terça-feira, setembro 28, 2010

Chávez perde maioria absoluta no Congresso

Chávez perde maioria absoluta no Congresso
O Globo
Oposição volta ao jogo político na Venezuela com mais de um terço das cadeiras
 O presidente Hugo Chávez perdeu a maioria absoluta no Congresso venezuelano, com a qual governou confortavelmente nos últimos cinco anos. Embora ainda tenha maioria simples, seu partido elegeu 98 deputados, e não conseguiu os dois terços necessários para aprovar as polêmicas leis orgânicas sem precisar negociar com a bancada opositora. A oposição conquistou 65 cadeiras, mais de um terço da Assembleia Nacional, e voltou ao jogo político.
O resultado é um revés no almejado projeto bolivariano de Chávez, que já se dizia em campanha para renovar o mandato, em 2012.
As primeiras parciais foram divulgadas oito horas após o fechamento das urnas, causando tensão no país. Para Julio Borges, um dos líderes da Mesa da Unidade Democrática, coalizão opositora, mensagem clara foi dada ao presidente: “Não queremos o caminho radical do governo.
Sem maioria absoluta, Chávez sofre duro revés
Oposição volta ao jogo político e poderá bloquear polêmicas leis orgânicas
Elianah Jorge
 Ao perder a maioria absoluta na Assembleia Nacional, com a qual governou confortavelmente nos últimos cinco anos, o presidente Hugo Chávez sofreu também um duro revés em seu projeto bolivariano.
Apesar de conquistar a maioria simples no Congresso, o partido do presidente não conseguiu eleger os dois terços de deputados necessários para aprovar as polêmicas leis orgânicas sem precisar da oposição. Atualmente, a ampla maioria que o governo detém no Congresso o permite aprovar todas as medidas sugeridas pelo presidente.
A oposição, que havia boicotado as últimas eleições legislativas, em 2005, voltou ao jogo político e conquistou mais de um terço das cadeiras, com o que poderá frear o projeto bolivariano. Foram eleitos 98 deputados pró-governo, 65 de oposição, e dois do Pátria Para Todos (PPT), dissidência do partido de Chávez, o PSUV. Os dois deputados do PPT devem sofrer agora assédio dos dois lados, já que a oposição necessita de 67 deputados para impedir que Chávez possa governar por decreto.
Os primeiros resultados da votação do último domingo demoraram oito horas para serem divulgados, provocando críticas de opositores e causando nervosismo e tensão nas linhas chavistas. Centenas de pessoas aguardaram o presidente na frente de uma varanda do Palácio de Miraflores, de onde Chávez costuma aparecer para fazer discursos importantes. Na madrugada de ontem, no entanto, a varanda presidencial ficou vazia. O presidente só se pronunciou oficialmente muitas horas mais tarde.
— As eleições foram uma importante vitória para a revolução socialista do país, apesar de a oposição dizer o contrário — afirmou o presidente.
Resultado dificulta reeleição
Por sua vez, o governista PSUV, que atualmente detém 139 cadeiras no Congresso, admitiu que não alcançou a meta desejada.
— Alcançamos um importante resultado eleitoral, uma luta dura nessa batalha. Claro que montamos uma meta de alcançar os dois terços, não foi possível consegui-lo, mas o resultado nos coloca e nos reafirma como primeira força política do país — afirmou o deputado eleito Aristóbulo Istúriz, chefe de campanha do partido.
Em todos os 23 estados, a oposição conseguiu ao menos uma cadeira no Congresso. Em Miranda e Sucre, houve empate no número de parlamentares eleitos, seis e três, respectivamente.
Mas foi em Zulia, perto da fronteira com a Colômbia, e responsável pela produção de mais de 80% do petróleo nacional, que o partido de Chávez sofreu uma derrota contundente: 12 candidatos eleitos pela coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD) contra três do governista PSUV.
Apesar de comemorar o que considerou uma vitória, a oposição afirmou que o resultado não corresponde ao número de votos que teria obtido nas urnas, 52% — contando com o PPT. O presidente Hugo Chávez, no entanto, contesta os números e se diz certo de que o desempenho dos adversários foi pior que o alardeado — devido ao complexo e polêmico sistema de distribuição de cadeiras na Venezuela.
A conquista da oposição deve dificultar uma possível tentativa de reeleição de Chávez em 2012, baseada no voto popular. Para um líderes da MUD, Julio Borges, o recado está dado: — É uma mensagem clara: nós não queremos o caminho radical do governo.
Hoje, Chávez é minoria.
A oposição não tinha representação no Congresso desde as eleições de 2005. Na ocasião, a abstenção nas urnas chegou a 70%, um forte contraste com as eleições de domingo, que teve a participação de 67% dos mais de 17 milhões de venezuelanos inscritos.
Em Nova York, no intervalo de uma reunião da Assembleia Geral da ONU, o chanceler Celso Amorim elogiou a oposição por participar do pleito.
— A oposição às vezes é muito incômoda.
Mas é importante (ela existir) para discutir e dialogar — afirmou lembrando que o boicote em 2005 não contribuiu para a democracia.
O resultado abre agora uma nova fase na política venezuelana.
Nos três meses que restam até a posse dos deputados eleitos, a base governista pode se ver tentada a acelerar a aprovação de reformas, aproveitando o poder quase total que os chavistas desfrutam no Congresso. O chefe de campanha do PSUV exortou ontem a população a “impulsionar aceleradamente o processo de mudança”.

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