quarta-feira, setembro 29, 2010

Assinou, não leu...

Assinou, não leu...
Um artigo polêmico às vésperas da eleição e vários filmes melhores do que 'Lula' para disputar o Oscar
Artur Xexéo – O Globo
Um ano é tempo suficiente para mudar o jogo da perspectiva de uma eleição. Em setembro do ano passado, quando foi discutida, votada, aprovada e sancionada pelo presidente da República a Lei 12.034, conhecida como minirreforma eleitoral, o país parou para discutir a propaganda política na internet. Acreditavase que a rede seria a principal arma de captação de eleitores nas eleições de agora, e políticos queriam que novas regras não prejudicassem seu desempenho na corrida pelo voto. A uma semana de o Brasil voltar às urnas, já pode ser dito que a internet não fez diferença no quadro eleitoral de 2010, a não ser como principal difusor de piadas eleitoreiras.
Em compensação, um artiguinho, com menos de duas linhas, que não foi debatido, não provocou polêmica, que parecia inofensivo, transformou-se, às vésperas da decisão, na principal questão das eleições de outubro.
O Artigo 91-A completa amanhã um ano de vida. Foi um ano de anonimato. Mas, se ele continuar existindo por mais uma semana, pode ser o responsável por uma abstenção recorde e fator de uma possível reviravolta nos resultados que as pesquisas vêm apontando até agora. Diz o 91-A: “No momento da votação, além da exibição do respectivo título, o eleitor deverá apresentar documento de identificação com fotografia.” Ainda tem um parágrafo único (“Fica vedado portar aparelho de telefonia celular, máquinas fotográficas e filmadoras, dentro da cabina de votação”), mas esse não tem a menor importância.
O partido do governo já percebeu que a população não está inteiramente informada da regra, que muito provavelmente grande parte do eleitorado não possui dois documentos e que as camadas mais pobres, as que dão seu voto maciçamente para Dilma, serão as que mais vão se surpreender com a lei na hora da votação. Por isso mesmo, o PT, justamente o partido do presidente da República, aquele que sancionou a Lei 12.034, a do agora polêmico Artigo 91-A, pede a inconstitucionalidade da medida. Em contrapartida, o DEM, o mais barulhento dos partidos da oposição, aquele que na opinião do presidente deveria ser extirpado, contesta a ação e exige que fique tudo como está, torcendo para o circo pegar fogo. Da confusão, tiram-se duas conclusões: primeira, em termos de eleição, a internet não está com essa bola toda; segunda, o presidente Lula continua assinando documentos sem ler.
Fabio Barreto, o diretor de “Lula, o filho do Brasil”, nunca escondeu que sua intenção era fazer um filme de mercado. O cineasta queria contar uma história que sensibilizasse a plateia e ponto final. Não fez um filme para ganhar o Oscar, por exemplo. Embora seus produtores contassem com um público acima de qualquer bilheteria já registrada no Brasil, “Lula” não foi muito longe. Mas também não se pode dizer que tenha sido malsucedido.
Terminou sua carreira no país com 832 mil espectadores, um número respeitável para nosso mercado. Só fica atrás dos filmes espíritas deste ano (“Chico Xavier” e “Nosso Lar”), que ultrapassaram a barreira dos três milhões de espectadores, e de “O bem amado”, que está saindo de cena com 937 mil espectadores. É por isso que a indicação do Ministério da Cultura para que “Lula” concorra a uma vaga no Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro é surpreendente. A justificativa tem sido sempre — e desta vez não foi diferente — de que a comissão constituída pelo ministério não seleciona o melhor filme do ano, mas, sim, aquele que tem mais chances de “agradar à Academia”. A última vez em que o Brasil emplacou um candidato ao Oscar foi em 1998, com “Central do Brasil”. Desde então, o Ministério da Cultura tem provado que não tem a menor ideia do que seja o tal gosto da Academia. Já está mais do que na hora de o critério de seleção ser o gosto da comissão julgadora. Escolhe-se o melhor filme do ano, e seja o que Deus quiser. Não são poucos os filmes que, neste 2010, poderiam ter a chance de chegar lá: “As melhores coisas do mundo”, “A suprema felicidade”, “Bróder”, “5xFavela”, “É proibido fumar”, “Os famosos e os duendes da morte”... Se “Lula” conseguir uma vaga, vai ser a maior zebra da História do cinema brasileiro.
Em sua estreia, “Por um fio”, a versão brasileira de “Os descabelados”, cometeu um pecado mortal para um reality show: o som foi um desastre. Uma boa captação de som é fundamental para um programa que vive do que dizem, na intimidade, ou, no caso em questão, durante sua atividade profissional, os participantes.
No primeiro episódio de “Por um fio” mal se entendia o que diziam os cabeleireiros.
O estúdio do programa, onde concorrentes e jurados se encontravam, emitia um eco desagradável que também tornava o som impossível mesmo fora da provas de competição.
Faltou ainda um bordão para Juliana Paes. Esses programas “pegam” quando o espectador começa a repetir a frase sempre dita por quem comanda o show, como o “Você está despedido!”, de Donald Trump em “O aprendiz”, ou o “Auf Wiedersehen” , de Heidi Klum em “Project runway”. Juliana está à vontade, mas o roteiro do programa não lhe dá chance de oferecer muito à dinâmica do concurso. É um certo desperdício conseguir Juliana Paes como apresentadora e não dar muita coisa para ela fazer. Foi só um primeiro episódio, mas, como a primeira temporada já foi toda gravada, vai ser difícil consertar. Minha geração de jornalistas sempre teve o sonho de entrevistar Geraldo Vandré. Pode até ser que o compositor de “Caminhando” não tenha dito coisa com coisa a Geneton Moraes Neto. Mas a entrevista, enfim, foi feita.
Mais um ponto para Geneton.
E-mail: axexeo@oglobo.com.br

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