelo valor unitário, teremos um total de US$ 42,550 bilhões, o que dá um total de R$ 72,846 bilhões.
Desta forma, do total da capitalização  R$ 120,36 bilhões , os restantes R$ 47,51 bilhões, equivalentes a US$ 27,75 bilhões, foram capitalizados com dinheiro vivo pelos minoritários e é com esse dinheiro assegurado que a Petrobras poderá contar.
Alguém pode perguntar: E o dinheiro que corresponde ao governo na capitalização quando entrará efetivamente no caixa da Petrobras?. Essa é uma pergunta a que ninguém poderá responder com total segurança, por uma simples razão. Como dito mais acima, a parte que toca à União foi paga com barris de petróleo que virão da camada do pré-sal. Sabemos que esse petróleo está localizado em águas ultraprofundas em torno de 7 mil metros o que vai requerer, além do desenvolvimento de altas tecnologias para a sua exploração e produção, investimentos bilionários. Na melhor das hipóteses, se não houver nenhuma surpresa, o pré-sal deverá começar a jorrar petróleo a partir de 2014, alcançando o pico em 2030. O Plano de Negócios 2010-2014 (pág. 13) prevê que em 2014 o pré-sal estará produzindo 241 mil barris/dia e em 2020, 1,078 milhão/barris/dia, ou seja, somente daqui a quatro anos é que a Petrobras começará a ver a cor do dinheiro da capitalização da União.
Aí está uma equação que a Petrobras terá que resolver a curto prazo, pois ela não poderá contar com a capitalização virtual da União, e sim com a sua geração de caixa e com os US$ 27,75 bilhões capitalizados pelos minoritários, que não serão suficientes para a estatal cumprir o seu Plano de Negócios, que prevê investimentos de US$ 224 bilhões (média de US$ 44,80 bilhões/ano).
Ademais, é importante ressaltar que a dívida da estatal está em torno de R$ 108,2 bilhões (fonte: Petrobras, 17/08/10), valor esse perto do limite de endividamento de US$ 131,82 bilhões (35% de US$ 220,00 bilhões).
Diante desse panorama, só há uma saída para que a Petrobras cumpra os seus objetivos: é necessário que, a partir do próximo ano, seja aumentada a participação dos investidores minoritários, de preferência brasileiros, ou estrangeiros até um limite de 47%, garantindo, assim, que a União continue como majoritária na estatal. Recordemos que, além de pesados investimentos em E & P, temos que construir gasodutos, oleodutos e, principalmente, as refinarias Comperj, do Nordeste, e as Premium I e II.
Como bem disse o grande líder chinês Deng Xiaoping: Devemos absorver mais capital externo e mais experiências e tecnologias avançadas do estrangeiro. Não se deve temer a pecha de se estar praticando capitalismo. Capitalismo não é coisa a temer (A China de Deng Xiaoping O homem que pôs a China na cena do século 21, Michael E. Marti, Ed.

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