terça-feira, setembro 28, 2010

Derretimento do gelo no ártico abre novas rotas marítimas para a Ásia

Derretimento do gelo no ártico abre novas rotas marítimas para a Ásia
Christoph Seidler e Gerald Traufetter – DER SPIEGEL
Na figura a linha amarela mostra o contorno do gelo Ártico há 2 anos.
O declínio da quantidade de gelo flutuante no Oceano Ártico está abrindo o caminho para novas rotas de navegação para a Ásia. Neste verão do hemisfério norte, o tráfico na região já foi significativo. E novos navios estão sendo projetados para suportar impactos de icebergs durante viagens pela região.
Eles estavam esperando encontrar blocos de gelo, icebergs e tempestades. Como medida de precaução, um navio quebra-gelo russo foi enviado para proteger o cargueiro MV Nordic Barents dos perigos do Oceano Ártico.
No entanto, a tripulação acabou se deparando com poucos pedaços de gelo que passaram pela embarcação em apenas duas ocasiões. "O quebra-gelo nuclear acabou servindo mais como peça decorativa", afirma Felix Tschudi, da companhia de navegação responsável pela viagem do navio carregado com minério de ferro concentrado. Nesta semana, após viajar 5.700 quilômetros pelo Mar Polar, o navio chegará ao porto chinês de Lianyungang – "e nós não tivemos que parar nem uma vez sequer", diz Tschudi com satisfação.
Com uma mistura de esperança e desconfiança, companhias de navegação, políticos e ambientalistas observaram até que ponto o gelo marítimo recuou em direção ao Polo Norte neste ano. Será que a redução da banquisa polar provocará em breve uma revolução nas rotas globais de navegação?
Há apenas algumas semanas, o navio-tanque russo Baltika, carregado com 70 mil toneladas de gás condensado, navegou sem problemas pelo Ártico, do porto russo de Murmansk à cidade chinesa de Ningbo. A navegação pela rota polar está se tornando gradualmente rotineira. Isso faz com que a Ásia fique mais próxima da Europa. A rota seguida pelo MV Nordic Barents, por exemplo, do porto norueguês de Kirkenes à China, foi reduzida em 50%. "Com isso nós passamos 15 dias a menos no mar", afirma Tschudi.
Estaria o oitavo oceano da terra se transformando de fato em um "Canal do Panamá Trans-antártico", conforme disse recentemente com grande satisfação o presidente islandês Ólafur Ragnar Grímsson? De fato, além de abrir a rota nórdica ao longo da Sibéria e da costa ártica russa até o Extremo Oriente, a mudança climática global está desbloqueando a Passagem do Noroeste – e criando um caminho marítimo que passa pelo centro do Ártico canadense. Nos 100 anos decorridos de 1906 a 2006, somente 69 navios, em sua maioria tripulados por exploradores e cientistas, aventuraram-se a fazer a viagem perigosa por essas águas repletas de gelo. Porém, somente no ano passado, o especialista em direito marítimo canadense Michael Byers contabilizou um total de 24 navios que navegaram por essa rota.
Projetos de novos navios para o gelo
Nos países que têm território no Círculo Ártico, uma nova frota de navios já está sendo criada, projetada para finalmente conquistar essa área e acrescentá-la às rotas globais de navegação. Entretanto, esses navios mercantes não serão capazes de dispensar completamente a proteção contra o gelo. "Mesmo durante os meses de verão, os navegadores esperam encontrar blocos isolados de gelo flutuante", explica o pesquisador do clima global Lawson Brigham, um ex-comandante de navio quebra-gelo e autor daquele que é provavelmente um dos mais abrangentes estudos sobre as novas rotas do Oceano Ártico.
Os russos são os mais ambiciosos. Em uma conferência sobre o Ártico realizada em Moscou na semana passada, eles anunciaram com orgulho planos para a construção de dois novos navios quebra-gelo nucleares dotados de reatores de 16 megawatts. Graças a um deslocamento ajustável, eles poderão ser utilizados também em águas rasas.
Ao mesmo tempo, os magnatas do setor de matérias-primas começaram a construir navios quebra-gelo para transportar petróleo, gás e minerais extraídos do Ártico:
- A Gazprom colocou em operação no campo petrolífero de Prirazlomnoye o primeiro dos seus dois navios cargueiros com cascos fortalecidos para enfrentar o gelo. Esta embarcação de 260 metros de comprimento é capaz de abrir caminho por uma camada de gelo de 1,5 metro de espessura.
- A companhia rival Lukoil construiu três navios similares para transportar petróleo do terminal de alto-mar Varandey, no Ártico, até Murmansk.
- Os cinco navios cargueiros da companhia de mineração de níquel Norilsk também podem se usados como quebra-gelos.
Até o momento, porém, as proas achatadas que esses navios usam para deslizar sobre a superfície do gelo e quebrá-lo mostrou ser ineficiente para a navegação em águas abertas. Isso fez com que a companhia de navegação Phoenix, em Leer, na Alemanha, projetasse um novo tipo de proa. O projeto vem sendo testado no canal de gelo da Hamburg Ship Model Basin (HSVA). "A eficiência desse modelo é impressionante", afirma Joachim Schwarz.
Schwarz, um ex-diretor da HSVA de grande experiência, pretende colaborar com institutos de pesquisa russos para possibilitar que os comandantes de navios naveguem pelo Oceano Ártico. “Com base em dados obtidos por satélites, haverá previsões constantes dos melhores canais para a navegação”, explica Schwarz. Isso é especialmente interessante na primavera e no outono, quando o frio e o vento criam barreiras de gelo com rapidez surpreendente.
As rotas continuam sendo perigosas
É precisamente devido a essa imprevisibilidade que especialistas como Brigham fazem advertências contra o excesso de euforia. Ele não acredita que no futuro uma grande quantidade de navios viajará de Roterdã a Tóquio por essas rotas setentrionais. “O que realmente vai aumentar é a remoção de quantidades enormes de matéria-prima do Ártico”, prevê Schwarz. Isso significa que haverá uma necessidade urgente de embarcações de resgate e abastecimento de combustível para ajudar rapidamente navios cargueiros em apuros.
A natureza potencialmente grave de tais incidentes ficou demonstrada em julho último, em um fato ocorrido ao largo da costa das Ilhas da Nova Sibéria. Dois cargueiros, navegando juntamente com um quebra-gelo, chocaram-se quando a embarcação que seguia na frente diminuiu de velocidade devido ao surgimento de uma grande quantidade de gelo.
Cada um dos navios estava carregado com 13,3 mil toneladas de óleo diesel. Mas a Companhia de Navegação Murmansk, a proprietária da embarcação, minimizou o acidente, afirmando que ele só provocou “alguns pequenos amassados e arranhões”. Segundo a companhia, o acidente não se constituiu em uma emergência mas sim em “uma situação operacional perfeitamente normal”.
Tradução: UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters