quarta-feira, outubro 13, 2010

Truculência versus dispersão

Truculência versus dispersão
Margrit Schmidt - JORNAL DE BRASÍLIA - 13/10/10
O destempero da candidata no debate e no programa eleitoral do dia seguinte foi explicado das mais variadas formas por fontes da campanha petista: conselho de Lula para estancar a queda nas intenções de votos; motivar a militância, deprimida depois da vitória, que virou derrota; dedo de Ciro Gomes e de Zé Dirceu, que já estariam mandando mais do que João Santana, o marqueteiro, mas ainda menos do que Lula, o verdadeiro e único, e assim por diante. Explicações vãs. Apenas tentativas de esconder o rabo do animal, cuja ponta já aparece na barra da calça. Esgotados os outros truques, menos virulentos, a campanha de Dilma agora vai aliar à delinquência eleitoral, usada no primeiro turno, à truculência pura e simples. Quando não for a Dilma truculenta, será o Lula supermegatruculento a ameaçar os adversários, tentando imprimir um contexto de instabilidade e terror.
As razões para uma ação tática tão drástica e que provoca tantas controvérsias e tantas tergiversações, como gostaria a candidata Dilma, podem ser encontradas na última pesquisa Datafolha e outros levantamentos das campanhas regionais não publicados. Dilma está na frente sete pontos em relação a José Serra, então o que explica a fúria? A primeira pesquisa Datafolha, apesar da dianteira, foi uma ducha fria nos aliados da petista. Mostrou um quadro em que, embora esteja na frente numericamente, Dilma aparece atrás do tucano José Serra em todas as regiões do País, com exceção do Nordeste, onde seu melhor desempenho migrou das grandes cidades para os grotões dependentes do Programa Bolsa Família.
É possível afirmar que, se a eleição fosse hoje, Dilma já perderia. Com 30% do eleitorado nacional, o Nordeste, na verdade, é uma tremenda incógnita para a candidata petista. No Nordeste estão, por exemplo, os maiores índices de abstenção do País e, no segundo turno, Dilma não contará com o rolo compressor das máquinas estaduais, do voto casado com o governador, os candidatos a senador, deputado federal e estadual.
Basta Serra ampliar a sua diferença em São Paulo e Minas, onde já está na frente, para liquidar a fatura. Os votos do Nordeste, mesmo considerados em sua maioria pró-Dilma, não garantem a vitória da petista. Outra informação que as pesquisa trazem, favoráveis ao tucano nesse primeiro embate do primeiro turno, é que no primeiro turno presidencial, com exceção de Minas, onde o governador ganhou, o candidato a presidente daquela base também saiu vitorioso.
Como em Minas Serra já aparece na frente, se essa tendência se repetir, Dilma está fadada a se segurar apenas no Rio dentre os três maiores colégios eleitorais do País. Mas, pelo Datafolha, ela também já perde no Rio. O cenário desfavorável à candidata oficial, nesse início, explica a violência com a qual o PT pretende virar o jogo psicológico da campanha. Lance arriscado.
Do lado tucano, o cenário favorável não pode ser justificativa para superestimar as possibilidades e fazer uma coisa que as aves bicudas gostam muito: besteira. O Estadão informa que o comando do PSDB "terceirizou" parte da mobilização da campanha do candidato José Serra para puxadores de voto do partido.
A partir dessa semana, o senador eleito por Minas, Aécio Neves, e os governadores eleitos
A campanha de Dilma vai aliar a delinquência eleitoral do primeiro turno à truculência pura e simples.
Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR) viajarão pelo País em articulações políticas e contato com a militância em nome do presidenciável. De quem foi a ideia infeliz de dispersar forças duramente acumuladas no primeiro turno não se sabe, mas sabe-se, desde já, que se levada adiante será um monumental desastre.

Aécio Neves deve viajar dentro de Minas Gerais. Geraldo Alckmin, dentro de São Paulo. Beto Richa dentro do Paraná. Devem aparecer na TV, no horário eleitoral, dentro das suas bases. É lá que estão os quatro milhões de votos que José Serra precisa para vencer a eleição, de acordo com as pesquisas. É nelas que a oposição deve se basear, para evitar surpresas e salto alto.
Que negócio é esse de tirar Aécio Neves de Minas? O compromisso dele, que não foi cumprido no primeiro turno, é conseguir 3 milhões de votos a mais para Serra. Em Minas. Onde mais Aécio Neves vai conseguir tanto voto? Nas areias de Ipanema? Nos bares de Brasília? Da mesma forma, Alckmin tem a missão de ampliar a votação de Serra em São Paulo. Não compensa voar para o galho alheio.

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