terça-feira, setembro 14, 2010
Erenice controla direção dos Correios
Erenice controla direção dos Correios
Ministra pressionou para que comando da estatal fosse trocado e indicou o presidente e o diretor de Operações
Gerson Camarotti, Martha Beck e Evandro Éboli – O Globo
BRASÍLIA. A forte atuação da chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, nos últimos meses, para mudar o comando dos Correios — o que ocorreu no final de julho — virou motivo de grande desconforto e preocupação no Palácio do Planalto. Já há o reconhecimento de que Erenice operou, não só para efetuar mudanças na estatal, como, na prática, passou a controlar os Correios.
A empresa está subordinada ao ministro das Comunicações, José Artur Filardi. No entanto, hoje Erenice tem ascendência direta sobre os dois principais cargos da estatal: o presidente David José de Matos e o diretor de Operações, o coronel Artur Rodrigues Silva.
Os dois são indicações pessoais da ministra.
Ontem, interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentavam que, na ocasião, o núcleo do Palácio do Planalto se surpreendeu com a forma decisiva com que Erenice agiu para realizar as substituições na empresa.
Lula aceitou recomendações
filho de Erenice praticou lobby no governo em favor de uma prestadora de serviços dos Correios, novas dúvidas surgiram ontem no Planalto — incluindo a razão que a ministra teve para agilizar as mudanças na estatal. A decisão de mudar a diretoria do órgão foi tomada na última semana de julho pelo presidente Lula, com o objetivo de estancar uma crise de gerenciamento na empresa.
Na ocasião, Lula seguiu a recomendação de Erenice. Ela apresentou um diagnóstico da crise de gestão dos Correios, que já resultava em atraso na entrega de correspondências. Um dos principais pontos do relatório apontava atraso na licitação de cerca de 1.400 franquias, cujos contratos vencem em novembro. Havia risco de um “apagão postal”, alegavase na época.
Nos bastidores, os antigos diretores dos Correios atribuíram à própria Erenice uma forte resistência para solucionar o impasse da licitação das franquias. Havia, segundo essa versão, o interesse dela e de um outro grupo do PMDB de trocar o comando da estatal — até então sob o domínio dos mineiros. Matos é ligado ao PMDB do Distrito Federal.
Ontem, assessores do próprio Planalto reconheceram que David Matos foi uma indicação pessoal de Erenice. O presidente dos Correios trabalhou na Eletronorte e, na condição de chefe de departamento da empresa, conheceu a atual ministra da Casa Civil.
Resistência contra mudanças
Para emplacar Matos, Erenice enfrentou até o ex-ministro das Comunicações e senador Hélio Costa (PMDB-MG) — candidato aliado ao governo de Minas Gerais.
Matos é próximo do deputado federal Tadeu Filippeli (PMDB-DF), de quem já foi adjunto na gestão do ex-governador Joaquim Roriz (PSC-DF).
Em setores do PT, era lembrado ontem que a ministra Erenice, que fez carreira em Brasília, desenvolveu fortes relações políticas com novos aliados no Distrito Federal, inclusive o senador Gim Argello (PTB-DF), além de Filippeli.
Os Correios informaram ontem que todos os contratos firmados com prestadores de serviços, inclusive a empresa de transporte aéreo de carga Master Top Airlines (MTA), resultam de processos de licitação transparentes e regulares.
Segundo reportagem publicada pela revista “Veja”, Israel Guerra, filho de Erenice, teria intermediado um contrato da MTA com a estatal.
Contratos de R$ 59 milhões
Por meio de nota à imprensa, os Correios afirmaram que têm com a MTA um total de R$ 59,88 milhões em contratos. De acordo com o documento, outras seis empresas de transporte de carga prestam serviços à estatal.
“A transparência dos Correios e a busca contínua pela melhoria dos serviços fazem com que a ECT seja hoje a maior empresa de logística da América do Sul, com a distribuição diária de 34 milhões de objetos em todo o Brasil”, diz a nota.
Em entrevista ao GLOBO, o presidente dos Correios, David José de Matos, informou que um dos contratos da MTA com a estatal — no valor de R$ 19,6 milhões — foi feito de forma emergencial para evitar problemas na linha BrasíliaGuarulhos (SP)-Manaus. Os outros três contratos da MTA foram feitos por meio de pregão eletrônico.
Matos explicou que a TAF, que operava a linha entre Brasília e Manaus, apresentou problemas que levaram os Correios a rescindir o contrato, em no início de 2010. Segundo Matos, para tentar solucionar o problema rapidamente, a ECT fez uma cotação entre empresas para operar a linha.
A MTA, então, venceu a disputa, mas como seu preço era 60% acima do valor de referência pedido pela estatal, a operação foi cancelada.
Os Correios, então, fizeram nova busca por empresas para fazer um contrato emergencial. Mas o formato foi diferente. A empresa não mais iria operar uma linha, mas cederia espaço em aeronaves para transportar a carga dos Correios.
Contrato acaba em novembro
Segundo Matos, só a MTA se candidatou e fechou contrato para prestar o serviço por 180 dias. Esse contrato acaba em novembro deste ano e serve para manter o ser viço de transporte em funcionamento, até a realização de nova concorrência.
Esse é o contrato no centro da polêmica, no qual teria havido a intermediação de Israel para privilegiar a MTA. Matos afirmou que jamais recebeu Israel na empresa e que o conhece desde criança, por ser amigo há mais de trinta anos de Erenice.
— Não vejo Israel há séculos — disse Matos.
Para substituir o contrato temporário, os Correios fizeram nova licitação. A concorrência foi feita em julho e vencida pela empresa Rio, que já deveria estar em operação.
Mas a MTA obteve na Justiça uma liminar para exigir que os Correios cumpram o contrato até o fim.
— O pregão que a Rio ganhou era para substituir o precário emergencial com a MTA.
Fizemos o edital para substituir o contrato antes de novembro.
Nós só não fizemos porque a MTA entrou na Justiça.
Se tivéssemos aqui para ajudar a MTA não teríamos feito nada disso — disse Matos.
A MTA ocupa hoje o terceiro lugar entre as empresas de transporte de carga que prestam ser viços aos Correios.
A primeira é a Rio e a segunda, a Total.
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