terça-feira, setembro 28, 2010

O enfraquecimento dos Estados Unidos

O enfraquecimento dos Estados Unidos
RODRIGO BOTERO MONTOYA – O Globo
 A mudança nas relações de poder entre as nações raramente ocorre de maneira tranquila. O surgimento de uma nova potência, ou o debilitamento de uma potência estabelecida, gera descontinuidade nas relações internacionais que costuma ser acompanhada de turbulências. Durante o século XX, as tentativas da Alemanha e do Japão de modificar pela força os equilíbrios de poder que prevaleciam em suas respectivas regiões tiveram consequências que ainda perduram.
O mundo teve a sorte de experimentar uma modificação pacífica do equilíbrio precário de poder militar, graças ao colapso do comunismo a partir de 1989 e da subsequente dissolução do império soviético.
Em geral, as repercussões de mudanças significativas de poder econômico relativo entre as nações são menos traumáticas do que as modificações no equilíbrio de poder militar. A proeminência econômica mundial se transferiu do Reino Unido aos Estados Unidos no século passado, por motivos similares aos que conduziram Amsterdã a ceder a Londres a liderança comercial e financeira internacional no século XVII.
Na atualidade, observa-se a existência de um mundo unipolar em matéria militar, fenômeno que coincide com o enfraquecimento gradual da economia americana. A superioridade militar dos Estados Unidos sobre qualquer eventual adversário é indiscutível. O poderio militar americano carece de rivais, seja em termos de verbas militares, de armamentos ou de avanço tecnológico. A diferença em relação às demais nações, amigas ou adversárias, é de tal magnitude que o surgimento de uma potência rival a médio prazo parece pouco previsível.
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se encontravam numa posição de supremacia econômica comparável à que tinham no terreno militar. Essa simetria deixou de existir. A supremacia militar continua. Mais ainda, ela se incrementou com o desaparecimento da União Soviética. Por outro lado, a supremacia econômica e financeira pertence ao passado, ao menos em termos relativos. As potências tradicionais se recuperaram depois da devastação do último conflito mundial.
Apareceram novos protagonistas econômicos no denominado Terceiro Mundo. E, durante os últimos anos, a irresponsabilidade fiscal e o desarranjo financeiro debilitaram a solidez da economia americana. Os Estados Unidos se converteram em país devedor que depende dos fluxos de recursos externos para financiar a insuficiência de sua poupança interna.
O desacoplamento que teve lugar nos Estados Unidos é entre seu poderio militar e a solvência econômica requerida para torná-lo efetivo, sem desatender às prioridades domésticas inerentes a um Estado de bem-estar moderno. Essa dicotomia entre o gasto militar necessário para cumprir as responsabilidades de uma potência mundial e a capacidade econômica para financiá-lo com folga é insustentável a longo prazo. A curto prazo, está sendo necessário tratar de equilibrar as exigências do aparato de defesa nacional com as novas limitações orçamentárias originadas numa situação econômica precária.
Este é o tema que desenvolve Michael Mandelbaum em “The Frugal Superpower: America’s Global Leadership in a Cash-Strapped Era” (2010) (“A superpotência frugal: a liderança global americana numa era de dinheiro curto”, numa tradução livre).
Mandelbaum sustenta que, até há pouco, as intervenções militares dos Estados Unidos fora de suas fronteiras eram assumidas sem questionar seu custo. Esta situação mudou.
O secretário de Defesa, Robert Gates, ordenou uma redução no orçamento do Pentágono. O principal assessor militar do presidente Obama, almirante Michael Mullen, considera que o forte aumento da dívida pública é o principal desafio à segurança nacional americana.
Segundo Mandelbaum, os Estados Unidos foram criticados por terem poder demais. Mas o atual enfraquecimento dos Estados Unidos pode ter outros inconvenientes.
RODRIGO BOTERO MONTOYA é ex-ministro da Fazenda da Colômbia

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