sábado, setembro 11, 2010

Plínio de Arruda Sampaio

Plínio de Arruda Sampaio
10/09/2010 - 15:34 – Marcelo Migliaccio – Jornal do Brasil
Conheci Plínio de Arruda Sampaio (conheci não, falei com ele apenas uma vez) durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Acompanhei o esforço dele e dos outros deputados chamados de "esquerda" para introduzir na nova Constituição tópicos que melhorassem um pouco a vida do trabalhador brasileiro, tão vilipendiado ao longo da nossa história.
Mas a briga não era fácil. Do outro lado, o lado da concentração de renda, estava um grupo apelidado de Centrão, que de centro não tinha nada, era de direita mesmo.
A Suderj informava: "Entra em campo o Centrão, com Roberto Campos, José Lourenço, Jarbas Passarinho, Roberto Cardoso Alves, Gastone Righi, Arnaldo Faria de Sá, Amaral Neto, Luis Eduardo Magalhães, Marco Maciel, Inocêncio de Oliveira e Roberto Jefferson.
E mais uns 300 deputados e senadores no banco de reservas.
A seguir, surgia do túnel à esquerda o time adversário: Plínio Arruda Sampaio, Lula, Fernando Henrique, Genoíno, Paulo Paim, Cristina Tavares, Edmilson Valentim, Mario Covas, Luiz Gushiken, Florestan Fernandes e Lysâneas Maciel.
E outro catatau de gente se aquecendo para entrar no tapete verde e travar uma batalha verbal com o pessoal que não queria mudar nada naquele país arcaico e quase feudal que teimava em existir.
Plínio de Arruda Sampaio, que agora se torna conhecido de muito mais gente como candidato do PSol à Presidência, foi um político que aprendi a admirar de longe durante aquelas votações. Pela coerência e, principalmente, pela sua educação no trato político, mesmo com adversários às vezes truculentos e intransigentes.
Certa vez, já na campanha presidencial de 1989, o jornalista Ferreira Neto, que apoiava Collor descaradamente, chamou o então Caçador de Marajás alagoano para uma entrevista em seu programa de TV. Não chamou Lula, como mandava a lei, e a Justiça o obrigou a fazê-lo à força, para uma entrevista que duraria o mesmo tempo que a de Collor. Como Lula não pôde ir, mandou seu companheiro petista Plínio, que ouviu a respondeu pacientemente a todas as perguntas provocativas de Ferreira Neto.
Perguntas do tipo:
- Se o PT ganhar a eleição a classe média terá de dividir seus apartamentos com os mendigos da esquina?
Plínio respondia a absurdos como esse didaticamente, com respiração inabalável. E eu em casa pensando: por que ele não manda esse entrevistador às favas?
Ao final do programa, porém, enquanto Ferreira Neto fazia o tradicional encerramento, o parlamentar levantou-se subitamente e foi embora, sem se despedir e nem sequer olhar para trás. Um final constrangedor para uma entrevista indecente.
No dia 5 de outubro de 1988, quando recebi meu exemplar da nova Carta, vi que vários jornalistas estavam pedindo autógrafos a constituintes. Fiz o mesmo. E, ironicamente, fiz questão de pegar uma assinatura do deputado baiano José Lourenço (PFL), justamente um dos que mais acenara com o fantasma de um golpe militar a cada votação que avançasse nos direitos dos trabalhadores. Ele me olhou desconfiado, porque sabia que era uma ironia. Mas assinou.
Além de Lourenço, pedi autórgrafos ao Vladmir Palmeira, ao Genoíno e ao Plínio, que levou um susto quando me aproximei.
Visivelmente feliz e orgulhoso com o fã inesperado, ele assinou e, de todas, a sua é a que mais prezo quando abro o já amarelado livro para recordar o passado.
Agora, dou risada com o Plínio defendendo a limitação das grandes propriedades rurais e a estatização total da saúde e da educação. Dá até vontade de votar nele.
Mas, infelizmente, não sou mais um adolescente e já me falta coragem para grandes aventuras.
Em todo caso, me orgulho de ter compatriotas como Plínio de Arruda Sampaio.

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