terça-feira, setembro 28, 2010

Defesa de liberdade opõe Dilma a radicais

Defesa de liberdade opõe Dilma a radicais
O Globo
Desde a publicação da denúncia de que a ministra Erenice Guerra convivia com um núcleo lobista familiar na Casa Civil, a imprensa independente voltou a ser alvo da artilharia petista.
Como no caso do mensalão, em 2005, vislumbrou-se uma fantasiosa intenção “golpista” por trás das reportagens, maneira risível de tentar encobrir fatos objetivos culpando o mensageiro da notícia.
A escalada lulopetista atingiu o máximo da insensatez quando o presidente, num comício em Campinas, assumiu a propriedade imperial da opinião pública, na tentativa de descredenciar a imprensa profissional. Em outro ato preocupante, menos pela dimensão e mais pelo significado, PT, CUT, MST e UNE convocaram manifestação, paradoxalmente num sindicato de jornalistas, o de São Paulo, na defesa nada velada do cerceamento da liberdade de imprensa. Em contrapartida, a fim de alertar para o fato de que não têm trânsito fácil na sociedade propostas autoritárias, de qualquer colorido ideológico, intelectuais e políticos lançaram um manifesto em defesa da democracia, no histórico Largo de São Francisco, no centro velho de São Paulo, à frente da Faculdade de Direito da USP. O local é palco tradicional de movimentos em defesa das liberdades.
Entre os responsáveis pelo documento, aberto à adesão pública, um ex-fundador do PT, Hélio Bicudo, D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, e muitos outros nomes que, por ironia, costumavam estar ao lado de Lula no tempo da resistência à ditadura militar. Hoje, lideram, em bom momento, este grito de advertência ao ex-aliado e companheirada.
Também é bem-vinda a postura assumida pela candidata Dilma Rousseff, ao visitar Porto Alegre, na sexta-feira passada, quando propôs “tolerância” e fez profissão de fé na liberdade de expressão. De quem foi vítima da violência do Estado não se poderia esperar outra coisa: “Pode criticar, prefiro múltiplas vozes críticas, a mais aguda, mais clara e explícita, que o silêncio. Vivi o silêncio da ditadura, que cala as pessoas.” No debate de domingo, na Record, repetiu a postura. A candidata foi coerente com a adesão formal à Declaração de Chapultepec, feita no último congresso anual da Associação Nacional dos Jornais (ANJ). A Declaração é uma carta de princípios em defesa da liberdade de expressão, aprovada em 1994 pela imprensa das Américas, em conferência realizada na cidade mexicana que deu o nome ao documento. Não há motivo para se desconfiar da sinceridade da candidata.
O seu desafio será conter frações do PT que contam, como já disse o “companheiro de armas” José Dirceu, com o governo Dilma para poder executar o “projeto político” do partido. Sem Lula e sua capacidade de conter projetos delirantes de bolsões radicais do PT, há quem, na vitória da candidata, se considere com terreno livre para seguir em frente com estes projetos. No que se refere à liberdade de expressão e imprensa, há um arsenal de ideias autoritárias que poderão ser encaminhadas a um Congresso em que a bancada do PT e aliados deverão ter ampliado o espaço.
Como se tratam de agressões à Constituição, ocorreriam longas e desgastantes batalhas judiciais, com indesejável elevação da temperatura política. E como nem todos os aliados do governo Dilma embarcariam numa aventura de tinturas chavistas, conter uma tentativa de escalada radical pela via legislativa também será um fator de estabilidade para a próxima administração

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