sábado, setembro 11, 2010
"O Brasil não vai votar num envelope fechado"
"O Brasil não vai votar num envelope fechado"
Serra ataca duramente a adversária do PT e o governo Lula e também se diz otimista com a possibilidade de haver segundo turno
MÍRIAM LEITÃO: A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) foi divulgada esta semana. Dá para ver que, nos últimos cinco anos, houve aumento de renda, mas o melhor ano foi 1996. O acesso à telefonia, depois da privatização, aumentou 300%. E, na educação, os avanços são lentos, mas foram um pouco mais rápidos no governo Fernando Henrique. O ex-presidente não aparece em seu programa, e o presidente Lula aparece. O senhor tem vergonha do legado tucano? Gostaria de ser o candidato do presidente Lula?
SERRA: Nunca me passou pela ideia ser o candidato do Lula. Nem por vontade própria, nem por vontade provavelmente recíproca. O PT colocou na pauta que a campanha deveria se orientar pelo debate entre os governos Lula e Fernando Henrique. Muitos jornalistas, muita gente entrou nessa. De fato, esta eleição não está decidindo entre governo Fernando Henrique e governo Lula, até porque as circunstâncias são totalmente diferentes. Se você verificar as entrevistas que eu dei, discursos, verá que, a todo momento, entro em análises do que aconteceu no passado e agora. E tenho outra coisa de que, graças a Deus, eu me orgulho: não tenho que ficar, a cada momento, revisando meu passado. Nem guardo num cofre trechos da minha história, que é mais ou menos conhecida. Então, tenho muita paz em relação a essas circunstâncias do passado, comparações etc. Fui ministro do Fernando Henrique. Tudo que foi feito na Saúde, na minha época, foi com a cobertura dele. Isso é mais ou menos óbvio.
MÍRIAM: Mas não é falar do passado para ficar nessa discussão sobre o que foi melhor. É para que se possa entender quais são as ideias da candidatura, o que foi feito quando vocês estiveram no poder. Por que a pessoa do seu partido que governou o Brasil oito anos não aparece?
SERRA: Mas a todo momento ele esteve comigo. A estratégia de programa de televisão é uma. A estratégia política de falar para a mídia é outra. A estratégia de comício é uma terceira. Essa história de que eu fico pondo o Lula (no programa eleitoral) não é verdade. Apareceu num clipe que era para comparar, mostrar até que a candidata Dilma não tem história. Quem são as duas pessoas que estão aí? Eu sou candidato, e o Lula é o patrono (de Dilma), praticamente o candidato de novo. Lula está se candidatando por meio dela. Então, sublinhamos: o Lula tem história? Tem. Alguma experiência? Tem. Eu também. E ela, nenhuma. Ao contrário, (o uso do Lula) foi numa perspectiva crítica. Então, a partir daí, fixou-se jurisprudência. Acho que é muito folclore isso.
ILIMAR FRANCO: Existe uma crise da representação política. Se for eleito, o senhor colocaria como uma das prioridades promover uma reforma política? E que reforma política, que ideia defenderia?
SERRA: A questão essencial é a eleitoral neste momento. Tenho uma proposta concreta que acho que começaria a mudar o sistema político brasileiro. É de implantar o voto distrital em municípios que têm segundo turno, onde há mais de 200 mil habitantes. Por exemplo: o Rio tem quantos vereadores? Cinquenta? Você dividiria o Rio em 50 distritos e elegeria um vereador para cada distrito. Por que esse voto distrital puro? Porque a população se sentiria muito mais representada e cobraria de quem fosse eleito. Você introduziria no Brasil o vírus benigno do voto distrital e da melhor representação. Se depois vai fazer distrital misto ou voto de lista, é outra história. Começaria por aí. A questão é melhorar a representação, o controle sobre aquele em quem o eleitor votou. Outra coisa que eu mexeria é na história do horário, que não é gratuito. É tudo, menos gratuito. Primeiro, porque as empresas de comunicação descontam no Imposto de Renda. Segundo, porque é uma fortuna fazer uma campanha em que se acaba vendendo candidato, em alguns casos - no meu nunca aconteceu -, como se fosse iogurte, sabonete, sapato de praia. Fantasiando inteiramente. No meu ver, tem que ter a câmera e o candidato. Programa político eleitoral não é de entretenimento. Se a política é chata, é chata. Eu também limitaria, pela legislação, a questão dos nanicos, de partidos de aluguel.
