terça-feira, setembro 28, 2010

Observando os átomos em ação

Observando os átomos em ação
Vencedor do Prêmio Nobel, Ahmed Zewail apresenta no Rio microscópios em 4D
Cesar Baima – O Globo – 28/09/2010
Ahmed Zewail
Imagine não apenas conseguir ver um átomo, mas acompanhálo em ação enquanto participa de reações químicas ou faz parte do mecanismo de uma nanomáquina.
É neste estágio que se encontra atualmente o limite da observação humana do universo do muito pequeno, conta Ahmed Zewail, vencedor do Prêmio Nobel de Química de 1999 que fez uma das principais palestras do 17o Congresso Internacional de Microscopia, no Rio de Janeiro. A microscopia eletrônica em quatro dimensões já é uma realidade que vai permitir um novo salto na nanotecnologia, além de avanços em áreas tão diversas quanto as indústrias farmacêutica, biomédica e a pesquisa de novos materiais, acredita.
— Todo fenômeno acontece em três dimensões de espaço e uma de tempo. Antes, tínhamos a habilidade de ver as células e até os átomos, mas ainda não tínhamos o elemento tempo — conta. — Agora, podemos ver as reações de forma dinâmica, numa escala de um milionésimo de bilionésimo de segundo, que é a escala de tempo que os átomos reagem.
A sintonia fina das reações químicas
Durante séculos, os cientistas acreditavam que seria impossível visualizar o ultrarrápido movimento das reações químicas. Zewail, no entanto, encarou o desafio e, desde os anos 1980 realiza experiências na área, sendo considerado um dos fundadores da “femtoquímica”, referência ao “femtosegundo”, ou quadrilionésimo de segundo, a unidade de tempo das reações no nível atômico. Para se ter uma ideia de quão curto ele é, um femtosegundo está para um segundo assim como um segundo está para 32 milhões de anos. Segundo Zewail, a nanotecnologia é um dos setores que mais deverá se beneficiar com a nova técnica, pois poderia ser feita uma sintonia fina das reações químicas.
— Com a microscopia eletrônica em 4D podemos ver os processos enquanto eles acontecem. Assim, se compreendermos o comportamento dos átomos em uma reação, podemos também controlá-la — explica.

— Ela é a chave para novas descobertas.
Ver é crer e, se não vemos um objeto no espaço e no tempo, temos dificuldades em entender o que ele é ou faz. Basta lembrar que, ainda no século XIX, as pessoas sabiam que existiam moléculas, mas não podiam vêlas.
Foi só com o avanço da microscopia que atingimos este mundo.
Para Zewail, seu trabalho é uma mostra de que a pesquisa em ciência básica não tem que ser separada ou receber menos atenção e investimentos que a pesquisa aplicada. De acordo com ele, apenas quando as duas caminham juntas é que verdadeiras revoluções acontecem.
— É uma ficção erguer uma fronteira entre a pesquisa básica e a aplicada.
No processo da descoberta e da inovação, não é isso o que acontece.
É a pesquisa básica que guia a aplicada e o surgimento de novas tecnologias — argumenta.
Egípcio naturalizado americano, Zewail defende que mesmo países pobres ou em desenvolvimento devem investir na ciência básica, que considera um importante caminho para escapar destas condições.
— Acredito que quando um país tem uma base fraca na pesquisa básica, ele sempre será uma nação em desenvolvimento, pois nunca está criando conhecimento, apenas comprando — avalia. — A falta de recursos é sempre uma desculpa, mas não é preciso fazer tudo. Se o processo de fomento for estruturado de forma séria, podem-se escolher áreas específicas e atingir a excelência nelas. O Brasil, por exemplo, está indo muito bem nesta direção. Estou impressionado com o crescimento da importância do país em várias áreas e justamente esta é a hora de investir mais em pesquisa básica — aconselha.
De acordo com Zewail, é apenas com o avanço do conhecimento que será possível enfrentar os grandes dilemas deste século, como o terrorismo e o crescente esgotamento dos recursos naturais: — O conhecimento é uma força contra a ignorância. Precisamos introduzi-lo como forma de nos entendermos melhor uns aos outros.

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