quarta-feira, setembro 29, 2010

Mais uma obra

Nas Entrelinhas
Mais uma obra
Alon Feuerwerker – Correio Braziliense
Foi o presidente da República quem introduziu a polêmica sobre liberdade de imprensa neste desfecho de primeiro turno. Luiz Inácio Lula da Silva explodiu contra a mídia num comício em Campinas (SP).Depois aparentemente acalmou-se e procurou acalmar os companheiros, noutro comício em Porto Alegre (RS).
A discussão sobre a liberdade de imprensa matou aquela mais complicada, sobre corrupção na Casa Civil.Mas Lula teve algum azar (coisa rara). Avaliou mal a reação que viria. E em seguida ao desconforto causado pelo discurso agressivo contra a mídia veio a censura já derrubada que a Justiça de Tocantins impôs à divulgação das acusações contra o governador do estado, candidato à reeleição apoiado pelo PT.
Houve também uma manifestação de entidades favoráveis às teses do Lula de Campinas, e outra de gente que rechaçou essa linha presidencial. Aconteceu ainda um debate no Clube Militar, com a participação de jornalistas críticos do governo. Agora vem a público, a favor de Lula,um manifesto de advogados.
Nem consigo me lembrar da última vez que assisti a tamanha movimentação na assim chamada sociedade civil, expressão bem usada até a queda da ditadura e depois repaginada para atuar no impeachment de Fernando Collor. A palavra civil dava antigamente certo glamour à expressão, pela oposição semântica a militar.
Ainda que, conceitualmente, o alho nada tenha a ver com o bugalho. Como se notou no debate do Clube Militar.
Coma ascensão e a hegemonia do petismo, o termo sociedade civil caiu em desuso, substituído por movimentos sociais.
Pode-se dizer que os movimentos sociais são a sociedade civil do PT. Uma acusação feita sistematicamente ao partido é que ele gostaria de reduzir a segunda à primeira.
Nota-se um certo cansaço da sociedade civil com os movimentos sociais, que justa ou injustamente vão levando o rótulo de movimentos estatais. E, como o curso do rio não pode ser simplesmente interrompido, a multiplicidade característica de uma formação complexa como a brasileira encontra novos caminhos, novas formas de expressão.
Eis mais uma realização do governo Lula. Conseguiu, à custa de muita saliva, muita fé na luta política, muita agressividade verbal e muita exibição de poder (e de disposição de exercer o poder), reabilitar a expressão sociedade civil.
Em boa medida contra ele, Lula, o que é um fenômeno novo.
Por muito tempo, criticar o líder do PTera a senha para o sujeito ser apontado como elitista, preconceituoso, inimigo dos pobres e outras coisinhas mais.
A turma mais progressista preferia não se expor.
Esse tempo acabou.
Boxeando Tal como Rocky, o lutador, o Datafolha reagiu na reta final do primeiro turno e foi pioneiro ao apontar vazamento nas intenções de voto da candidata do PT,Dilma Rousseff.
Se a tendência for mesmo essa, especialmente se houver segundo turno, a corrida particular entre as empresas que fazem pesquisas eleitorais terá registrado nesta etapa um empate técnico.
Recapitulando. O Datafolha vinha de dois knockdowns (não confundir com knockout, o nocaute). Chegou atrasado à constatação de que Dilma tinha empatado com José Serra (PSDB). E chegou também com atraso à verificação de que a petista tinha disparado à frente.
Assim como para os candidatos, a disputa entre os institutos só acabará quando terminar. Diria Abelardo Barbosa, se vivo estivesse.
Aplaudido O candidato do PSol, Plínio Sampaio, arrancou surpreendentes aplausos domingo do auditório no debate presidencial da TV Record, quando defendeu, entre outras coisas, que o Irã deve ter o direito de construir sua bomba nuclear e que os Estado Unidos são uma ditadura feroz.
Foi mesmo bastante aplaudido. O que é sintomático de um estado de espírito, que entretanto prefere ficar na moita, escondido atrás de platitudes e generalidades.
Se não houver segundo turno, terá feito falta nesta campanha presidencial uma discussão mais detalhada sobre política externa. Entre outras.

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