RICARDO NOBLAT: O senhor disse que comentou com o Lula, em janeiro, a respeito da eventual quebra de sigilo de sua filha, Verônica. Estavam surgindo dados, em blogs e em sites, que indicavam que poderia ter havido quebra de sigilo da Verônica. Em outubro do ano passado, que, aliás, foi quando houve a quebra de sigilo, o "Jornal do SBT" publicou reportagem sobre venda de dados sigilosos em SP. E até ouviram o senhor porque havia ali elementos que mostravam a quebra de sigilo de pessoas importantes, o senhor, a sua família, o presidente Lula. Quando foi exatamente que o senhor começou a ter maior segurança de que isso tinha acontecido?
SERRA: Eu nunca dei declaração sobre essa conversa (com Lula). Eu fiz um comentário numa emissora de TV, onde eu ia dar uma entrevista, e alguém ouviu e passou para o jornal. Então, ficou uma história mal explicada. No dia 25 de janeiro, teve o aniversário de São Paulo, e o Kassab convidou o Lula. E, depois da reunião, nós conversamos. Eu disse ao Lula que ia ser candidato a presidente. Estava aquela onda na imprensa de sai ou não sai (candidato a presidente). Eu já tinha tomado a decisão de sair, e transmiti ao Lula. Ele nunca passou isso para fora. Foi discreto a esse respeito. A conversa girou em torno disso. No final, eu passei a ele cópias de blog de amigos dele e do blog de amigos da Dilma. E o blog tinha coisas sujas a respeito da minha filha, da minha família. Então, eu dei a ele. Falei: "Olha, se puder parar isso". Minha filha me disse que deviam estar quebrando sigilos porque existiam dados, segundo ela, que só estavam no IR. Mas ela também não tinha certeza. Foi isso. Ocupou 5% do tempo da conversa. Isso foi tudo. Agora, essa questão de outubro, eu não sabia. Foi a Verônica que começou a me dizer que achava estranho, ela e meu genro... Há uma indústria de blogs mantida pelo PT. Ou mantém pagando no bolso direto, ou mantém através de terceirização. A TV Brasil paga a gente que tem blog sujo. É uma remuneração indireta. E que se dedicam (os blogs) à difamação. No caso do Eduardo Jorge, dos outros (tucanos), foi em função de campanha eleitoral. Desde 2006, havia "dossiês" com coisas delirantes de quando ela (a filha) morava nos Estados Unidos. Vocês não imaginam a sujeira que é isso. Quebrou (o sigilo) de mais gente, então, não é o PT. Claro que foi. Agora, pode ter usado um pé de chulé qualquer que chega lá e pega? Pode.
NOBLAT: Essa reportagem de outubro era sobre quebra de sigilo, sobre venda na Rua Santa Efigênia de dados sigilosos... Sobre um site que falava de dados sigilosos. Mostrava os de Lula, do filho do Lula, do senhor, de pessoas da sua família. E lá, nessa reportagem, o senhor já comenta isso. Diz que é um crime, que tem que ser combatido. O que eu pergunto é: isso já acontecia há mais tempo, não é o fato de acontecer agora... (Serra interrompe Noblat)
SERRA: Mas eu não tinha essa consciência. E também teria que se comprovar. Vou ser bem franco: vejo gente aí escrevendo que eu quis aproveitar, divulgar, me fazer de vítima e etc. Sabe qual foi a minha primeira reação quando soube da (quebra de sigilo) da Verônica? Não foi a de divulgar. Você não quer ver nome de seus familiares exibidos. Depois, ela trabalha, uma pessoa que não tem nada a ver com política. Por mim, não teria divulgado para não trazer amolação para ela. Sempre tive essa preocupação.
