quarta-feira, outubro 13, 2010
Chile celebra o milagre do Atacama
Chile celebra o milagre do Atacama
Começa subida dos mineiros presos há 69 dias nas profundezas
COPIAPÓ, Chile – O Globo
Foram horas com a respiração suspensa por causa de atrasos consecutivos, mas exatamente às 23h55m os chilenos — e milhões de pessoas mundo afora grudadas na TV — começaram a contagem regressiva à espera do som da sirene que indicaria que o primeiro dos 33 mineiros presos desde o dia 5 de agosto havia sido resgatado com êxito das profundidades da mina San José. Exatamente 16 minutos depois que a cápsula Fenix sumiu da vista da câmera instalada nas profundezas, iniciando sua lenta subida rumo à superfície, o mineiro Florencio Ávalos reviu o mundo que deixara para trás 69 dias antes, quando teve início a epopeia que emocionou o planeta.
Sua chegada foi comemorada por mais de 3.500 pessoas — entre resgatistas, parentes, autoridades e jornalistas — amontoadas do lado de fora aguardando ansiosas o desfecho do drama, inicialmente marcado para começar às 18h, mas sucessivamente atrasado por testes e problemas técnicos. Os abraços emocionados do filho menor e da mulher foram os primeiros que Florencio — de óculos escuros para não sofrer com a luz da superfície e em aparente bom estado de saúde— recebeu ao sair da cápsula, às 0h11m. Em seguida, o mineiro recebeu um forte abraço do presidente Sebastián Piñera. À 1h09m saiu o segundo resgatado, Mario Sepúlveda, após 14 minutos de subida.
— Quando o Chile se une, somos capazes de grandes coisas — declarou Piñera minutos após a saída do primeiro mineiro. — Quero convidar a todos os chilenos que tenham esse compromisso não apenas nas adversidades.
A operação teve início exatamente às 23h19m, quando o resgatista Manuel González começou a descida na cápsula, chegando 17 minutos depois ao ponto de salvamento a 622 metros de profundidade, onde foi saudado efusivamente pelos mineiros. Na superfície, a multidão esperançosa cantava o Hino Nacional, com um risonho Piñera demonstrando confiança no sucesso da operação.
Após passar o tempo recorde de 69 dias aprisionados a 700 metros, os mineiros teriam de aguardar, no entanto, entre 24 e 48 horas após o início do resgate antes que todos os 33 se reúnam na superfície, transformando a operação na maior do tipo já realizada a essa profundidade — com direito a inscrição no “Livro Guinness de Recordes”. No primeiro teste realizado com o dispositivo vazio, a porta da cápsula foi danificada, o que atrasou ainda mais o resgate.
— É como esperar um parto — comparava a primeira-dama chilena, Cecilia Morel.
Para cada um dos trabalhadores que saírem, o procedimento será o mesmo.
— Cada vez que a mina estiver em ‘processo de parto’, vai haver um alarme como o de ambulâncias, o que significa que nada de ruim está acontecendo. É para alertar a equipe médica, e todos terão de estar a postos, para tornar o processo o mais rápido possível — explicou o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.
Em Copiapó e em vilarejos nos arredores da mina, moradores se preparavam para receber os mineiros com festas. Na cidade, ruas foram fechadas e telões, instalados em praças para que a população pudesse acompanhar o resgate.
Após Ávalos e Sepúlveda, líder sindical dos mineiros, eram esperados Juan Illanes e Carlos Mamani, o único boliviano do grupo. Eles foram escolhidos por serem considerados mais hábeis, e abririam o caminho para o resgate de trabalhadores cuja saúde está mais debilitada.
Todos seriam recebidos pessoalmente pelo presidente Sebastián Piñera, que chegou à mina à tarde a bordo de um helicóptero e afirmou que só deixaria o Acampamento Esperanza quando os 33 já estivessem na superfície. Ele comparou o resgate a um milagre.
— Será uma noite que não vamos esquecer jamais — disse Piñera. — Os mineiros não serão os mesmos, nem o Chile.
As palavras do presidente foram ouvidas pelos trabalhadores presos, que acompanhavam os preparativos do lado externo por meio de imagens em um telão. Em entrevista ao jornal inglês “Guardian”, Luis Urzúa, escalado para ser o último a sair, disse que a ansiedade era grande.
— Não dormi nada na noite passada. Não consegui — confessou.
A ansiedade se deve, em parte, ao que teriam de enfrentar para sair das trevas. Os mineiros já declararam que precisariam de coragem antes de se submeter à última prova claustrofóbica: a subida de 622 metros dentro da cápsula, na qual podem apenas mexer os braços.
Para a madrugada de hoje estava prevista a chegada do presidente boliviano, Evo Morales, que espera encontrar Carlos Mamani e a família do trabalhador para levá-los de volta à Bolívia, caso os médicos permitam. Morales prometeu uma nova vida ao mineiro.
— Temos tudo assegurado, uma fonte de trabalho e um terreno para que construa sua casa.
Todos os trabalhadores já têm garantidos uma viagem para as ilhas gregas e um cheque de US$ 10 mil doados por um magnata da siderurgia.
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