sábado, setembro 11, 2010

ANIVERSÁRIO DE ÓDIOS E PAIXÕES

ANIVERSÁRIO DE ÓDIOS E PAIXÕES
EDITORIAL - O GLOBO - 11/9/2010
Como nos anos anteriores, haverá cerimônias oficiais nos três locais onde os terroristas atacaram: no Pentágono, onde estará o presidente Obama; no Marco Zero, para onde vai o vice Joe Biden; e em Shanksville (Pensilvânia), onde caiu o quarto avião sequestrado, com a presença da primeira dama, Michelle Obama, e de sua antecessora, Laura Bush.
Mas o nono aniversário do 11 de Setembro não é como os anteriores. O clima de homenagens à memória dos 3 mil mortos nos atentados foi contaminado por ódios e paixões depois de dois episódios: a proposta de um imã nova-iorquino para construir uma mesquita a duas quadras de onde ficavam as Torres Gêmeas; e a decisão de um obscuro pastor evangélico da Flórida de queimar o maior número possível de alcorões (livro sagrado dos muçulmanos) - decisão suspensa até segunda ordem, depois de pressões de Washington.
São testes extremos para as liberdades religiosa e de expressão nos EUA. A primeira permite a construção de um templo muçulmano em Manhattan (ou em qualquer outro lugar dos EUA). Mas não deveria pelo menos ficar mais longe do local da tragédia maior de 11/9? - perguntam muitos americanos, completamente divididos a respeito. Mas que tipo de mensagem enviaria aos países islâmicos qualquer manobra que obstruísse a construção?
Já a liberdade de expressão permite ao pastor Terry Jones levar adiante seu plano macabro de queimar alcorões. Os mais altos escalões do governo americano imploraram-lhe que atentasse para os efeitos sobre a segurança do país. Quantos homens-bomba se ofereceriam para vingar a infâmia? O pastor, que tem (ou tinha) apenas 50 fiéis, parece ter adiado seu intento, exigindo um encontro com o imã que promove a mesquita em Nova York.
O presidente Barack Obama está no meio do tiroteio político-religioso, ainda mais que ambas as questões são exploradas pelas forças em luta na campanha para as eleições de meio de mandato (Câmara, Senado e governos estaduais), em novembro. Conservadores de todos os matizes aproveitam que Obama teve de fazer uma intervenção maciça na economia em crise para chamá-lo de "socialista". Incendiários da direita aloprada pregam-lhe o rótulo de "muçulmano", por ele ter nome árabe e vivido na Indonésia. Obama mantém o sangue frio e a moderação que o caracterizam. Na Casa Branca, disse que o 11/9 seria "uma excelente ocasião" para o país refletir sobre o fato de que há milhões de muçulmanos cidadãos americanos.
O nono aniversário do 11/9 é muito diferente dos anteriores. Um ano e oito meses depois da posse, o clima no governo Obama também. Herdeiro de uma guerra inútil (Iraque), de outra desastrosa (Afeganistão), da maior crise econômica desde a Grande Depressão e confrontado pelo maior desastre ambiental do mundo, sua popularidade despenca. Mas ele tem também muito a mostrar: a histórica reforma do sistema de saúde; a ação que evitou o colapso da economia em 2008/2009; a retirada das tropas de combate do Iraque, como prometera; o necessário reforço da presença americana no Afeganistão; uma eficiente iniciativa para melhorar o ensino nos EUA.
Infelizmente, o país está ainda mais dividido pela velha política obstrucionista em Washington, que Obama sonhou superar, e pelas forças obscurantistas que se agitam em datas como o 11/9.

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