NOBLAT: Mas uma crítica que se faz é que o senhor deu muita importância a esse assunto - não que ele não merecesse - e está, com isso, tentando recuperar, eventualmente... (Serra interrompe)
SERRA: É uma crítica imbecil, primeiro, de quem não quer gastar neurônios para pensar no que está acontecendo. Segundo, é tipicamente de um comitê petista. Ou o sujeito que tem medo de patrulhamento. Não tem pé nem cabeça isso.
JORGE BASTOS MORENO: O senhor acredita que, após esta eleição, vai haver uma mexida partidária, independente de uma reforma política? O nível que está a campanha eleitoral para presidente adia um pouco um projeto, que é o sonho de muitos tucanos e de muitos petistas, não sei se é o seu também, de, no futuro, esses dois partidos (PT e PSDB) se unirem através de projetos comuns, já que eles nasceram, praticamente, afinados um com o outro?
SERRA: Não conheço esses tucanos. Devem ser mais exóticos ainda do que o tucano natural. Tem uma diferença PSDB-PT com relação à concepção do que é partido, do que é democracia, liberdade. Isso é antagônico. Não significa que não tem gente dentro do PT, gente dentro do outro lado que não tenha mais afinidade. Estou dizendo como partido, como instituição. Agora, eu eleito presidente, a parte política, pode está certo, será bem conduzida. Eu, no Ministério da Saúde, consegui aprovar seis leis importantes, que marcaram o sistema de saúde no Brasil. Mais uma emenda constitucional com o apoio da oposição. Sempre atendi todos. Eu conheço. Sei como são, como funciona a vida parlamentar. Eu creio que o governo Lula foi e tem sido um dos mais fracos da História em matéria de Congresso Nacional. Do que eu me lembro, realmente, só não foi mais fraco do que o do Collor. Estou me referindo ao período da democratização. Tudo lá, cada voto, tem que recompor a maioria e tem que ceder mais cargos porque, como começou assim, cria um círculo vicioso.
MERVAL PEREIRA: O PSDB tem a tradição de vencer em São Paulo. O senhor foi eleito prefeito e governador. No entanto, nas duas campanhas presidenciais, em 2002, o senhor perdeu para o Lula em São Paulo; agora está perdendo para a Dilma em São Paulo, enquanto Alckmin, em 2006, ganhou com uma diferença de quase 4 milhões de votos e Fernando Henrique ganhou, em 94 e 98, com cinco milhões de votos de diferença. Como o senhor explica esse insucesso no momento em São Paulo, estado que o senhor governou, e como o senhor imagina ganhar uma eleição perdendo no estado que governou?
SERRA: Não imagino; nós vamos ganhar em São Paulo. Não estou perdendo. Eleição não é uma partida de futebol. Eleição só tem um lance, um gol, que é no final. Então não considero que estou perdendo. O fato é que eu fiquei mais distante de São Paulo, a campanha só começou em agosto, tem o peso em relação a Dilma, da popularidade do Lula...
ELIO GASPARI: O que o senhor pretende fazer para colocar em funcionamento, de maneira eficaz, duas iniciativas nascidas no governo FH que atravessaram a atual administração sem resultados significativos. Primeiro, o ressarcimento ao SUS pelos planos de saúde de despesas feitas na rede pública para atendimento de seus clientes. Segundo, a generalização do cartão do SUS, pelo qual cada cidadão poderá ter, num só plástico, os dados relativos ao seu atendimento médico na rede pública.
SERRA: Essas foram iniciativas minhas no governo Fernando Henrique. Foram ideias minhas. E não tivemos tempo de concluir ou de implantar efetivamente. Por exemplo, o cartão SUS, eu comecei, consegui financiamento, e a gente pensava que o próximo governo desse sequência, e eles deixaram para trás.
ANCELMO: E essa questão do ressarcimento?
