quarta-feira, setembro 29, 2010
O silêncio dos imponentes
O silêncio dos imponentes
JORGE BASTOS MORENO – O Globo
Líder do governo no Senado, Fernando Henrique Cardoso, depois de uma reunião do comando do PMDB, reconheceu: "O silêncio de Ulysses Guimarães é mais pesado do que a pata de um elefante".
Achei a frase muito interessante e a repeti ao próprio presidente do PMDB. O ponto fraco de Ulysses era a vaidade. Conseguir tocá-la era uma espécie de mágica que abria aquela mente extremamente fechada para qualquer inconfidência. Não deu outra. Ele nunca contava suas conversas com Sarney, mas, como gratidão pelo ego massageado, abriu o coração:
— Já que o Fernando Henrique te disse isso, vou contar um exemplo disso.
E foi aí que vi na prática a força da autoridade de um político. Contou-me ele que, numa conversa com Sarney, este lhe consultou:
— Ulysses, estou pensando em convidar o Airton Soares para ser ministro do Trabalho, com a saída do Pazzianotto. O que você acha?
Ulysses gostava muito do Airton, mas ali, naquele instante, sentiu que Sarney estava querendo minar sua liderança, já que o deputado representava o grupo ligado à deputada Roseana Sarney.
— Quando o Sarney me consultou, na verdade, ele queria me constranger: como presidente do PMDB, eu não poderia vetar a indicação de um integrante do meu partido. O que eu fiz? Fixei meus olhos nos olhos dele. Um silêncio constrangedor. Só eu e ele. E eu com os olhos nos olhos dele. Fiquei assim até ele abaixar a cabeça. Resultado: vetei o Airton com o meu olhar.
Quem ler o "Decálogo do Estadista", do próprio autor da façanha, vai encontrar interessantes lições. Resumo as principais:
Coragem — O medo tem cheiro. Os cavalos e cachorros sentem-no, por isso derrubam ou mordem os medrosos. Mesmo longe, chega ao povo o cheiro de seus líderes.
Talento — Não há estadista burro. Há de ser talentoso, embora possa não ter cultura. Como o samba, talento não se aprende na academia.
Sorte — Azarado não pode ser estadista. Trotski foi caçar pato e pegou pneumonia. Stalin tomou-lhe o lugar. Tem gente que cai de costas e quebra o nariz.
Paciência — A impaciência é a outra face da estupidez. Saber escutar é a santa paciência do político.
Não servirás a dois senhores — É incompatível a simultaneidade do político e médico, advogado e empresário. Agamenon recomendava: "Político não compra, não vende".
Autoridade — A autoridade é pessoal. Homem iluminado pela autoridade é visto por todos, ouvido por todos, onde está é a atração. Pouca gente tratava Getúlio de "tu". Creio que só Oswaldo Aranha, Flores da Cunha e João Neves da Fontoura. Autoridade é o poder de comandar com o olhar. A autoridade promove a pessoa a personalidade.
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