sábado, setembro 11, 2010

Brasil, ponte Cuba-EUA?

Brasil, ponte Cuba-EUA?
CLÓVIS ROSSI – Folha de São Paulo
Financiamentos como o que o Brasil fez no porto cubano de Mariel pode abrir a ilha ao "inimigo"
FIDEL CASTRO pode até ter sido mal interpretado pelo jornalista norte-americano ao qual decretou a queda em desuso do modelo cubano até para uso interno, o que dirá para exportação. Mas os cubanos com certeza já sabiam há bastante tempo que é verdadeira a conclusão que Fidel Castro agora renega.
Tanto sabiam que, há muitos anos, o delicioso humor caribenho batizara o regime de "sociolismo". Uma mistura de socialismo com ócio. Após Raúl Castro assumir o lugar do irmão, ficou oficialmente estabelecido que não era ironia mas fato: um quinto da força de trabalho cubana é "redundante", no neologismo oficial. Na vida real, é ociosa, mas o Estado paga os salários.
Não dá mais para pagar, do que deriva a necessidade das "reformas", também oficialmente anunciadas, quando o poder passou de um Castro para o outro.
Como serão, está por ver. O certo é que os atuais governantes farão o diabo para manter o que puderem de poder. Ou, como disse a Flávia Marreiro, desta Folha, Anya Landau French, diretora do programa para a política EUA-Cuba na New America Foundation, "muitos querem manter suas cotas de poder, querem manter suas conexões com as fontes de recursos".
Foi ou está sendo assim em todas as transições do comunismo para o capitalismo. Na ex-União Soviética e em seus ex-satélites, até se adotaram regras democráticas ou mais ou menos democráticas, mas, pelo menos no primeiro momento, os "comunistas reciclados" mantiveram o poder -e os negócios.
Na China e no Vietnã, preferiu-se o rótulo "economia social de mercado", eufemismo para capitalismo com forte intervenção estatal e partido único.
À espera do caminho que Cuba seguirá, vale perguntar: o que o Brasil pode fazer a respeito? Já está fazendo, é a resposta de autoridades brasileiras.
Já está, por exemplo, trabalhando, via Petrobras, na área de combustíveis. Já está dando cooperação técnica para a produção de soja, uma maneira de romper a virtual monocultura da cana de açúcar que marca a economia cubana.
E já está, acima de tudo, financiando a reforma do porto de Mariel, a 50 quilômetros de Havana, ao custo de US$ 300 milhões. Mariel foi notório como ponto de partida do êxodo em massa de cubanos nos anos 80. Mas, agora, "Mariel só faz sentido se for para negociar com os Estados Unidos", avalia Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático de Lula e coordenador do programa de governo de Dilma Rousseff.
Negociar com os Estados Unidos, hoje por hoje, é impraticável. Mas o governo brasileiro tomou boa nota de afirmação do presidente Barack Obama, no primeiro encontro com Lula após a posse: disse que pretendia normalizar as relações com Cuba até o final do seu mandato. O prazo vence logo (em pouco mais de dois anos).
Se o modelo já não serve para Cuba, só existe uma alternativa: o capitalismo, ainda que à chinesa ou vietnamita.
Os Estados Unidos (e o Brasil) não têm o menor problema em negociar com ditaduras desde que estejam dispostas a fazer negócios.

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