SERRA: Lógico, não tem nada mais justo. Estávamos nessa batalha, era uma batalha jurídica. Aprovou-se uma lei, as pessoas reagiram contra, com bons advogados, com a experiência que eles têm no setor, e nesse contexto é que mudou o governo e foi tudo deixado de lado. Até porque a ANS passou a ser loteada. Porque uma coisa gravíssima no Brasil foi o loteamento dessas agências de Estado, porque não são de governo, são de Estado. Isso é uma aberração. Isso é uma coisa que vai ter que se consertar no Brasil.
ZUENIR VENTURA: Quando foi que a sua campanha errou, se é que errou?
SERRA: Eu estou muito no calor da campanha para fazer uma análise a esse respeito. Não vejo erro. Às vezes as circunstâncias são mais fortes... Eu nunca na vida fiz passa-moleque. Aqui se diz isso (risos)? Quando você engana o outro, você faz um passa-moleque. É uma uma rasteira, combina uma coisa e faz outra. Posso ser chato, duro (...) Eu sou muito atento, mas eu tive um que foi o maior da minha vida, que foi o do Osmar Dias. Estava tudo combinado e de repente... Eu tenho um defeito em política, acredito que, quando a gente combina uma coisa, o outro vai cumprir. Se você disser, isso foi um erro? Pode ter sido, mas...
ZUENIR: Eu vi uma declaração atribuída ao ex-presidente Fernando Henrique que parece uma tentativa de explicar isso. Ele teria dito que o senhor não está sintonizado com o país, mas que há condições de mudar isso. O senhor concorda?
SERRA: Eu não vi essa declaração, sinceramente.
ARTUR XEXÉO: As pesquisas eleitorais, de certa forma, antecipam o resultado da eleição. Conheço eleitores seus que não têm mais esperança na sua vitória. Quando o senhor acorda e tem uma agenda enorme de campanha pela frente, o senhor acha que ainda vale a pena? O senhor acredita numa virada?
SERRA: Acho que vai ter uma virada. Se você me acompanhasse todo o período em que estou acordado, veria que estou com uma energia que não tive na minha vida. Essa energia provém de uma convicção de que vou ganhar. Do que provém essa convicção? O Brasil não vai votar num envelope fechado. É demais isso. Eu acredito que as pessoas vão se dando conta, sobretudo nessa reta final. Sobre pesquisas, posso dar exemplos de viradas e não viradas.
VERISSIMO: Entre várias semelhanças, numa coisa os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula são diferentes: na política externa. Se eleito, voltará a política antiga, menos terceiro-mundista e mais alinhada com os Estados Unidos?
SERRA: Farei outra política. No caso da família Verissimo, houve uma alternância. Leiam o livro "O senhor embaixador", do Erico Verissimo. Vocês vão ver que ele era admirador do Foster Dulles (ex-secretário de Estado americano na Guerra Fria, opositor do comunismo). Tem lá uma apologia porque o personagem está andando pelas ruas de Washington, quando o grande estadista Foster Dulles morreu. O filho passou para o lado contrário em matéria de questão externa. Vou ter uma política própria. Pega a política do Lula: primeiro teve muita promoção política, na época do Fernando Henrique também. Eu acho bom. Em geral, eu vou viajar menos pelo mundo. Na parte comercial, houve pouca agressividade comercial. No Lula menos ainda que no Fernando Henrique. No governo Fernando Henrique, investiu-se muito tempo no Mercosul. Não é aquela coisa simplificadora de que sou contra o Mercosul. O que tinha que ter sido feito era uma zona de livre comércio. Depois se faria uma união alfandegária. Mas isso é fruto de um amadurecimento, de décadas. Quiseram fazer logo de cara. Resultado: não funcionou. Na questão externa, de tarifas com o resto do mundo, de políticas comerciais, não se avançou como se devia na zona de livre comércio. O governo Lula fez más del mismo. E aí usando só para frufru. Para festival, chefes de Estado. A Venezuela entrar no Mercosul é uma piada. Acho que o governo Lula, em matéria de promoção comercial, não avançou nada. Teve um dado que eu levantei: houve cem tratados de livre comércio no mundo desde 2003, e o Brasil assinou apenas um. Com Israel, ainda com as restrições de que não pode ser das áreas contestadas dos assentamentos em terras palestinas. O Brasil vai ser o quinto PIB do mundo e, de cem tratados, só fez esse? O que foi feito é que, para entrar no Conselho de Segurança, ficaram-se abrindo embaixadas. A fatia do Brasil no comércio exterior mundial é a mesma. Apesar do boom de preços das exportações brasileiras, ficamos com a mesma fatia. O que me leva a desconfiar que, em termos físicos, se fosse possível calcular, nós diminuímos a participação no comércio mundial. Vamos fazer uma política agressiva de comércio exterior, de defesa comercial. Reconhecemos a China como uma economia de mercado a troco de quê? É uma medida cucaracha de política externa. Qualquer economia moderna, eficiente, competitiva tem mecanismos de defesa comercial. Finalmente, o Brasil não vai mais ter carinho e amizade por ditadores, por fascistas do século XXI.
