sábado, outubro 09, 2010

Favorável?

Favorável?
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa – Blog do Noblat
Quando começo a ler sobre aborto – o tema candente nestas eleições presidenciais que se realizam em um país que só tem esse problema... – e leio a palavra favorável, paro de ler.
Favorável como? Em que sentido? No sentido de favorecer é que não é. Não há ninguém que responda: sou favorável ao aborto. “É um excelente método de planejamento familiar!”.
Favorável como em “de preferência”? Mas o que é que estão pensando de nós, mulheres?
O aborto é uma agressão à mulher, ao seu espírito e ao seu corpo. Não tem sentido essa discussão entre os candidatos: você é favorável, não você é que é!
Ou bem estamos completamente narcotizados, ou ficamos imbecis, sei lá eu o que se passa, mas chega de blábláblá e de hipocrisia.
Ninguém em sã consciência, nem dona Dilma, nem o ex-governador Serra, é um monstro que adotaria o aborto como panaceia para os problemas da falta de planejamento familiar que é uma de nossas chagas.
Acredito que ambos tenham ideias definidas sobre o assunto, mas por conta dos marqueteiros que só pensam em mais votos, o debate ficou restrito a um você disse, você falou, você está mentindo, você finge.
E o que poderia ser, finalmente, um debate proveitoso sobre tema tão importante para o Brasil, está nesse nível de comadres.
Pior: estamos vendo um festival de denominação ecumênica que é um espanto! De repente, a grande maioria dos brasileiros, que nunca foi fiel a uma só religião, está se comportando com a mais fanática intolerância.
Já houve um papa que disse de um nosso presidente que ele não era católico, era caótico. Se não me engano foi Bento XVI em relação ao Lula. Pois isso se aplica à grande maioria dos brasileiros.
Agora, para escolher em quem vão votar para Presidente da República do Brasil, os brasileiros estão se dando ao luxo de dizer que seguem fielmente o que lhes diz o seu vigário, ou pastor, ou rabino, ou guru, ou pagé, a respeito de aborto. Pelo menos é no que acreditam os marqueteiros, que estão fazendo a cabeça dos candidatos.
A oposição lembra que dona Dilma disse – e disse mesmo, está gravado em vídeo e corre solto na internet – que apesar de achar que nenhuma mulher gostaria de abortar, ela pensa que o aborto deve ser descriminalizado. Opinião absolutamente sensata mas que, agora, por força das circunstâncias, ela vem negando.
O candidato Serra, quando ministro da Saúde, determinou que mulheres violentadas, estupradas, que engravidassem e não quisessem levar essa gravidez a termo, poderiam interromper a gestação. E também que fosse oferecido a adolescentes e mulheres o acesso imediato a cuidados de saúde, à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez indesejada.
Santo bom senso! Dos dois hoje candidatos.
Pena que o medo de perder votos os faça apelar para papelões como dona Dilma pregando contra o aborto numa capela em Belo Horizonte, e José Serra, o católico praticante, anunciando que irá peregrinar em Aparecida no dia de nossa padroeira.
Em bom português: estão preferindo fingir o que não são a confirmar suas antigas posições sensatas – o aborto é o último passo em situações tenebrosas para uma mulher. O último, o mais dolorido, o mais cruel, mas às vezes, necessário.
Será que ainda os veremos com um terço nas mãos?

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