FERNANDO CALAZANS: O Brasil será sede nos próximos anos dos dois maiores eventos esportivos do planeta: a Copa e os Jogos Olímpicos. Como o senhor pretende controlar os gastos públicos, que, nesses casos, sempre superam o que estava previsto - ou por superfaturamento ou por atraso nas obras. E segundo, no plano da segurança, o que pode ser feito?
SERRA: A base do crime organizado no Brasil é o contrabando de armas e drogas. Entre tudo o que a Dilma disse, o maior absurdo foi num debate de televisão, quando disse que as nossas fronteiras são as mais bem guardadas do mundo. É exatamente o oposto. Carro roubado entra no Paraguai em troca de armas. Até jornais fizeram reportagens comprando arma na Bolívia. Isso é a base do crime organizado. O preço da cocaína no Brasil caiu 50 vezes nos últimos 15 anos. Então, você tem aí um problema de oferta que é anterior e superior a todos os outros problemas, por incrível que pareça, porque é a base do crime organizado, e por isso que eu quero criar o Ministério da Segurança Pública. O governo federal não tirar o corpo fora como faz hoje. Você vê, a única proposta que o PT está fazendo, que a Dilma está fazendo, é criar UPP em todo Brasil, como se isso fosse a fórmula mágica. Uma medida que funciona no Rio restritamente. A solução para o Brasil é essa? Imagine. Com toda droga, essa coca, e essas armas que entram. Então, esse é um ponto. Como tem Copa e Olimpíada, naturalmente vai ter uma segurança muito reforçada, e isso não me inquieta. Quanto à questão de fazer, tudo ficou para o próximo governo. Tudo. Vai ter fazer isso direito, tem que sair. É um compromisso que um governo assumiu festivamente para o outro cumprir, e vai ter cumprir mesmo até porque são boas oportunidades. Para não ter superfaturamento precisa ter planejamento e, segundo, não deixar roubar. Negócio de roubar é não deixar. Não deixar, e dar o exemplo de cima. Isso é muito importante. Quando você tem uma autoridade que começa errado, a coisa vai para baixo com uma legitimidade que não tem tamanho.
NOBLAT: O senhor acha que o governo deixou roubar?
CANDIDATO: Eu acho que deixou. Não estou dizendo no caso da Copa, porque nem começou.
JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS: As atuais leis de incentivo à cultura têm, entre outros vícios, o de incentivar artistas e produtores poderosos que, a rigor, não precisariam de incentivo algum. Como o senhor vai mudar isso?
SERRA: O exemplo clássico é o Circo de Soleil, que teve incentivo. Acho que isso não deve acontecer. Isso foii decidido e aprovado por um conselho. Então não é erro da lei, mas da aplicação da lei.
CORA RÓNAI: Outro dia, o senhor falou que Índia e China seriam países com projeto de nação. Eu queria saber o que isso significa e saber o que falta ao Brasil para que possa ser considerado um país com projeto de nação?
SERRA: A China e a Índia têm mais ou menos claro para onde querem ir em matéria de desenvolvimento, defendem seus interesses na política internacional, de economia, política-política, não são exibidos. Defesa de interesse não é exibição, são discretos. No fundo, (o que acontece hoje), é o seguinte: estamos caminhando para voltar ao modelo hasta fuera de crescimento de antigamente, diante dos anos 30. Ou vamos ser um país industrial aberto mas competitivo. Hoje está caminhando para trás. Acho que a minha eleição representará no sentido do Brasil perseguir um modelo de crescimento sustentado com indústria da vanguarda junto com a agricultura.
ARNALDO JABOR: Agora que o Lula está atacando frontalmente sua campanha: quando o senhor vai defender o governo anterior? Quando vai mostrar à população que, sem o Plano Real, sem as leis que o governo anterior criou, como responsabilidade fiscal, privatizações, consolidação da dívida interna, telefonia, o governo Lula seria apenas um populismo virtual?
SERRA: Vou mostrar ao Jabor o estoque de debates, discursos, gravações, para ele poder ter uma ideia mais realista sobre o que a campanha está fazendo.
ARNALDO BLOCH: Em abril, Chico Buarque confessou a uma revista francesa que vai votar na Dilma porque é a candidata do Lula e disse: "eu gosto do Lula". Em seguida, acrescentou que não vê grande diferença se o Serra ganhar: "A Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença." Meses depois, Cacá Diegues, numa entrevista em que não declarou seu voto, disse a mesma coisa: "Em linhas gerais, não vejo grande diferença." Ontem (anteontem), a candidata Marina, aqui neste auditório, também disse isso: "Não vejo muita diferença entre Serra e Dilma." De onde vem essa noção de que o senhor é parecido com a Dilma? E como é sua relação hoje com a classe cultural?
SERRA: Vindo da parte do Chico esse comentário, acho até uma colher de chá. Vindo da parte do Cacá, que é meu colega da UNE, fiquei curioso. Acho que há uma diferença imensa. Mas acho que, apesar de tudo, ele (Cacá) vai votar em mim. Mesmo achando que dá na mesma. Acho que é mais uma posição política com relação a uma certa insatisfação, que eu não sabia, de condução da campanha do que propriamente em relação à minha pessoa. Quero dizer que respeito, o Cacá é muito inteligente. Ainda bem que não li isso antes. Na campanha, não posso ter estresse. Você falou da cultura. Eu tenho amigos na área da cultura, mas nunca desenvolvi uma política junto aos artistas, aos fazedores de cultura mais ativos. Mas, em compensação, na prefeitura e mesmo no governo federal, eu meti o bico. Inclusive houve um projeto de recuperação do patrimônio histórico que foi ideia minha. Quando eu estava no Planejamento, o BID financiou. Sempre fui muito ligado, até porque na universidade eu cheguei a ser ator, diretor do grupo teatral da Politécnica. Na prefeitura, criei a Virada Cultural, que foi um sucesso estrondoso em São Paulo. Agora foi feita no Rio também. E no estado, o orçamento que mais cresceu foi o da cultura.
ANCELMO GOIS: Fernando Henrique Cardoso prometeu duas vezes que a questão da violência urbana seria prioridade. Não foi. Lula também prometeu aqui que a questão da violência urbana seria um prioridade. Não foi. Por que acreditar que com o senhor vai ser uma prioridade?
SERRA: Porque o que falo eu faço.
ANCELMO: Já Fernando Henrique e Lula...
SERRA: Não estou dizendo que é o caso dele (Fernando Henrique). Tudo o que o Ministério da Justiça tem em matéria de segurança foi criado na época do Fernando Henrique. Houve alguns equívocos, por exemplo, a Secretaria Nacional Antidrogas. Ele fez uma péssima nomeação. Resultado: uma coisa nova, boa, acabou naufragando, não fazendo o que deveria ter feito. Mas tomou as iniciativas. Depois (no governo Lula) só se fez fru-fru.
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